O jornalista e âncora da CNN, Márcio Gomes, foi alvo de uma tentativa de assalto com violência em São Paulo, no fim da tarde do último sábado, 28.
O ataque ocorreu na região da Marginal Pinheiros, enquanto dirigia no acesso para a ponte Eusébio Matoso, uma área com tráfego intenso devido a obras na via, localizada na zona oeste.
De acordo com relato do próprio jornalista, dois jovens abordaram o veículo. Um deles, usando um casaco, quebrou o vidro do carro com o cotovelo para tentar roubar o celular, mas não teve sucesso em sua tentativa. Márcio comenta sobre ter sofrido ferimentos causados pelos estilhaços.
Confira o relato completo de Márcio Gomes:
Passava um pouco das cinco da tarde de sábado, 28 de dezembro. Estava na Marginal Pinheiros, via movimentada de São Paulo, entrando no acesso para a ponte Eusébio Matoso. A ponte está em obras – e o trânsito pior do que o normal.
Dirigia na faixa da direita, junto à calçada. Olhei para o lado e vi dois jovens caminhando – um com casaco azul de capuz, outro com camisa vermelha. Os dois olharam diretamente pra mim. Eu estava com celular na mão. Ali não me parece um ponto tão comum para se caminhar, e isso já me acendeu um alerta. Eles estavam observando o movimento e buscando sua vítima.
Os dois passaram do meu meu carro como se fossem continuar a caminhada, mas reparei pelo retrovisor que o de casaco veio por trás. Quando dei por mim, ele já estava bem ao lado da minha janela.
No vídeo que postei nas redes sociais, relatando o que aconteceu, falei que ele estava com uma pedra. Mas acho que me enganei. Não achei nenhuma pedra ou objeto pesado dentro do carro depois do ataque. Acho que ele usou o cotovelo (lembremos, ele estava de casaco num dia em que a temperatura era alta). Agora, como em câmera lenta, vejo o movimento do corpo dele em direção ao meu vidro.
Como estava atento, num movimento rápido, consegui passar o telefone para a mão esquerda (perto da porta) e levei a direita à janela, imaginando que conseguiria evitar que o vidro se rompesse. Não deu certo.
A explosão do vidro no seu rosto traz um pavor que te toca em todos os sentidos – pelo som, pelos estilhaços te atingindo, aqueles milhões de cacos passando na sua frente e te deixando cego por um instante.
Ele não chegou a enfiar a cabeça dentro do meu carro, mas buscava com os dois braços o meu telefone. Não me recordo se ele chegou a tocar no aparelho, mas ele puxava os meus braços.
Nunca se deve reagir, eu sempre repito isso – mas o reflexo foi dominante nessa hora. Precisamos treinar para “desligar os instintos”, eu sei, mas na hora só pensava em me livrar do rapaz, que devia ter uns 20 anos.
Não durou 10 segundos toda essa ação. Lembro que pelo menos um carro ao redor buzinou e isso foi a gota d’água pro rapaz desistir. Não vi se ele correu ou se saiu caminhando.
Fiz uma geral rápida: corte na mão, sangue escorrendo pelo braço, cortes menores na perna e no braço. Dava pra dirigir. Foi quando percebi a solidariedade num momento tão duro.
No carro do lado, o casal perguntava se estava tudo bem e se espantava com o sangue no braço. No posto de gasolina, o frentista que escovou meu banco (estava sentado em cacos de vidro e mal percebia). No lava-a-jato que funciona num estacionamento ao lado, o segurança me abrigou e operou o aspirador, tirando milhões de caquinhos espalhados por toda parte interna do carro.
Fechar 2024 assim nunca é bom. Fica a lição de andar mais atento no trânsito. Mas também vale destacar quem me ajudou naquele momento tão difícil. Pessoas boas, que se importaram com o outro. Olhando assim, esse talvez seja um bom motivo para começar 2025 mais otimista.