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Indígenas isolados saqueiam aldeia e povo Manchineri teme derramamento de sangue

Por
Leônidas Badaró

No último dia 31 de outubro, uma aldeia da Terra Indígena Mamoadate, localizada no município de Assis Brasil (AC), foi saqueada pelo grupo de indígenas isolados Mascho-Piro, considerado o povo mais isolado do mundo.


Segundo denúncia recebida pelo ac24horas, os indígenas isolados saquearam uma das casas da aldeia, levando terçados, roupas e cobertas. Para se proteger, os indígenas da comunidade estão todos reunidos na Aldeia Extrema. A área tem cerca de 49 famílias, com mais de 250 pessoas, entre eles, muitas crianças e idosos.


Representantes da comunidade conversaram com a reportagem do ac24horas e relatam o temor da volta dos isolados e a possibilidade de um confronto na localidade.


Lucas Manchineri, liderança da aldeia Extrema e presidente da Associação Manxinerune Ptohi Phunputuru Poktshi Hajene (MAPPHA), conta que a comunidade, mesmo tendo enviado uma carta às autoridades, não está recebendo ajuda do poder público. “Há muito tempo estamos alertando as autoridades brasileiras sobre isso. É uma reivindicação antiga, sempre colocamos em alerta para que as autoridades evitassem o que está acontecendo. A gente não quer confronto com eles, mas precisamos de ajuda”, conta Lucas.


A liderança indígena conta ainda que, além da intervenção das autoridades para evitar um confronto, a comunidade precisa de ajuda com alimentação. “Nós estamos todos reunidos em um único local e orientamos que ninguém saia para pescar ou caçar. Por isso, além de tudo precisamos alimentar a comunidade. O rio está muito seco, se eles chegarem aqui, a gente não tem como sair”, explica. Com o nível baixo do rio, a viagem de Assis Brasil até a comunidade pode durar até três dias.


A reportagem conversou também com Mailson Manchineri, diretor da aldeia. Ele conta que a comunidade está apreensiva. “Estamos preocupados, vemos essa falha do estado, não temos apoio, já alertamos. Estamos fazendo a conscientização dos parentes para que não ocorra nenhum tipo confronto. Não teve nenhum tipo de violência porque nós antecipamos e a gente já tinha tirado essas famílias de lá para evitar problema”, afirma.


VEJA O VÍDEO:


Um dia antes do saque, uma família que pescava em um lago avistou os isolados e a comunidade retirou as famílias antes da invasão.


Lucas afirma que se nada for feito e os isolados voltarem a entrar na comunidade, pode ocorrer um episódio de violência. “Se o poder público não reagir, nós vamos ter que resolver da nossa forma, se fala tanto em apoio aos isolados, mas quando acontece alguma coisa dessas, não aparece ninguém”, explica.


Vídeos e fotos mostram o resultado do saque feito na aldeia pelos isolados. Uma carta foi enviada às autoridades, mas a comunidade relata que não houve resposta até o momento. Veja abaixo:


Pedido de apoio emergencial para as aldeias Extrema e Lago Novo Terra Indígena Mamoadate – Acre                                         


No dia 31 de outubro de 2024 pescadores vindos da aldeia Santa Cruz estavam em viagem aos Três Lagos e observarem muitos rastros dos indígenas isolados e escutaram seus arremedos (sons de imitação de animal). Eles voltaram de lá e notificaram os monitores da aldeia Extrema. Os monitores foram até a área e confirmaram os rastros, que indicam a presença de um grande número de pessoas. No dia seguinte, uma casa na aldeia Extrema foi saqueada pelos parentes desconfiados, conhecidos como Mashco-Piro. Os isolados saquearam todas as panelas, facas, terçados e peças de roupa, cobertas e redes. Desde que os Mashco começaram a se aproximar mais das aldeias Lago Novo e Extrema, é a primeira vez que eles saqueiam uma casa, o que deixou todas as pessoas das aldeais Extrema e Lago Novo em imensa apreensão.


Diante dessa situação, que indica a possibilidade de um contato iminente, a Associação Manxinerune Ptohi Phunputuru Poktshi Hajene (MAPPHA) vem, através deste ofício, solicitar às instituições de governo e apoiadoras de nosso trabalho auxílio para a aquisição e disponibilização dos insumos e serviços especificados abaixo, essenciais para segurança de nossas famílias neste momento tão delicado. Importante considerar que parte das famílias da aldeia Extrema teve que deixar as suas casas, indo passar alguns dias no centro da aldeia. Além disso, as pessoas não poderão caçar ou pescar normalmente enquanto não tiverem certeza de que não correm risco, e terão que suspender o trabalho nos roçados. Atualmente, a aldeia Extrema é formada por 49 famílias (256 pessoas), e a aldeia Lago Novo é formada por 30 famílias (143 pessoas). 


Aldeia Extrema


– Kits para evacuação emergencial das famílias: 49 mochilas de viagem; 49 lanternas com dois pares de pilha cada; 49 pares de rádio comunicador (tipo walkie talkie Baopheng 777s).


– 2000 litros de gasolina em 10 corotes de 200 litros (para deixar estocado no Icuriã).


– 50 palhetas para motor de 6HP.


– 50 palhetas para motor de 13HP.


– 48 litros de óleo do casco.


-196 cestas básicas (4 cestas por família).


Além desses insumos, a comunidade da aldeia Extrema solicita que seja adquirido carne na própria aldeia, enquanto não pudermos retomar nossas atividades de caça e pesca normais.


Aldeia Lago Novo


– Kits para evacuação emergencial das famílias: 30 mochilas de viagem; 30 lanternas com dois pares de pilha cada; 30 pares de rádio comunicador (tipo walkie talkie Baopheng 777s).


– 600 litros de gasolina em 3 corotes de 200 litros (para deixar estocado no Icuriã).


– 50 palhetas para motor de 6,5HP.


– 24 litros de óleo do casco.


-120 cestas básicas (4 cestas por família).


Além desses insumos, a comunidade da aldeia Lago Novo solicita que seja adquirido carne na própria aldeia, enquanto não pudermos retomar nossas atividades de caça e pesca normais.


As cestas básicas devem ser levadas às aldeias de helicóptero, pois o rio Iaco ainda está extremamente raso, tornando impossível o transporte por via fluvial. Acreditamos que o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) pode intermediar uma solicitação ao Exército Brasileiro para a disponibilização de aeronave para essa finalidade., e para uma possível situação de emergência  evacuação  na aldeia Além disso, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI) pode disponibilizar um carro para percorrer o ramal do Icuriã nas situações de emergência, e a Secretaria Especial de Saúde Indígena deve reservar horas-vôo para a remoção de pacientes nos casos mais graves.


Nos últimos anos, nós, Manxineru das aldeias Extrema e Lago Novo, estamos alertando as autoridades do governo brasileiro sobre a situação de risco que corremos com a aproximação dos deslocamentos dos isolados próximos das nossas aldeias. Mais uma vez pedimos que nossas demandas e reinvindicações sejam atendidas, mas também que nossas estratégias e acordos comunitários sejam considerados nos planos de contingência dos órgãos indigenistas (Funai e Sesai) para situação de contato com povos isolados.


Terra Indígena Mamoadate, 02 de novembro de 2024
Associação Manxinerune Ptohi Phunputuru Poktshi Hajene (MAPPHA)


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Leônidas Badaró

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