Silene

Por
Francisco Braga

Perdemos Silene Farias. Uma perda comovente. Essa mulher foi tão importante para a cultura acreana, que se confunde com ela, desde criancinha, no seio de sua família de artistas, os Farias, sinônimo de arte e cultura no Estado do Acre.


Silene foi para o céu. Vai brilhar por lá a estrela que, cá embaixo, brilhou durante 73 anos gerando alegria popular.


Não lembro exatamente quando conheci a Silene. Com certeza sei que foi depois de 1993. E foi depois que conheci o irmão dela, o ator, artesão e ourives César Faria, alter ego do serelepe personagem Zé Jarina.


Sei que dei muita risada com a simpática, bem humorada e linda Silene, dona de uma gargalhada contagiante. Ficamos bons amigos.


Por conta de seu cargo como presidente da Fundação de Cultura Garibaldi Brasil, em Rio Branco, vez por outra me convidava para algum evento.


Fiz parte de corpo de júri por duas vezes: uma em um festival de música popular e, a mais importante, da comissão para aprovação de projetos de uma lei de incentivo à cultura. Aquilo gerava muito risadagem, a ponto de deixar a barriga doendo e a goela seca.


Era muito projeto pra gente ler, ver e escutar. Eram pra mais de mil. E eram tantos projetos sem pé nem cabeça, tantas ideias ruins que só serviam mesmo pra gente explodir achando graça.


As pessoas achavam que aquela verba era para seu sustento eterno. Havia gente que achava que era pra ficar empregado na FGB, ter cargo comissionado na prefeitura, financiar a construção da igreja, do estúdio de gravação, comprar caminhão para levar teatro ao interior etc.


E as fitas cassete com música horrorosas que a gente tinha que ouvir tudo, tudinho, pra escolher a menos ruim? Aquilo, sim, é que é tortura.


E a Silene tava lá com a gente, dava plantão. Não interferia na decisão do corpo de jurados, mas dava sua opinião abalizada, afinal tratava-se de Silene Farias, fundadora da Federação de Teatro Amador do Acre e do Jabuti Bumbá.


Ao final das reuniões (que foram umas quatro ou cinco) ela nos levava para almoçar em algum lugar (que fosse bem longe do Casarão, reduto da nata da cultura acreana da época) e haja mais gargalhadas a invadir o espaço.


Muita saudade dessa querida artista e amiga. Existem muitas histórias que vivemos juntos, entre encontros de trabalho e de diversão. Ou os dois ao mesmo tempo, tais quais a criação de material gráfico para uma peça de teatro, um livro sobre teatro e a mais divertida de todas, a gestação do Jabuti Bumbá.


Conviver com essa criatura divina foi um privilégio que guardarei em minha memória e no meu coração.


Beijo, jabota linda do meu bem querer, amiga de fazeora e para sempre!


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Francisco Braga