O governador do Acre, Gladson Cameli (Progressistas), concedeu nesta segunda-feira, 16, uma entrevista franca ao jornalista Roberto Vaz, no Bar do Vaz, exibida pelos estúdios do ac24horas, onde, ao longo de cerca de uma hora, abordou temas sensíveis, como as acusações feitas pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) no âmbito da Operação Ptolomeu, que têm sido reverberadas pelo ex-senador Jorge Viana, seu principal opositor, além da disputa política pela sucessão em 2026, a relação com sua vice-governadora Mailza Assis e com o governo do presidente Lula. Ele ainda aproveitou o final da entrevista para dançar um brega, “Sapato Estranho”, com o jornalista Roberto Vaz.
Gladson iniciou a entrevista comentando as acusações reverberadas por Jorge Viana, que também o critica pela suposta falta de resultados concretos em seu mandato. “Eu não perco um fio de cabelo e um minuto de sono por causa de acusações levianas. Será que realmente estão preocupados com o Estado? Porque passa a eleição, todo mundo diz que respeita a democracia, e parece que a confusão tem de continuar, porque não foi da forma como queriam. Parece que o errado só está no governo dos outros”, afirmou.
Quando questionado sobre as eleições de 2026, Gladson não descartou a possibilidade de disputar o Senado, possivelmente enfrentando Jorge Viana. Contudo, o governador destacou que sua decisão será tomada em conjunto com o povo acreano e baseada na vontade popular.
“Ninguém se mantém no poder eternamente. Eu tenho meu prazo e sei a hora de sair. Tanto que eu sou contra um terceiro mandato quando alguém cogita no Executivo. Porque, senão, vira mais do mesmo. A alternância de poder é fundamental”, afirmou.
Gladson também aproveitou para comentar sobre a relação com sua vice-governadora, Mailza Assis, após ela publicar um artigo na última semana onde abordava a questão da fidelidade. Segundo Gladson, a relação com Mailza é uma das melhores possíveis.
“Eu vou te falar, no fundo do meu coração, que a minha relação com a vice-governadora é uma das melhores possíveis. É uma relação de respeito, é uma relação em que ela, qualquer ação que vá fazer, me comunica. Ela não precisa me provar fidelidade, porque, como todos nós sabemos, naqueles momentos jurídicos que estávamos passando, ela, em nenhum momento, hesitou. Sempre muito preocupada. Eu tenho muito respeito por ela”, afirmou.
Ao falar sobre 2026, Gladson ressaltou a importância de “vencer 2025” com credibilidade e transparência, mas admitiu que já considera os desdobramentos de uma eventual candidatura ao Senado, o que exigiria sua renúncia ao governo em abril de 2026. Cameli aproveitou para comentar o embate nos bastidores políticos que apontam a vice-governadora como candidata à reeleição e o senador Alan Rick pelo campo da direita, que também faz parte do governo.
“Primeiramente, senador Alan Rick, como toda bancada federal e estadual, eles têm nos ajudado, e eu tenho relatado isso. Então eu tenho prioridade para quem vai disputar os cargos do Legislativo: tentar fazer um acordo para não prejudicar quem nos ajuda. Porque seria injusto”, iniciou Gladson.
Sobre a sucessão governamental, ele foi direto: “Agora vamos para a fase da sucessão governamental. Eu te garanto que isso não é minha prioridade. Mas também não posso deixar de comentar. Eu tenho que organizar a base. Então, qual é a minha prioridade? Vencer 2025. Executar com credibilidade, olhar para a população e dizer: falamos disso no início, está aqui concluído, e o que não vai dar para concluir, explicar o porquê”, relatou.
O governador reiterou que, embora o planejamento para 2026 não seja determinante agora, ele não pode ser ignorado: “2026 é um ano de eleições. Não é determinante, mas é inevitável pensar nele. Então, se eu continuar com aceitação popular, conseguindo vencer 2025, eu renuncio em abril de 2026”, afirmou.
Gladson também criticou a antecipação de discussões eleitorais, enfatizando a necessidade de planejamento consciente: “Eu tento conscientizar. Inclusive, por exemplo, sou contra a antecipação. É por isso que fico batendo nessa tecla. Eu digo sempre aos pretensos candidatos: vamos vencer etapa por etapa. Mas, infelizmente, sabemos que nem todos pensam assim”, salientou.
O governador refutou a ideia de que sua saída ou o sucessor já estejam definidos: “Tem pessoas que acham que já está tudo resolvido, só falta chegar a hora de passar a faixa. Eu só sei de uma coisa que está resolvida: eu estou governador e vou sair na hora que tiver que sair, pela porta da frente do Palácio, passando o bastão para o próximo”, acrescentou.
Ao comentar sobre uma possível candidatura ao Senado, ele reiterou que sua prioridade segue sendo governar o Acre com credibilidade: “Se eu for candidato ao Senado, tenho que sair em abril. E, para mim, como já disse, não tem problema ficar também. O que não posso é perder a credibilidade popular, porque tudo o que eu tenho, o povo do Acre me deu”, pontuou.
Ao relembrar os desafios enfrentados durante seu mandato, Gladson destacou o período da pandemia de Covid-19 como um dos momentos mais difíceis de sua gestão. Ele citou a criação do hospital de campanha como uma de suas maiores realizações. “Não existe maior obra do que cuidar de vidas. O Acre conseguiu salvar milhares de pessoas, mesmo com todos os desafios”, declarou.
Quanto à relação com o governo federal, Gladson foi diplomático e ressaltou a importância de manter uma postura institucional, independente de questões partidárias. Ele afirmou que tanto o ex-presidente Jair Bolsonaro quanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva contribuíram com recursos e projetos para o estado.
“Ambos, cada um na sua linha. O Bolsonaro, por exemplo, foi um sujeito muito autêntico, tentando eliminar burocracias e agilizar processos. Isso foi excelente para o agronegócio, que ajudou bastante o estado. Ele teve as suas prioridades, que não são exatamente as do governo atual. Mas o sucesso do agronegócio durante o governo dele foi algo que, inclusive, já estava no meu plano de governo: permitir que as pessoas trabalhassem, respeitando as leis ambientais e o que está previsto na Constituição. Agora, falando do meu relacionamento com o presidente Lula, ele tem sido dos melhores possíveis. Em Brasília, fomos muito bem recebidos. Um exemplo claro é a maternidade aqui de Rio Branco, que está sendo feita em parceria com o governo federal. A previsão de inauguração é para março, e é apenas uma das várias obras em andamento”, afirmou.
Durante o bate-papo, Cameli afirmou que o estado foi incluído no Programa Nacional de Aceleração do Crescimento (PAC) e convidou o presidente Lula para uma visita ao estado do Acre nos próximos meses.
“Sim, entramos. Participamos do PAC e incluímos várias outras obras. Ele será muito bem-vindo. Estamos lhe convidando para vir ao Acre, e iremos recebê-lo com tapete vermelho… e, quem sabe, até com uma gravata vermelha”, afirmou aos risos.