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As lições e uma possível dica do Velho Lobo

Foto: Sérgio Vale/ac24horas

Qual o legado político oferecido por Flaviano Melo? Primeiro, é preciso fazer algumas delimitações quase óbvias. Flaviano era um político de atuação regional. Embora tenha assumido mandatos federais (por oito anos no Senado e 16 na Câmara dos Deputados), ninguém tem memória de um projeto nacional encabeçado por ele tratando de questões como impostos, fome, desemprego. Antes de ser brasileiro, Flaviano se deixou constituir por dois elementos: o PMDB (com pê mesmo!) e o Acre.


Filho do “Seu” Raimundo Melo e da D. Laudi, saiu do Acre o mais cedo que pode. Formou-se engenheiro civil no Rio de Janeiro. Integrou o grupo de engenheiros de um dos projetos que enchia de orgulho os generais da ditadura militar, a Ponte Rio-Niterói; trabalhou na mais conhecida empreiteira dos noticiários dos anos 80, a Mendes Júnior. Foi engenheiro de destaque na empresa, aliás.


O batismo na pia política não veio pela mão de Raimundo Melo. Foi o então governador do Acre Nabor Júnior que percebeu no jovem com jeitão de galã de novela o perfil de renovação que o PMDB precisava naquele momento aqui no Acre. Deu certo. Filiado ao partido desde 69, assumiu a Prefeitura de Rio Branco indicado por “Naborzinho”, como ainda hoje é chamado carinhosamente o ex-governador. Nabor viu nele um símbolo de mudança, de rejuvenescimento que a sigla precisava. E acertou. Flaviano representou isso naquele momento.


Essa lembrança é necessária ser ressaltada para tentar responder à pergunta que abre este texto. Ao rigor do que exigem os mais emperdenidos acadêmicos no respeito à ideia de “Democracia”, contrapõe-se a vida como ela é. Sobretudo como é a vida por essas bandas daqui. E sobretudo como era a vida por essas bandas daqui no fim da ditadura civil-militar transitando para o regime democrático.


Filiou-se ao PMDB com 20 anos. Ele poderia ter se filiado ao Arena. Talvez, desapontasse ao pai. Mas poderia. Não o fez. Se o PMDB era, para a ditadura, o “partido do ‘Sim’” e a Arena era o “partido do ‘Sim, Senhor!’” não vem ao caso. O que precisa ser percebido é o gesto. O jovem Flaviano Melo não quis ser do “partido do Governo”. Simbolicamente, esse gesto é importante.


Quando os repórteres perguntam aos amigos de Flaviano o que se questionou na abertura deste editorial, há uma unanimidade: “um democrata”. Aqui também é preciso fazer um recorte. Quando se fala dessa característica de uma pessoa, logo o senso comum raciocina que tratava-se de uma pessoa que aceitava tudo o que se falasse; que era passivo nas polêmicas; que sempre cedia diante do impasse. Ledo engano. Ninguém milita 55 anos em um partido sendo submisso. As disputas intestinas do partido nos bons e maus momentos foram encaradas por Flaviano com uma sernodade plena de cálculos e interesses, como é próprio do universo da política.


Em muitos temas delicados, votações polêmicas em que a escolha desta ou daquela ideia colocaria o parlamentar em xeque com o eleitorado, Flaviano sabia muito bem qual linha de argumentação tomar. Mirava no gigantismo do PMDB e tudo se resolvia. “Eu sou um homem de partido. O que o partido determinar assim será meu voto”. Era a maneira de se desviar de possíveis constrangimentos com o eleitor.


Das várias lições que se pode ter dessa trajetória política de Flaviano, uma se destaca: a de que é possível fazer política sem ódio. Flaviano sempre respeitou o resultado das urnas. Nunca culpou o povo quando perdeu eleições. Sempre soube se impor no acalorado ambiente de disputa, tanto interna no partido quanto com os adversários.


Os rivais o tachavam com todos os adjetivos: centralizador, populista, corrupto… e lá se vão mais de cinco décadas de trabalho que bem ou mal, para uns mais para outro menos, mudou a cara do Acre e de Rio Branco em especial. Não foi um governante que olhou o Acre por inteiro: priorizou a Capital. Se ele tivesse ouvindo esta crítica, certamente estaria sentado com o olhar fixo em um ponto no chão, segurando a bengala com as duas mãos e sufocando o riso com o corpanzil antes de se defender com o vozeirão e aquele jeito muito próprio de falar: “Ora! Viabilize-se, politicamente, eleja-se e faça você!” Simples assim. Fica a dica para uma nova geração de emedebistas.


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