O Brasil lança nesta segunda (18) no G20 a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, principal iniciativa do governo Lula na cúpula das nações mais ricas do mundo. Mais de 80 países já aderiram à iniciativa. Quando a ideia começou a ser discutida com as delegações internacionais, houve resistência à criação de mais uma iniciativa contra a fome, já que há outras em curso.
O que aconteceu
Governos de 81 países aderiram à aliança até domingo (17). Isso representa um de cada quatro países do mundo. É praticamente o dobro dos 41 que haviam se juntado à iniciativa até a última sexta-feira (15), quando o governo brasileiro realizou uma rodada em busca de novas adesões. Mais países podem aderir no futuro, e a expectativa do Brasil é que o número final se aproxime de 100.
Um único banco, o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), anunciou um aporte de US$ 25 bilhões, equivalente a R$ 146 bilhões no câmbio atual. Os empréstimos serão destinados a projetos na América Latina e no Caribe. Ao todo, nove instituições financeiras aderiram à aliança.
Argentina é o único dos 19 países que fazem parte da G20 que não aderiram à aliança até domingo. Sob a presidência de Javier Milei, a Argentina tem adotado posturas dissonantes nos fóruns multilaterais (onde países tomam decisões em conjunto, como agências da ONU). No G20, a Argentina apresentou obstáculos nas negociações da declaração final de líderes. Antes disso, nas reuniões prévias, foi o único país que se recusou a assinar dois documentos.
Aderir à aliança significa que os países anunciaram compromissos para reduzir a fome e a pobreza — a maioria, no âmbito nacional. Um número menor também prometeu conceder recursos para auxiliar na implementação de políticas públicas em regiões em desenvolvimento. É o caso da Noruega.
Os projetos anunciados pelos países envolvem, principalmente, aumentar o número de pessoas em programas sociais. Muitos pretendem expandir iniciativas nacionais que já estão em curso. Outros pretendem criar novos projetos, a partir da experiência de outros países membros da Aliança, como o Brasil.
Os indicadores ligados à fome e à pobreza no mundo vinham em queda, mas voltaram a subir pouco antes da pandemia. Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), havia 798 milhões de pessoas com fome em 2005. Até 2017, o número caiu para 541 milhões. Em seguida, voltou a crescer paulatinamente, chegando a 733 milhões em 2024.
O governo Lula aposta alto: diz que os compromissos anunciados vão expandir programas de transferência de renda para 500 milhões de pessoas. Também espera que novos programas de merenda escolar atinjam mais 150 milhões de crianças. E programas de saúde materna e primeira infância impactem 200 milhões de mulheres e crianças.
Mas o número de 500 milhões de pessoas não foi detalhado, então não se sabe em que regiões do mundo elas estão. Isso corresponde a duas vezes e meia a população do Brasil. O número também equivale a dez vezes o total de beneficiários do Bolsa Família, o maior programa do tipo no mundo. E representa sete de cada dez pessoas que passam fome no mundo hoje.
[A Aliança] é fundamental. O G20 junta hoje os países mais poderosos do mundo. Até agora, discutiu muito comércio. Na crise financeira de 2008, o G20 ocupou um papel central. Agora, estamos com uma crise social muito forte. Tem que juntar toda a capacidade (de ação). A FAO é uma delas.
(Para funcionar) tem que ser tangível. Já passou a fase de falar, falar, falar. Se tem uma coisa que a gente não pode fazer é falar de forma genérica. Tem que colocar elementos concretos: ‘tem que fazer X, tem que se concentrar em tais países’.
– Mario Lubetkin, diretor regional da FAO para América Latina e Caribe