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Cérebro de Maguila será doado para estudos na USP; entenda

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Da redação ac24horas

Morto nesta quinta-feira, 24, aos 66 anos, José Adilson Rodrigues dos Santos, o Maguila, terá seu cérebro doado à Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) para aprofundar os estudos acerca da encefalopatia traumática crônica (ETC), da qual sofria o lutador. Em 2018, ele concordou em doar o órgão, com o consentimento da família, para a universidade.


Maguila foi diagnosticado com a doença em 2013, que não tem cura. Informalmente, ela é chamada de “demência do pugilista”, resultado dos constantes golpes na cabeça que os lutadores sofrem ao longo da carreira. A FMUSP conta com grupo de pesquisa que estuda justamente o impacto dessas pancadas e concussões em atletas, dos mais diferentes esportes – boxe, rúgbi, futebol, entre outros.


Para realizar a doação do órgão, além de Maguila ter preenchido o termo, em 2018, declarando seu desejo em doar seu cérebro para a FMUSP, é preciso que a família autorize o processo. Além de Maguila, Éder Jofre, ex-pugilista morto em 2022, e Bellini, capitão do Brasil na conquista da Copa do Mundo de 1958 e morto em 2014, também doaram seus cérebros para a FMUSP.


Eles ficam armazenados no instituto, que conta com o único banco de cérebros do Brasil e da América Latina.“É importante para o País e para USP ter esses experimentos realizados em nosso território”, contou Renato Anghinah, neurologista e professor livre docente na Universidade de São Paulo (USP), ao Estadão em 2022. O médico foi responsável por acompanhar tanto Éder Jofre quanto Maguila nos últimos anos.


“Esse banco é importante pois permite que o Brasil participe de discussões na área científica e esteja em contato com a maioria dos países do mundo.” O estudo visa criar medidas de prevenção para a doença. No caso de Bellini, inicialmente acreditava-se que o zagueiro sofria do mal de Alzheimer, que destrói a memória e outras funções do cérebro. Os resultados da pesquisa, divulgados em congresso, revelaram o quadro de ETC.


O que é a encefalopatia traumática crônica?


A encefalopatia traumática crônica é uma doença no encéfalo – uma das regiões do cérebro – causada por traumas e choques mecânicos constantes (“crônicos”). Ela é comum em atletas, mas também é observada em soldados e ex-combatentes de guerras.


É causada por uma degeneração progressiva de células cerebrais, causada por diversas lesões na cabeça. Para o diagnóstico clínico é preciso que o paciente realize exames de imagem e ultrassom. O histórico de lesões e sintomas presentes na encefalopatia – como depressão, raiva, perda de memória etc – ajudam no diagnóstico.


“Mais ou menos 50% das lesões cerebrais em jogos de contato são causadas pela desaceleração e aceleração do cérebro. Não precisa encostar na cabeça do indivíduo para ter lesão no cérebro”, explicou Anghinah. “Num momento, um jogador e seu cérebro estão a 30 km/h. Aí ele sofre o tackle. E, milissegundos, a velocidade vai a zero. O cérebro está solto e chacoalha dentro da caixa craniana. Um atleta pode sofrer um tackle, sem choque de cabeça, e cair desacordado no gramado. E nem bateu a cabeça. Por quê? Porque a desaceleração brusca pode lesar o cérebro.”


Não há um tratamento específico ou cura para a encefalopatia, mas medidas de suporte para os pacientes podem ser tomadas. Dentre estas, destaca-se a construção de um ambiente seguro, iluminado e confortável. Em casos avançados da demência, medidas paliativas podem ser adotadas ao invés de internações hospitalares.


Quem foi Maguila


Nascido em Aracaju, Sergipe, Maguila teve 77 vitórias (61 nocautes), 7 derrotas e um empate em seu cartel como profissional, tendo sido campeão brasileiro, das Américas e mundial de boxe na categoria peso-pesado.


Dentre suas derrotas no ringue, Maguila teve duas emblemáticas contra dois dois maiores de todos os tempos da modalidade: George Foreman, em 1990, e Evander Holyfield, em 1989. Contra Holyfield, o combate valia o cinturão do WBC.


Ele se aposentou dos ringues no ano 2000. Ao longo de sua carreira, Maguila se notabilizou pelo carisma das entrevistas pós-luta, onde citava uma imensa lista de agradecimentos. Depois, chegou a trabalhar na TV Record ao lado de Tom Cavalcante no programa “Show do Tom”.


Fonte: Estadão


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