A presença de Ainda Estou Aqui na shortlist de pré-selecionados ao Oscar 2025 de filme internacional é um excelente sinal para o drama dirigido por Walter Salles, mas Fernanda Torres ainda terá uma batalha complicada para assegurar uma das indicações a melhor atriz. A brasileira está na categoria mais disputada da premiação, e tanto críticos quanto especialistas concordam que muitos nomes fortes ficarão de fora.
O fã mais afoito será rápido em apontar que Fernanda concorre ao Globo de Ouro de melhor atriz, o que a credencia para o prêmio máximo do cinema. Sim e não. A verdade é que a indicação ajuda a atriz, como qualquer lembrança de premiações do gênero, mas não tem nenhum efeito prático no Oscar.
A nomeação aponta mais holofotes para a brasileira, sem dúvida, e toda visibilidade é bem-vinda para o filme. Mas a Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, responsável pelos Golden Globes, é formada por um grupo seleto de jornalistas que nada têm a ver com os votantes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que decidem quem leva o Oscar.
Além disso, seria matematicamente impossível que a mera indicação ao Globo de Ouro já resultasse em uma lembrança para o Oscar. O primeiro prêmio tem 12 atrizes concorrendo neste ano –seis por filmes de drama, outras seis por comédias e musicais. A Academia terá apenas cinco nomes na corrida.
Para piorar a situação, Fernanda Torres concorre em uma temporada atípica, na qual os filmes de comédia e musical chegam muito fortes e devem emplacar a maioria das atrizes no Oscar –experts apontam que, pelo menos três das cinco indicadas podem vir de longas do gênero, mas há uma grande chance de quatro delas saírem dessa lista. Tradicionalmente, produções de drama largam na frente e conquistam mais os votantes.
Até o momento, a grande favorita ao prêmio é Mikey Madison, de Anora. Karla Sofía Gascón (Emilia Pérez) e Cynthia Erivo (Wicked) também têm suas indicações praticamente asseguradas. A quarta representante de comédia e musical, então, seria Demi Moore (A Substância).
Se a musa dos anos 1990 conseguir sua nomeação –e a Academia adora uma história de azarão e superação tanto nos bastidores quanto nas telonas–, restará apenas uma vaga para Fernanda Torres. Só que ela baterá de frente com as veteranas Nicole Kidman (Babygirl) e Angelina Jolie (Maria Callas), além de Tilda Swinton (O Quarto ao Lado) e Pamela Anderson (The Last Showgirl), a grande surpresa do ano.
Como se não bastasse, a corrida ainda conta com Marianne Jean-Baptiste (Hard Truths), June Squibb (Thelma) e Saorsie Ronan (The Outrun), que sequer foram indicadas ao Globo de Ouro, mas não devem ser descartadas do Oscar –em especial a primeira, que tem conquistado a crítica com uma atuação visceral e já deveria ter sido reconhecida anteriormente (ela foi indicada uma única vez e como coadjuvante, em 1997, pela comédia Segredos e Mentiras).
Em outros anos, uma indicação para Fernanda Torres seria uma aposta certeira. Na próxima edição, a situação já é envolta em dúvidas. E isso não é uma crítica ao seu talento nem à sua atuação –que está acima de qualquer suspeita. Mas o Oscar é tão feito em cima do lobby e da politicagem quanto de boas histórias e interpretações acima da média. Basta lembrar que Gwyneth Paltrow superou Fernanda Montenegro há 25 anos.
Mais do que o Globo de Ouro, os fãs brasileiros devem ficar de olho no SAG Awards, prêmio concedido pelo Sindicato Norte-Americano dos Atores, que é visto nos bastidores como a verdadeira prévia para os Oscars de atuação. A lista de indicados será revelada em 8 de janeiro –se o nome da brasileira aparecer por lá, aí sim teremos um bom indício do que está por vir.