A decisão do Carrefour de suspender a comercialização de carnes provenientes do Mercosul, sob justificativa de preocupações ambientais e sanitárias, gerou uma onda de críticas entre os principais atores do setor no país. No Acre, o secretário de Agricultura e Pecuária do Governo Gladson Cameli, Luis Tchê, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Acre (FAEAC), Assuero Veronez, e o presidente da Apex-Brasil, Jorge Viana, condenaram nesta segunda-feira, 25, a atitude da rede varejista francesa, considerando-a injusta e prejudicial à imagem do agronegócio brasileiro.
O secretário Luis Tchê destacou o comprometimento da produção nacional com padrões sustentáveis e classificou a medida como um grande erro. “Na nossa visão, é um grande equívoco por parte do representante da empresa, tendo em vista que a carne brasileira e acreana é produzida, sobretudo, alicerçada em bases sustentáveis, respaldada pelo rigoroso Código Florestal Brasileiro. Já temos frigoríficos que só compram animais para abate oriundos de propriedades rurais em conformidade com a legislação ambiental brasileira”, ressaltou.
O gestor minimizou os impactos diretos da decisão para a produção local e demonstrou otimismo quanto à resolução do impasse. “Regionalmente, não vemos impactos diretos para os nossos produtores, pois a nossa produção e relação comercial é mais interna. Acreditamos que esse impasse será solucionado o mais breve possível”, relatou.
Já Assuero Veronez, atual presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Acre (FAEAC), criticou a medida de forma mais contundente, apontando um protecionismo disfarçado de preocupação ambiental. Segundo ele, a decisão da rede francesa revela uma certa ‘hipocrisia europeia’.
“Essa medida do Carrefour, mais uma vez, demonstra a hipocrisia europeia, especialmente dos franceses, quando, sob a justificativa de questões sanitárias ou ambientais, na verdade, estão fazendo o seu velho e tradicional protecionismo. Sob pressão dos agricultores europeus, que vão às ruas com uma certa violência, se manifestar pelos seus direitos, que são legítimos, mas o governo francês não pode querer culpar a carne brasileira e da América do Sul como se fosse um produto não qualificado para entrar no mercado europeu. Nós vendemos carne para a Europa há 40 anos, pelo menos. Nunca tivemos nenhum problema, e muito menos agora. Temos muito mais controles, e não só controle sanitário, mas especialmente sustentabilidade”, afirmou.
O presidente da FAEAC afirmou que a decisão já trouxe prejuízos ao Carrefour, como queda no valor das ações e desabastecimento de carne nas lojas. “O boicote, que agora está sendo feito pela indústria brasileira, pelos frigoríficos, para implementar também no Carrefour, no Brasil, essa medida de não vender carne acabou mostrando ser um tiro no pé mesmo do Carrefour. O supermercado não sobrevive sem vender carne, porque a carne, além da importância dela em si, ela puxa a venda dos outros produtos. Hoje, na Bolsa de Valores, já observa-se uma queda no valor das ações do Carrefour, ou seja, eles vão aprender duramente a respeitar o comércio que havia entre os dois países”, salientou.
Veronez também vinculou o boicote às tensões em torno do acordo União Europeia-Mercosul, que enfrenta resistência de produtores europeus. “O que os produtores franceses estavam fazendo, ao se manifestar, era com a preocupação do acordo União Europeia-Mercosul, que está na iminência de ser assinado, e eles são contra, porque a agricultura europeia não é competitiva. Nós sabemos produzir com qualidade mais barato que eles, eles têm toda uma tradição, mas o custo de produção deles é sempre mais alto, e, portanto, não competem, e nós temos qualidade como eles”, destacou.
Ao ac24horas, o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Jorge Viana, afirmou que estão sendo realizadas ações conjuntas de setores do agronegócio e do governo federal para responder à decisão.
“Logo à noite, ainda na visita do presidente Xi Jinping, quando tomei conhecimento, imediatamente fiz uma nota, nós da direção da Apex, repudiando essa atitude descabida, irresponsável do CEO do Carrefour. E se seguiu isso a várias notas de setores do agronegócio brasileiro, das proteínas de carne, especialmente. Eu falei com as entidades todas, o ministro Fávaro, hoje, tem sido muito duro e o próprio governo do presidente Lula também soltou nota, afirmou.
Viana afirmou que a decisão do Carrefour deve unir o Brasil na sua contestação e classificou a atitude como hipócrita. “É um tipo de atitude que tem que unir o Brasil no enfrentamento dela. Não tem sentido nenhum, é uma hipocrisia de querer, falando mal e em verdade sobre o agronegócio brasileiro, sobre a proteína animal, as carnes brasileiras na Europa, porque o argumento é falso, usado pelo CEO do Carrefour, e aqui no Brasil o Carrefour fica comprando e se abastecendo do agronegócio brasileiro. Então nós temos que ser duros para eliminar esse mal pela raiz”, destacou.
O atual presidente da Apex-Brasil também destacou os avanços recentes no combate ao desmatamento e a reconstrução da imagem do Brasil no exterior após o governo de Jair Bolsonaro. “Hoje, se tem uma coisa que pode ser divulgada é a imagem do agronegócio. O desmatamento agora foi reduzido em mais de 45%, tem programa de inclusão social, de proteção aos povos indígenas, e aí a imagem do agro está bem diferente do que estava no governo passado, que destruiu a imagem do Brasil. E é com base nessa nova imagem que a gente tranquilamente pode fazer a defesa do esforço, o sacrifício do pequeno, do médio, do grande produtor, do agricultor familiar à empresa do agronegócio brasileiro”, encerrou Jorge Viana.
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