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No Bar do Vaz, Jorge Viana diz que Geraldinho é “traidor” e se arrepende de campanha contrária a Nabor Júnior

Foto: Sérgio Vale

Na entrevista concedida ao programa “Bar do Vaz”, do ac24horas, nesta quinta-feira. 16, Jorge Viana, presidente da Apex Brasil, abordou sua trajetória política e profissional, destacando a intensidade com que sempre exerceu suas funções, desde sua passagem pela Prefeitura de Rio Branco, Governo do Acre e Senado, até sua atual gestão à frente da Agência de Promoção das Exportações Brasileira (Apex Brasil). Além disso, o petista abordou polêmicas do passado, relação com o presidente Lula e o papel que desempenha nas eleições de 2026.


Viana relembrou sua primeira viagem internacional, em 1988, para Yokohama, no Japão, quando buscava financiamento para a Floresta Estadual do Antimary. Durante essa jornada, recebeu conselhos do então executivo Eliezer Batista sobre a importância de enxergar o mundo como um todo e compreender a relevância estratégica do Acre na rota de exportações brasileiras. “Nunca deixe de ter um mapa-múndi na parede”, teria dito Batista, frase que Viana levou como mantra ao longo de sua carreira.


Durante a entrevista, o presidente da Apex enfatizou a importância da ferrovia ligando o Brasil ao Oceano Pacífico, projeto que defende há décadas. Segundo ele, a infraestrutura ferroviária permitiria reduzir em até 20 dias o tempo de transporte de cargas para a China, em comparação ao trajeto atual, que passa pelo Canal do Panamá. “Se o Brasil tiver essa ferrovia conectando o Atlântico ao Pacífico, passando pelo Mato Grosso, Rondônia e Acre, poderemos revolucionar a logística e a economia do país”, argumentou.


O petista ressaltou que, diferente das rodovias, que exigem manutenção constante, as ferrovias são mais sustentáveis e eficientes, reduzindo custos e impactos ambientais. “As estradas precisam ser refeitas a cada 20 anos, mas a ferrovia tem longevidade e maior capacidade de transporte”, destacou.


Ao falar sobre a Apex, Viana explicou que a agência foi criada em 2003, durante o governo Lula, para promover empresas e produtos brasileiros no mercado internacional. “Participamos de cerca de mil eventos por ano, promovendo empresas de 52 setores da economia. Nós fizemos aqui no Acre 11 eventos nestes dois anos, levando esse pessoal pro mundo todo”, afirmou.


Segundo ele, a Apex teve papel fundamental no crescimento das exportações brasileiras, que atingiram a marca de US$ 337 bilhões em 2023, com um saldo positivo de US$ 98,8 bilhões na balança comercial. “No início do governo Lula, exportávamos muito pouco. Hoje, esse volume é o que garante nossas reservas internacionais e estabilidade econômica”, pontuou.


Jorge Viana defendeu um modelo econômico que aproveite a riqueza da Amazônia sem comprometer o meio ambiente. Para ele, a região deveria ser a mais próspera do mundo, dada sua biodiversidade e abundância de recursos naturais. No entanto, lamentou os baixos índices de desenvolvimento humano (IDH) na Amazônia. “Temos que aprender a utilizar nossas riquezas de forma sustentável. O que Chico Mendes defendia há 30 anos hoje é consenso global”, refletiu.


Foto: Sérgio Vale

Ele também ressaltou sua proximidade com setores do agronegócio e a importância de uma abordagem equilibrada, que una preservação ambiental e desenvolvimento econômico. “Hoje, quem trabalha com exportação de carne, grãos e madeira entende a necessidade de sustentabilidade. Precisamos transformar nossa riqueza natural em prosperidade para a população”, observou.


O presidente da Apex-Brasil, Jorge Viana, celebrou os avanços das exportações no Acre e defendeu um modelo de desenvolvimento sustentável para a Amazônia. Segundo ele, o estado registrou um crescimento expressivo de 90% nas exportações em 2024, alcançando US$ 82 milhões, um marco histórico para a região. “Quando assumi o governo do Acre, em 1999, o estado nunca havia exportado um milhão de dólares. Naquele ano, exportamos US$ 1,3 milhão. Hoje, fico surpreso com os números. Mesmo com a queda nos preços das commodities, o Acre foi o estado que mais cresceu em exportações no Brasil no ano passado”, ressaltou.


Viana rebateu críticas que o associam a uma postura contrária ao agronegócio, afirmando que é possível equilibrar produção e sustentabilidade. “O maior aliado de quem planta e cria é o meio ambiente. Sem água, chuva e clima equilibrado, não há produção. A crise climática está impactando diretamente os preços de produtos como carne e café. Não podemos ser radicais contra a produção, mas também não podemos ignorar a necessidade de cuidar do meio ambiente”, enfatizou.


Foto: Sérgio Vale

Ele também lembrou iniciativas de sua gestão no governo do Acre, como a construção de silos para armazenar grãos, a mecanização da agricultura e o zoneamento ecológico-econômico, que pacificou conflitos fundiários na região. “Identificamos 380 mil hectares com vocação agrícola para produção de milho, soja, café ou pastagem de alta qualidade. Fizemos isso com planejamento e diálogo, evitando invasões e conflitos”, pontuou JV.


Para Viana, o crescimento sustentável das exportações do Acre depende de políticas públicas que pasam pelas parcerias entre governos, setor produtivo e atração de investidores. “Uma empresa que exporta paga melhor seus funcionários e fortalece a economia local. Nosso trabalho na Apex-Brasil é atrair mais investimentos para regiões como a Amazônia e o Nordeste, que têm potencial para exportar muito mais”, afirmou.


Viana começou mencionando o crescimento da Dom Porquito, empresa criada durante o governo Tião Viana, que inicialmente movimentava R$ 7 milhões por ano e, atualmente, chega a cifras próximas de R$ 100 milhões anuais. Ele atribui esse avanço à abertura de mercados internacionais e à promoção de produtos acreanos por meio de ações da ApexBrasil. “Abrimos mais de 300 mercados internacionais. Levamos empresas do Acre e do Brasil inteiro para o mundo, como o Paulo, da Dom Porquito, que hoje não dá conta de atender os pedidos”, afirmou.


O petista defendeu o modelo integrado adotado por empresas como a Dom Porquito e a Acreaves também foi destacado como um mecanismo eficiente para o fortalecimento da economia rural no estado. “Eles abatem 15 mil frangos por dia. A Dom Porquito, que abatia 300 suínos diariamente, hoje está em 500, sendo 100 produzidos no Acre e 400 trazidos de outros estados, como Mato Grosso. E a ideia é dobrar ou até triplicar esse número, gerando mais empregos e renda”, detalhou.


Outro ponto mencionado foi o papel da infraestrutura para fomentar a economia local. Viana anunciou que, durante a próxima visita do presidente Lula ao Acre, serão apresentados novos investimentos para a BR-364 e projetos de ampliação de cadeias produtivas, como a da Dom Porquito e da Cooperacre. “Estamos trabalhando para ampliar essas cadeias produtivas e gerar ainda mais empregos. Esse sistema funciona no mundo inteiro, seja para frangos, suínos ou outros produtos”, acrescentou.


No bate-papo, marcado por reflexões e mea-culpas, ele abordou erros estratégicos, analisou o desempenho do ex-presidente Lula no Acre e destacou a importância de uma política mais conciliadora. Viana relembrou momentos de sua carreira, como o apoio político a figuras que, segundo ele, não corresponderam às expectativas, a exemplo do ex-senador Geraldinho. “Não acho legal o que a gente fez. Se pudesse, eu diria, não vou fazer de novo. Fizemos cagada. Apoiar, por exemplo, um Geraldinho em troca do Nabor Júnior. Sim. A gente tem que reconhecer que é pra não errar de novo. Eu fui lá depois, fiz uma entrevista com ele [Nabor Júnior] quando eu era senador, pedi desculpas. Quer dizer, eu vou falar o português, claro, porque eu fiz merda. Quem que não faz? Agora, o ruim é quando a gente faz e não reconhece. Eu acho que hoje em dia, tem um ambiente muito ruim. Eu não tô aqui querendo polemizar, mas não tem jeito aqui no teu programa. O Flaviano, um dia, estava lá num outro programa e perguntaram pra ele: “ e o Marcio Bittar?”, ‘um traidor’, [recordou a resposta de Flaviano]. Geraldinho um traidor, enganou todo mundo, e a gente trocou um cara como o Nabor Júnior com a história que tem no Acre por ele”, afirmou.


O ex-governador também fez uma avaliação da relação entre o PT e o eleitorado acreano. Segundo ele, Lula só venceu no Acre em 2002, durante sua própria campanha à reeleição ao governo. “O Lula tem dificuldade de penetração aqui porque o Acre é uma região conservadora. Respeito isso. Minha família é conservadora, eu cresci nesse ambiente. Mas o problema maior foi a polarização que se criou depois, algo que precisa acabar. Essa cultura de ódio não serve para ninguém”, pontuou.


Viana foi crítico à postura de extremismo adotada nos últimos anos, tanto pela esquerda quanto pela direita. Ele citou episódios envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e afirmou que, apesar das divergências, o diálogo deve prevalecer. “Bolsonaro veio ao Acre e disse que ia metralhar petistas. Isso é inadmissível. Ele foi presidente e deveria ter tido mais responsabilidade. Eu agradeço e reconheço as contribuições de outros líderes, como Fernando Henrique e o próprio Lula, mas não vejo razão para alimentar esse clima de rancor”, disse.


Jorge Viana destacou o papel da imprensa crítica durante sua gestão no governo do Acre. Ele lembrou do trabalho do jornalista Narciso Mendes, que, segundo ele, foi fundamental para que erros fossem corrigidos. “Quando você sabe que está sendo fiscalizado, isso te obriga a redobrar os cuidados. Narciso, com todas as críticas que fazia, me ajudou a errar menos e acertar mais”, afirmou.


Viana rebateu boatos que marcaram a trajetória política dele e do ex-governador Sebastião Tião Viana, afirmando que as redes sociais intensificam campanhas de desinformação e prejudicam as reputações. “Falaram que o Tião era dono da Uninorte. Ele nunca foi. Que eu era dono de fazendas. Eu sou um plantador de café, mas não tenho fazenda nenhuma. Esse tipo de política não é bom pra ninguém”, relatou.


Foto: Sérgio Vale

Para o ex-governador, o tempo tem sido um aliado para revelar a verdade, e ele destacou a importância de promover uma convivência saudável entre diferentes correntes políticas. “Eu defendo meus oito anos, o Binho defende os quatro dele, e o Tião tem os oito dele. Mas ninguém vai apagar o que o PT fez no Acre. Comparar gestões é normal, mas é preciso resgatar a boa relação. Não é bom que o clima seja de inimizade. É igual na família: não adianta filho ficar de mal com pai ou mãe”, refletiu.


Apesar do peso dos desafios, Jorge Viana demonstrou serenidade ao abordar seu futuro pessoal e político. O petista contou sobre sua paixão por maratonas e sua relação com a natureza. “Fiz uma opção de vida: plantar, estar perto da natureza, plantando café. Isso eu posso fazer até o último dia da minha vida, se Deus quiser. É algo que me traz leveza”, observou.


O ex-governador do Acre também reafirmou seu compromisso com o presidente Lula e com o PT, partido ao qual é filiado há décadas. “Eu devo muito da minha história ao presidente Lula, são 40 anos de amizade. Se ele disser: ‘Jorge, eu vou ser candidato com 79 anos’, eu vou estar ao lado dele, com 65 anos, comprometido a ajudar. Não é uma obrigação, é com gosto. Estou disponível para tentar fazer o melhor”, afirmou.


Viana destacou, ainda, a necessidade de união e cooperação para superar as dificuldades que o Brasil enfrenta. “Estamos como uma família desunida. Se não unirmos a família, não vamos superar os desafios. O país precisa resgatar essa convivência e trabalhar junto para um futuro melhor”, encerrou


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