Em entrevista à Folha, Evo Morales acusou o atual presidente da Bolívia, Luis Arce, seu ex-aliado, de estar ciente de planos para eliminá-lo “politicamente e fisicamente”.
Morales, que liderou o país de 2006 a 2019, afirmou que foi vítima de uma emboscada no domingo (27), supostamente organizada com o objetivo de assassiná-lo. O ex-presidente também comentou sobre as acusações relacionadas a crimes sexuais que enfrenta.
O sr. e pessoas próximas disseram que membros do governo Arce tentaram assassiná-lo, especialmente o ministro Eduardo Del Castillo. Essa também é uma acusação direta contra o presidente?
“Chegaram a mim com esse plano [para me eliminar] em janeiro de 2022, [vindo] da equipe de comunicação do Ministério do Governo. Entre agosto ou setembro houve uma reunião, eu tinha contato com Lucho Arce. Mostrei: “Lucho, presidente, o que é isso? Um plano para eliminar politicamente Evo”. Ele se assustou e então me disse: “Vou investigar”. Até agora, nada”.
O que o sr. está dizendo é que Lucho tinha conhecimento de um plano para aniquilá-lo politicamente e não fez nada?
“Exatamente”.
Mas no caso da suposta tentativa de assassinato, a quem dirige sua acusação? Ao presidente ou ao ministro Castillo?
“O ministro tem que fazer o que diz o presidente. O ministro não é autônomo, não é independente. Lucho nem sequer me ligou. Teria que ligar, expressar solidariedade e prometer que iria investigar. Repito: o ministro faz o que ordena o presidente”.
O governo disse que investigará a possibilidade de um autoatentado e falou em um teatro armado pelo senhor.
“Dizem que era uma operação de narcóticos. Mas os policiais não estavam com uniforme de narcóticos. Não estavam com o carro da Força Especial de Luta contra o Narcotráfico. Ontem uma capitão me disse que o plano era, se não me detivessem, me matar”.
O sr. era padrinho político de Arce, então imaginávamos que as ideias fossem as mesmas. O que houve para essa ruptura?
“Estou demonstrando como Lucho “se direitizou” programaticamente. Não posso entender como em junho, durante o golpe ou autogolpe, a Embaixada dos Estados Unidos o defendeu. Quando no mundo, especialmente na América Latina, os EUA vão defender um governo de esquerda? Nunca”.
Existem acusações de abuso sexual e de tráfico de menores contra o sr. O que pode dizer? Teve relações com menores?
“Isso é de 2020, da ditadura [referência ao período sob governo de Jeanine Áñez, depois presa sob acusação de conspiração e de tramar um golpe contra Evo]. Não encontraram nada, encerraram. Isso é um fato puramente político”.
Acho importante que expliquemos isso. Qual relação o sr. tinha com essas meninas que eram menores? Mayara, quer que façamos assim?
“Isso é humilhar a família. Não vamos falar desses temas. Repito: me investigaram no golpe de Estado, não encontraram nada. Pelo código de processo penal, não se investiga duas vezes”.
VEJA O VÍDEO: REPRODUÇÃO/FOLHA DE SÃO PAULO
FONTE: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
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