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A anestesia necessária e a tabuada do poder

O ac24horas, com todos os problemas que vivencia na dura rotina de tentar fazer jornalismo regional, ratifica o compromisso com a Democracia e com o Estado Democrático de Direito. É preciso ser dito isto para que se diferencie o trabalho feito neste espaço com o que defende a tropa de políticos locais que apoia a anistia a golpistas. Não é possível amenizar nas palavras com aqueles que atentam contra o regime democrático. Simples assim.


Não é segredo para ninguém que o prefeito de Rio Branco, Tião Bocalom, é simpatizante da ditadura militar. Ele mesmo já disse isso em entrevistas. O raciocínio de boteco exposto pelo prefeito assegura que “naquele tempo” havia mais segurança e outros lugares comuns que o prefeito deveria se sentir desautorizado de falar em público.


O senador Marcio Bittar atua como uma espécie de bajulador de alta estirpe do ex-presidente Jair Bolsonaro. Bittar não atenta que uma coisa é ser grato e reconhecer o apoio a quem lhe garantiu o mandato; outra bem diferente é se submeter a preceitos que, no limite, lhe contestarão até mesmo a atuação como parlamentar, caso um dia resolva divergir da lógica imposta fora da ordem democrática.


O vereador João Marcos Luz, líder do prefeito na Câmara de Vereadores de Rio Branco,… bom… João Marcus Luz é João Marcos Luz mesmo. Fala por si. Basta.


A trama por trás desses movimentos regionais de apoio ao golpe tem articulação mais intrincada. A presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, Caroline de Toni (PL/SC), designou o colega Rodrigo Valadares (União Brasil/SE) como relator de um projeto de lei que concede anistia aos golpistas do 8 de janeiro de 2023. Já é fato público que a CCJ é manobrada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, com eficácia, no jogo de disputas do parlamento federal com Palácio do Planalto e o STF.


Quem honesto for admite que a obsessão do Capitão por esse projeto da anistia tem uma linha reta: livrá-lo da Justiça para reabilitá-lo eleitoralmente. É disso que se trata. Com um agravante: é cada vez mais nítida a fragilidade do ex-presidente diante das próprias forças da direita. Mas, aqui pelo Acre, é preciso manter o eleitor anestesiado. E é isto o que a Dupla BB (Bittar/Bocalom) faz, ao normalizar a defesa de atentado aos princípios da Democracia, utilizando como retórica a ideia de liberdade de expressão e pensamento. Já foi dito neste espaço e repete-se: não é possível, por meio de instrumentos democráticos, exigir menos Democracia. Isso é uma equação sem solução possível.


Nesse aspecto, a postura dos patriotas de barranco regionais não guarda relação com a defesa das instituições (óbvio que não) e muito menos com a defesa da liberdade de expressão e pensamento. Sabedores do perfil conservador do eleitor acreano, estão com a tabuada política decorada em manter-se no poder, mesmo que para isso atentem contra as instituições.


É barata e beira o grotesco a manipulação do público. No evento pró-anistia, deixam flagrar-se pelos fotógrafos com a mão no peito ao cantar o Hino Nacional, de olhos fechados, expressão do rosto grave, como se estivessem orando, rezando. É parte do rito anestésico. E, quando o microfone é ligado, dá-lhe falar em “valores cristãos”; dá-lhe deturpação da História; dá-lhe mais anestesia.


Essa semana, Bocalom, por exemplo, teve um rompante de lucidez, mesmo com o “coração sangrando de dor”, ao vetar o projeto de lei inconstitucional que proibia a presença de crianças e adolescentes na Parada LGBTQIAPN+. A mão que assinou o veto estava prisioneira da língua que diz sustentar supostos “valores cristãos”, incompatíveis, segundo ele, com o evento da diversidade. Caso tivesse sancionado, Bocalom estaria negando a própria retórica de administrar observando os limites impostos pela lei. Essa disciplina é regida e normatizada pela forma democrática. Deveria ser a defesa dessa forma a prioridade das lideranças políticas locais. Mas isso parece ser exigir muito.


“… não é possível, por meio de instrumentos democráticos, exigir menos Democracia”


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