As falhas no fornecimento de energia elétrica no Acre são consequências de eventos climáticos extremos. É o que defende André Amarante, gerente de Operações da Energisa/AC. A interrupção é uma espécie de proteção do Sistema Interligado Nacional. “Desligamentos do sistema são inerentes, especialmente em eventos climáticos adversos, cuja ocorrência é, inclusive, prevista em normas regulatórias”, explica Amarante.
Esses “desligamentos” previstos e regulados em lei integram o sistema. Isso quer dizer que o evento climático adverso pode acontecer em um ponto distante da área afetada. No Acre, essa conexão ao SIN (Sistema Interligado Nacional) ocorre por três linhas de transmissão de alta tensão vindas de Rondônia. Essas linhas de transmissão não são gerenciadas pela Energisa.
Para efeito de comparação: em todo mês de setembro, foram registradas 10 ocorrências de interrupção de energia elétrica. O mês de outubro nem acabou e já foram contabilizadas 15 interrupções, sendo 5 delas em um único dia, o dia 18/10. Foi a sexta-feira da semana passada. Um dia de fortes temporais em praticamente toda a cidade (14 quedas de árvores e dois destelhamentos).
É preciso “traduzir” a fala do gerente de Operações da Energisa para não alimentar falsas expectativas. Quando ele afirma que os desligamentos são “inerentes”, são próprios, são características do sistema, ele está dizendo, de forma polida, que “é assim mesmo”. Quando o fornecimento de energia é interrompido por algumas interferência no SIN, é porque o sistema está funcionando bem. Esse é um ponto.
Outra sutileza na fala dele guarda relação com questões legais. Quando ele diz “(…) cuja ocorrência é, inclusive, prevista em normas regulatórias (…)”, o que ele está apresentando entre uma linha e outra? O gerente de Operações da Energisa está dizendo: “quando isso [interrupção] ocorre, nessas condições específicas, estamos respaldados legalmente e a agência que fiscaliza nossa atividade sabe que a regra é essa”. A “agência”, no caso concreto, é a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).
Dos 22 municípios acreanos, 15 recebem energia elétrica por meio do SIN. A inclusão dessas cidades ao sistema é apontado como um “avanço” porque estar no SIN é, na prática, abandonar a geração de energia por meio das termelétricas, mais poluidoras e mais caras porque usam a queima do óleo diesel para transformar energia térmica em energia elétrica. O SIN é gerenciado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS).
“Esses desligamentos são a causa da instabilidade no fornecimento de energia. Em setembro, foram registradas dez ocorrências desse tipo, enquanto em outubro, até o momento, foram quinze, incluindo cinco ocorrências apenas no dia 18. Todas relacionadas a falhas no SIN, que impactaram diretamente o sistema de distribuição de energia no Acre”, detalhou Amarante.
Aqui, há outra sutileza na fala do diretor de Operações. A expressão “(…) todas relacionadas a falhas no SIN (…)” induz o cidadão a entender que “se o SIN não tivesse falhado, a Energisa teria garantido a distribuição normalmente”.
A Secretaria de Meio Ambiente de Rio Branco realizou 2.077 podas de árvores entre janeiro e setembro. O pico do trabalho de poda aconteceu em março quando foram realizadas 413. Esse serviço é responsabilidade exclusiva das prefeitura. Mas a Energisa também acaba tendo que ajudar.
É um trabalho emergencial que a distribuidora faz para não comprometer o serviço de fornecimento de energia. “Quando essa poda preventiva não é realizada e os galhos ficam próximos à rede elétrica, emergencialmente, a Energisa faz a poda com o objetivo de preservar a segurança das pessoas e do sistema elétrico”, afirma o diretor de Operações da distribuidora.
Quando uma árvore cai na rede elétrica, a Energisa precisa esperar pelo trabalho de remoção, feito pelo Corpo de Bombeiros, para poder recompor a rede elétrica.
A Energisa informa que a destinação dos resíduos da poda, na Capital, obedece a um acordo de cooperação entre a empresa e a Prefeitura de Rio Branco. Os resíduos são levados para a Unidade de Tratamento de Resíduos Sólidos e transformados em adubo para ser usado em jardins de espaços públicos.
A Energisa/AC descartou investimentos de instalação de rede subterrânea para evitar problemas de “quedas de árvores” na rede elétrica. A empresa segue o entendimento da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica que realizou estudos e trouxe esclarecimentos sobre o assunto.
A Abradee também reforça que o contexto das empresas distribuidoras é fortemente pressionado pelas condições climáticas extremas. “Eventos climáticos extremos são um grande desafio para o serviço de distribuição de energia. Mas o enterramento dos fios não é a solução para todos os problemas”, assegura a associação.
De acordo com a Abradee, o custo do enterramento é 8 a 10 vezes mais caro, comparado à rede aérea. Dessa forma, o empobrecido consumidor acreano não tem condições de bancar essa estrutura já que o custo é repassado ao usuário do serviço.
A Abradee elenca uma série de obstáculos para a implantação do enterramento da rede elétrica: alto custo de manutenção, dificuldades de instalação, árvores com raízes profundas, regiões sujeitas a enchentes. “Nas cidades que não contam com um planejamento de expansão, a criação de redes subterrâneas é muito complexa. Além disso, muitas cidades já tem o subsolo ocupado por redes de saneamento, pluviais, de gás e telecomunicações e instalar redes de energia pode ser inviável”, diz a associação.
A Associação Brasileira de Distribuidoras de Energia Elétrica defende necessidade de haver duas prioridades: planejamento urbano e fortalecimento do trabalho em parceria entre o poder público e as empresas de distribuição de energia elétrica.
Para as empresas, o que deve haver é poda frequente das árvores, como prevenção, e plantio de espécies menores. “Principalmente, em grandes centros, onde não há espaço adequado para as raízes”.
E o trabalho em parceria entre o poder público e as empresas traria maior capacidade de reação às consequências dos eventos climáticos extremos. “O trabalho conjunto é fundamental para a prevenção e rápida resposta em situação de eventos climáticos extremos”.
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