Morreu o Flaviano Melo, talvez o mais importante político acreano de seu tempo, homem de características mais executivas do que legislativas, ótimo prefeito e governador, vinculado a um único partido, o MDB, do qual foi presidente por décadas. Com ele no comando, o partido viveu glórias e fracassos e manteve uma identidade muito parecida com aquela mostrada ao nível nacional, ou seja, uma posição equidistante dos extremos.
Depois de todas as merecidas honras ao Ex-governador, com quem, aliás, tive a satisfação de trabalhar, certamente é hora de voltar os olhos para o partido e decidir o que fazer com o espólio político deixado, considerando também o cenário nacional.
Com o tempo o MDB foi perdendo suas lideranças mais importantes, algumas se mandaram para fundar o PSDB e outras faleceram sem deixar quadros realmente dignos da história da sigla. Ao aliar-se ao PT, o MDB transformou-se em partido de Gedéis, Renans, Pezões e Barbalhos, nadou de braçada no petrolão e ainda hoje se mantém ancorado na história e capilaridade, embora franzino de lideranças nacionais.
As eleições recentes para prefeito lhe deram a segunda maior votação do país (11.735. 717 votos) e 856 prefeituras, incluindo a mais importante, a de São Paulo. Não é pouca coisa. Qualquer projeto de país terá que conversar com o MDB, apesar da sua falta de unidade. Lembremos que nas últimas eleições para presidente, sua candidata teve menos de 5% dos votos.
E no Acre? Por aqui o quadro não é tão animador. Nas eleições municipais em outubro passado, o MDB ficou em quinto colocado na votação para vereadores, atrás do PP, União Brasil, PL e Republicanos e, apesar do reforço de última hora com a vinda do Marcus Alexandre, só obteve êxito na minúscula Santa Rosa do Purus. Como não tem representantes na Câmara Federal nem no Senado, seguramente terá que fazer um esforço hercúleo para alcançar algum protagonismo em 2026.
A segunda pergunta é: Quem liderará esse esforço? Bem, um dos conhecidos problemas das lideranças que se eternizam à frente de qualquer corporação, é o vínculo simbólico que se cria em torno do líder e, por causa disso, a dificuldade que o sucessor enfrenta para exercer o diálogo com o mesmo nível de autoridade. No presente caso, essa questão dá sinais de que vai aflorar. Até um chamamento a um dos filhos do Flaviano, o Leonardo, já foi cogitado. Se com mais de 40 anos ele nunca se enfiou na política, por que faria isso agora? Não parece razoável. Além disso, liderança política não é transferida automaticamente, as raposas novas e velhas do MDB talvez não estejam muito à vontade com essa perspectiva.
Qual o caminho a seguir? Pedir carona no bonde já lotado do governo, ou firmar-se na oposição como fez nas últimas eleições? Em Rio Branco as lideranças já avaliam que o recente abraço com o PT foi prejudicial, em Cruzeiro do Sul, idem. Sobra torcer e aguardar uma fratura na direita que leve a uma disputa entre Alan Rick e Mailza Assis e colar em um dos dois. Tá, mas os dois são bolsonaristas, como fica aquele discursozinho de esquerda que o MDB e seus interlocutores tanto gostam de exibir?
Perguntas e perguntas. Certezas, nenhuma. Dependerá do andar da carruagem e, obviamente, da capacidade do piloto emedebista do momento, o imprevisível Vagner Sales.
*Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no DIÁRIO DO ACRE, no ACRENEWS, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.
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