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O velho lobo partiu

Chora o MDB, chora a política, chora o Acre, com a partida do Velho Lobo Flaviano Melo. Pois é, meu amigo de tantos encontros e desencontros políticos; dessa vez não deu nem para trocar ideias, falar sobre política, como comumente acontecia nas nossas conversas pelo celular. Não deu nem para se despedir.


Conheci o Flaviano quando foi nomeado prefeito de Rio Branco pela primeira vez pelo governador Nabor Júnior (MDB) – na época foi decretado pelo regime militar que o Acre era área de Segurança Nacional, cabendo ao presidente da República nomear os prefeitos do interior e aos governadores nomear os prefeitos das capitais. Começava a partir daí uma das mais brilhantes trajetórias de um político acreano.


Filho de um dos políticos mais tradicionais e conservadores do MDB, Raimundo Hermínio de Melo, deputado estadual de vários mandatos. Seu irmão José Melo foi eleito deputado federal com uma votação estrondosa. Flaviano perdeu e ganhou várias eleições. Engenheiro de formação, Flaviano foi um gestor atuante e inovador. Instituiu pela primeira vez na sua gestão da prefeitura de Rio Branco o chamado “Orçamento Participativo” – no qual, os presidentes de associações de moradores listavam as obras que eles viam como prioritárias em suas comunidades, para a prefeitura executar. Sempre foi um político de centro, conciliador. Nem a polarização de ódio que tomou conta do País com esta guerra surda e suja de direita contra a esquerda, o contaminou. Certa feita mandou me chamar no seu gabinete na prefeitura de Rio Branco, para ouvir políticos de vários matizes, com os mais diversos argumentos para ele se afastar e disputar o governo.


O mais tosco deles é que tinham consultas jurídicas, que levariam à cassação do Jorge Viana (PT) pelo TRE-AC, por considerarem que usar a logomarca petista de uma árvore em bens públicos era abuso de poder. Depois que todo mundo saiu, me perguntou, rabiscando uma folha de papel: O que achou?. Respondi: “Se cassaram o Jorge Viana, ele vai virar vítima, se conseguir reverter em Brasília. E quem garante que esse pessoal todo que veio aqui vai ficar contigo até o final”? Mas, se afastou e foi disputar o governo. Acho que estava cansado de ser prefeito. Depois de muito tempo, relembrei na nossa conversa esta passagem. Murmurou: “Você estava certo”.


Cassaram o mandato do Jorge, ele derrubou com um recurso em Brasília, virou vítima, disparou nas pesquisas e o Flaviano terminou a eleição praticamente só e foi derrotado. Há um ponto que queria ressaltar, para esclarecer de vez: a conta Flávio Nogueira – uma aplicação financeira indevida com recursos públicos — da qual tanto se falou no seu governo, que virou ação penal, mas que ele não foi nem indiciado. Quanto mais condenado! Registre-se! Acompanhando a sua trajetória política, seja como jornalista ou sendo o seu Secretário de Comunicação; não me lembro de ter visto até nas campanhas acirradas que participou, um linguajar chulo, uma agressão verbal ou ato de ódio praticado por ele. Sempre discutia política em alto nível, não alterava a voz. Era mais de escutar e conciliar. Dizia sempre, quando lhe cobravam respostas duras às agressões que sofria: “Não tenho inimigos na política, tenho adversários”.


Derrotou o PT no auge do poder, quando se gabavam de eleger até um poste. É preciso esclarecer. Não foi fundador do MDA-Movimento Democrático Acreano; uma junção vitoriosa de partidos conservadores como o MDB-PFL-PP e outros. Morava na época em New York, estava afastado da política. O MDA, que tinha como cabeças os fundadores Armando Dantas, João Correia, Osmir Lima, Narciso Mendes e Alércio Dias e outros; mandaram fazer uma pesquisa para prefeito de Rio Branco; visando achar um nome para enfrentar o professor Raimundo Angelim, o candidato do PT. A pesquisa deu Flaviano disparado. Levaram o resultado para o governador Nabor Júnior (MDB), o único com poder de convencê-lo a voltar ao Acre para cumprir a missão. Nabor o convenceu após um demorado telefonema. Veio e ganhou. Flaviano Melo foi prefeito da capital, deputado federal, senador, governador e se tornou um dos políticos mais longevos em mandatos. Só foi batido em total de mandatos pelo ex-senador Nabor Júnior. Mas prefiro falar do Flaviano como um cidadão político vencedor.


Teve seus erros, era acusado de pensar mais nele, mas quem só tem acertos na vida? Já na última disputa para a prefeitura de Rio Branco foi a figura mais emblemática da campanha de Marcus Alexandre (MDB). Mesmo com sua deficiência de locomoção, fazia questão de estar nas caminhadas nos bairros escorado em sua bengala; e quando cansava ia para a carroceria de um carro. Faltando 20 dias para a votação me disse, numa conversa reservada, que achava que o Marcus perdia – pela campanha milionária do então candidato Tião Bocalom- puxado pelas máquinas do governo e da prefeitura, e que chegaria no máximo ao segundo turno. Não chegou. Mas foi firme até o final, dando incentivo, cumprindo o seu papel de comandante do MDB.


Antes de viajar para Brasília (não tinha adoecido ainda) me disse num papo que estava deixando de vez a política e quando o mandato de presidente do MDB se se encerra no próximo ano, entregaria o comando do MDB. Flaviano Melo era uma figura agradável de se conversar, ouvia mais do que falava, mas sua fala era sempre pontual e cirúrgica.


Depois de ser derrotado para mais um mandato de deputado federal, resolveu não sair mais candidato. “Meu tempo passou”, costumava ponderar quando lhe chamavam para se candidatar novamente. Tinha dois amores depois da sua família: o Vasco da Gama e o MDB. Flaviano Melo furou a fila e subiu. Mas deixou aqui semeadas sementes que jamais se apagarão, que são as mais diversas obras espalhadas pela cidade. Teria muitas coisas a dizer dele, mas a mente se embaralha de emoção. Partiu um dos mais brilhantes gestores e políticos do Acre. O que mais falar? Meus profundos sentimentos à família. Descanse em paz na luz de Deus, bom companheiro Velho Lobo. Assim é a vida, vem e vai. Isso é inexorável.


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