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Prevenção e resiliência: sementes para uma nova gestão pública

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Editorial ac24horas

2024 demonstrou não ser um ano para amadores. E o assunto aqui longe estará do ambiente de eleição. 2024 não foi um ano para amadores no que se refere às questões ambientais. Rio Branco foi um local onde os extremos climáticos ficaram evidentes. E, na Capital, nenhum lugar representou tão bem essa era de extremos quanto o Rio Acre.


Entre fevereiro e março de 2024, o Rio Acre passou pela segunda maior cheia, desde o início da série histórica registrada primeiramente em 1971. As águas alcançaram 17,86 metros. E em setembro registrou-se o menor nível, com 1,23 metros. Nunca esteve tão raso, em 53 anos de medição.


No Acre, os eventos climáticos extremos não fazem parte de teses complexas e restritas ao entendimento de alguns ilustrados. Nada disso. Aqui, o aquecimento global, o racismo ambiental estão ao alcance de qualquer vista. Basta querer ver. Em um cenário como esse, claro está também que a população de baixa renda é a primeira e mais gravemente afetada e a última a se recuperar (quando consegue).


O fenômeno climático vindouro em condições já confirmadas é o La Niña. A diminuição da temperatura do Oceano Pacífico, esse que banha o nosso vizinho Peru, provoca alterações climáticas em escala global. No Brasil, para sintetizar a explicação, o La Niña provoca seca na região Sul do país e muita chuva no Norte e Nordeste.


E é neste ponto da discussão que o ac24horas se debruça. Todas (frise-se: todas) as autoridades públicas do Acre estão cientes que esse fenômeno (La Niña) será rigoroso. Até mesmo os frequentadores dos botecos de copo mais sujo profetizam sem nenhum pudor: “Esse ano, a chuva vai ser danada!”. Ora, se o conhecimento do fenômeno é consensuado desta forma, por que não se observa movimentações das autoridades públicas pelejando pela prevenção? O que está por trás da apatia?


O único que esboçou alguma reação foi o coordenador da Defesa Civil de Rio Branco, Cláudio Falcão. Defende que a Prefeitura de Rio Branco antecipe a retirada de famílias que moram em áreas mais vulneráveis à cheia do Rio Acre. Para ele, quando a régua de medição registrasse o nível “10 metros”, a prefeitura já deveria iniciar a remoção dessas famílias.


A sugestão de Falcão é um desses casos em que a prudência oferece as mãos à obviedade. O prefeito Tião Bocalom só não atenderá ao que sugeriu o coordenador da Defesa Civil de Rio Branco ou por orgulho ou por vaidade por não ter sido ele, Bocalom, o porta voz da boa nova. Mas é o que precisa ser feito.


A Prefeitura de Rio Branco precisa se antecipar a um fenômeno climático que até os bêbados estão prevendo. “E se a danada da La Niña não vier?”, pode se apressar um desses assessores de Bocalom. Caso não venha, nenhum órgão de fiscalização irá responsabilizar o prefeito por ter se precavido de custos muitos maiores, caso a PMRB não tivesse tomado medidas preventivas. A gestão pública precisa criar cultura de que prevenção a problemas é economia de dinheiro do povo.


Em âmbito estadual, os demais municípios deveriam acompanhar o entendimento do coordenador da Defesa Civil de Rio Branco. À exceção do município de Tarauacá (onde o regime de cheia dos rios da região é muito diferenciado), todos os demais poderiam estabelecer referências semelhantes à proposta por Falcão na Capital, respeitando a medição que cada geografia exige, claro.


Evidente que a criação de uma “cultura pela resiliência” muda muita coisa. A mudança mais traumática para o universo da política é que a resiliência funciona como uma espécie de “vacina” contra o populismo climático: fica mais difícil um prefeito ser “flagrado” por um fotógrafo com água até a cintura, carregando fogão, crianças ou sacolões. A resiliência também compartilha soluções: a reação ao fenômeno climático é coletivizada. Não tem a digital de um suposto salvador emergido das águas.


A resiliência também é pedagógica para o próprio povo, na medida em que, seja na estiagem ou nas cheias dos rios, ficam evidentes os tratos irresponsáveis que muitas comunidades tratam seus rios e suas matas. A resiliência e a prevenção ensinam a todos. O desafio é querer aprender. Quem está disposto?


Olhos
“… a resiliência funciona como uma espécie de “vacina” contra o populismo climático: fica mais difícil um prefeito ser “flagrado” por um fotógrafo com água até a cintura, carregando fogão, crianças ou sacolões…”


“… A gestão pública precisa criar cultura de que prevenção a problemas é economia de dinheiro do povo”


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