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Valor da produção da castanha valoriza 191% e supera madeira

Foto: Marcos Vicentti/Secom.

Os dados do IBGE indicam que a extração de castanha, em 2023, superou a de madeira e já representa 58% do valor da produção extrativa do Acre.


Temos ligações históricas como o extrativismo. Todo movimento de ocupação das terras do Acre, inserido numa nova forma de colonialismo, está ligado à utilização da borracha como matéria-prima de fundamental importância para o desenvolvimento do capitalismo, principalmente para a indústria automobilística. Este período se inicia na segunda metade do século dezenove, quando se deu uma migração em massa de brasileiros, principalmente nordestinos, para as terras amazônicas.


Nesse sentido, é muito importante perceber-se do movimento da atividade econômica do extrativismo no nosso estado. Principalmente agora, quando o mundo se depara com uma crise climática sem precedentes na história da humanidade, cujo novo paradigma é a exigência de novas formas de produzir, exigindo cada vez mais atividades que evitem ao máximo a emissão de carbono na atmosfera.


É sabido, também, que Acre inicia a década de setenta do século vinte com a sua economia totalmente desestruturada. Os extrativistas, que secularmente ocupavam as florestas, foram expulsos de suas terras em função da mercantilização de antigos seringais. Um novo modelo econômico surge. Primeiramente com a pecuária bovina, agora com a expansão da pecuária suína e da plantação de soja, do milho e do café, numa ampla conexão com as exigências do mercado nacional e internacional.


Conforme dados do Censo Agropecuário de 2017, o Acre contava, naquele ano, com 37.356 estabelecimentos agropecuários, destes, 3.766 estavam localizados em unidades de conservação (RESEX, RDS e Florestas de uso sustentável), valor representa 10% dos estabelecimentos agropecuários no Acre. Esse é um número subestimado, pois temos outras pequenas propriedades fora das unidades de conservação que exercem a atividade da exploração florestal.


Estima-se que, em 2023, o extrativismo vegetal no Acre, conforme os critérios estabelecidos pelo IBGE, alcançou um Valor da Produção – VP de R$ 114 milhões. Esse valor representa um pouco mais de 5% do setor primário acreano, longe de ameaçar o VP das lavouras (34%) e da pecuária (61%).


Destacaremos os números de quatro produtos extrativos com maiores representatividades no extrativismo: açaí, borracha, castanha e madeira em tora. Produtos que juntos, em 2023, representaram mais de 91% o VP do setor extrativista. Destacaremos em tabelas, os números totais do Acre e dos 5 maiores municípios produtores de cada produto, incluindo a quantidade produzida e valor da produção para os anos de 2013 e 2023, um intervalo de 10 anos.


Em 10 anos a extração de Açaí cresceu 32%


No período o valor da produção aumentou 128% e alcançou R$ 6,4 milhões em 2023. Como a quantidade produzida cresceu somente 32%, indica que, no período, tivemos uma alta valorização do produto em face da alta demanda no mercado nacional. Em 2023, o Município de Feijó foi o maior produtor (37,2%) seguido de longe por Cruzeiro do Sul (7,6%) e Tarauacá (6,5%). Mesmo tendo a sua demanda em alta, o produto ainda não aparece nos números das exportações internacionais do estado. O Produto representou em 2023, 5,6% do valor total da extração vegetal do Acre.



Em 10 anos a Produção de Borracha cresceu 90%


O valor da produção da borracha, em 10 anos, cresceu 525% e atingiu mais de R$ 13 milhões, alcançando uma excelente valorização. Nos últimos anos a produção de borracha (impulsionada pelo contrato do Cooperacre com a marca de tênis Veja), que em 2013 representava somente 2,6%, em 2023, já representava 11,5%, com valor estimado em R$ 13,1 milhões. Em 2023, aparecem como maiores produtores os seguintes municípios: Xapuri (32,8%), Senador Guiomard (19,7%) e Brasiléia (16,8%).


Em 10 anos, mesmo com queda na extração, a castanha valorizou 191%


O valor da produção da castanha alcançou R$ 66,0 milhões, tornando-se o produto mais expressivo produto extrativo acreano, representando 58% de todo o valor da produção extrativa do Acre, superando a madeira, que líder de produção em 2013. Em termos da quantidade produzida, mesmo com a queda, o produto foi fortemente valorizado no mercado, principalmente no mercado externo. Em 2023, o Município de Xapuri foi o maior produtor (21,2%) seguido por Brasiléia (17,2%) e Rio Branco (16,9%). Nos 10 primeiros meses do ano de 2024, o produto já atingiu um valor de exportações de mais de US$ 8 milhões, representando mais de 11% de todas as exportações do Acre. 



Em 10 anos a exploração de madeira caiu 65,6%


Em termos de valor da produção, em 10 anos, a madeira em tora viu o seu valor cair 56,8%. Foi de R$ 44,6 em 2013, para somente R$ 19,2 milhões, em 2023. A sua produção, que representou mais de 54% de toda a produção extrativa do Acre, representava, dez anos depois, somente 17%. O impacto na produção foi sentido nas exportações para o exterior. A madeira e seus derivados, respondeu por 32,5% das exportações acreanas em 2013. Nos10 primeiros meses de 2024, representa somente 6,6%. Os municípios com maiores explorações de madeira em tora em 2023, foram: Feijó (25,6%), Bujari (13,9%) e Rio Branco (12%).



Apesar das melhoras da renda gerada pelo extrativismo, estamos longe de ter um efetivo modelo de desenvolvimento com sustentabilidade que inclua a bioeconomia como estratégia de desenvolvimento. 


Transcrevo abaixo o entendimento contido no documento “Diagnóstico Socioeconômico do Acre 60 anos”, elaborado pelo CEDEPLAR – UFMG em 2022, contido na página 128 do Livro 1:


“É preciso superar a falsa dicotomia entre desenvolvimento e preservação ambiental. Hoje já é amplamente reconhecida na literatura econômica que a contraposição entre desenvolvimento baseado em uma economia verde/bioeconomia/preservação da natureza/floresta e o desenvolvimento econômico é uma contraposição ultrapassada e não encontra suporte nas evidências científicas. É possível desenvolver modelos de desenvolvimento que aos mesmos tempos que gerem renda, emprego e inclusão e a preservação da floresta e aumento da biodiversidade”.


Precisamos rapidamente desenvolver esses modelos “ganha-ganha”.



Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas