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O homem da praça!

Foto: Whidy Melo

Ele aparecia todos os dias na Praça da Revolução, anteriormente chamada de Praça Plácido de Castro. De altura moderada, magro, com cabelos grisalhos e postura ereta, ele caminhava de maneira lenta, porém firme. Normalmente, vestia calças jeans desgastadas, camisetas estampadas com os rostos de Jesus Cristo, Che Guevara e, ocasionalmente, dos Beatles, além de tênis desbotados, porém, limpos.


Era perceptível que não era um morador de rua. Por esse tempo, não havia a não ser um ou outro com problemas mentais nas esquinas da vida. Ele passeava pelo local e acomodava-se em um dos bancos disponíveis. Ali, permanecia observando o movimento ao redor, e ao cair da noite, se retirava discretamente, da mesma maneira que havia chegado.


Tudo isso constituía um ritual, um costume, sempre executado no mesmo horário. Seu olhar perspicaz se perdia no horizonte, enquanto o mundo corria ao seu redor. A praça, para ele, mais do que um simples local de passagem, era um refúgio, um espaço para reflexão e contemplação.


Do outro lado da praça, os funcionários intrigados de uma repartição pública da época observavam aquele homem enigmático. Aos poucos e de certa maneira, ele já se tornara parte integrante de suas vidas, como um conhecido íntimo, apesar de nunca terem tido uma conversa ou trocado saudações. Este cenário persistiu por anos.


Ao longo do tempo, sua presença silenciosa e constante ali na praça tornou-se um refúgio de conforto, em meio ao caos diário de suas rotinas. Naquela época, não existiam distrações como internet ou redes sociais. A vida era muito mais simples e tranquila; nada era urgente. No entanto, em uma quinta-feira, ele não apareceu.


Com olhares ansiosos, os funcionários da repartição vasculharam toda a praça em busca do homem, mas sem sucesso. Ele também não apareceu no dia seguinte, nem no outro, e nunca mais retornou. Foi aí que eles perceberam que a praça sem ele não era a mesma, perdeu sentido.


Sua ausência, o vazio, os entristeceu profundamente. A ausência do homem transformou a praça, que uma vez pulsava com vida, em um lugar triste. A rotina dos funcionários, antes preenchida com seu silêncio reconfortante, agora parecia vazia e sem sentido, mergulhando-os em uma melancolia que os tornou cúmplices para sempre por causa daquele desconhecido.


Não muito tempo depois, um novo homem apareceu na praça. Se dizia aposentado. Ele se vestia diariamente com um elegante terno branco de linho, adornava uma peruca preta, exibia um cordão de ouro e um relógio, e se deleitava em cortejar as jovens que se divertiam à sua custa. Entretanto, a atmosfera na repartição pública nunca mais foi a mesma.