Tudo normal nas articulações políticas para composição da Mesa Diretora da Câmara de Vereadores de Rio Branco. A “normalidade”, claro, não rima com calmaria, ausência de cálculos e desinteresses. Os ritos que os assentos exigem continuam sendo respeitados, tendo cifras e ranger de dentes como mote.
Na quinta-feira (26) da semana que passou, uma tensa “reunião de alinhamento” aconteceu na sede do Progressistas. Água gelada e o café já morno. Talvez para compensar a temperatura das carnes dos seis vereadores eleitos que pleiteiam o óbvio em uma casa política: espaços de poder.
Vociferando 42 mil votos, o grupo pressiona para que a própria direção do partido perceba que a unidade da tríade UniãoBrasil/Liberal/Progressistas também respeite quem conquistou quase um terço do parlamento. “Eu me recuso a acreditar que o Progressistas se negue o protagonismo nesse processo”, calculou a vereadora reeleita pelo partido, Elzinha Mendonça, candidata à presidência. “Se eu tivesse visto qualquer obstáculo que não pudesse ser transposto, eu já teria desistido”. É uma visão de quem está disposta à luta. É uma linha de raciocínio lógica e compreensível na trama. Mas não diz tudo.
O que precisa ser lembrado é uma referência defendida de forma ferrenha pelo vice-presidente da executiva estadual do Progressistas, Lívio Veras. Quando questionado sobre a legitimidade do pleito dos seis vereadores, o dirigente rebate de forma protocolar e automática. “Legítimo é procurar fortalecer a aliança entre União Brasil, Partido Liberal e Progressistas”, atacou antes de avisar. “Qualquer outra coisa diferente disso… quem apostar em qualquer coisa diferente disso aposta errado”.
Veras sabe que os 42 mil votos do Progressistas têm digitais que extrapolam os seis famintos. Bruno, Samir, Aiache, Tchê (o Felipe), Lucilene e a própria Elzinha sabem que parte significativa desse desempenho tem, por exemplo, o carimbo de Gladson Cameli. Sem ele, é possível que os números fossem mais modestos. É provável que sem a estrutura do Governo do Estado, alguns nem tivessem sido eleitos.
E essa cena torna mais complexo o processo de composição da Mesa Diretora da Câmara ou qualquer outra disputa por espaços de poder. Porque, atualmente, a rede de interesses de Gladson é ampla, diversa: vai de Sérgio Petecão (com os galanteios feitos à vice-governadora e duas secretarias já apontadas ao PSD, caso ela assuma efetivamente o governo) a Bocalom. Vai de Marcio Bittar a Zequinha Lima. Vai do prefeito da cidade mais modesta do Acre ao nanico Montana, flamenguista brabo. Em um cálculo mais sofisticado, de derivada mais complexa, nem mesmo Alan Rick pode se sentir melindrado por qualquer movimento brusco de Gladson.
Gladson Cameli caminha com roupa pesada de guerra em sala de cristais. O tempo inteiro precisa estar medindo, sugerindo união, apontando caminhos para distensionamentos. Nesse aspecto, a fala do vice-presidente Veras está muito afinada com as necessidades do chefe: verbaliza um grande palavrório como quem vai operar algum milagre no instante seguinte.
Quando Cameli defende que se dialogue ao máximo até que se chegue a um consenso, ele acalanta o ego de Bocalom, respeitando o último desempenho das urnas, e mantém domada a ansiedade dos seis progressistas entrincheirados da Câmara (porque também pode precisar destes em breve). Sorrindo, obedece ao que diz a rapaziada nas redes sociais: “eles que lutem!”. E, claro, consolida a fina camada de “democrata” que lhe reforça a simpatia.
O método de Gladson é velho conhecido. Deixa os cães danados na rinha enquanto ele assiste às lutas pendurado no pé de goiaba ao longe. O que sobrar das arengas ele avalia e decide os rumos das próximas apostas. E Gladson sabe que não há muito mais chances pela frente. O que acontecer de grave em 2025 pode lhe tirar muita força em 2026. Aliás, pode lhe tirar toda a força. Para Gladson, 2027 é um ano tão longe como quem fala em 2093. Atualmente, o dia a dia do governador, politicamente, tem sido pago à vista. Dia após dia.
A Mesa Diretora da Câmara de Vereadores da Capital chega a esse grau de capilaridade. O leitor danado lembrará de outros fatores, certamente. Que o último editorial do ano sirva de insumo para o bom debate! Feliz Ano Novo, mesmo que a rotina de quase todas as preocupações seja velha. Que 2025 venha armado porque a briga vai ser feia!