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Uso da máquina pública e erros de campanha explicam resultados eleitorais melhor que ideologia

Por
Irailton Lima

O que deu errado na campanha de Marcus Alexandre? Por que, apesar da dianteira expressiva no início da campanha, o candidato do MDB chegou ao final da disputa com 20 pontos percentuais a menos que Tião Bocalom?


Nos últimos dias, ainda como parte da ressaca eleitoral, alguns dirigentes emedebistas deram declarações públicas em que apontam a aliança com partidos de esquerda como razão para a derrota de seu candidato, esquecendo que o partido perdeu não apenas em Rio Branco, mas em praticamente todo o estado, e não só nesta, como em todas que disputou como cabeça de chapa nas últimas quatro ou cinco eleições.


Analisar uma eleição é sempre importante para se evitar a repetição de erros e tirar lições da experiência vivida. O problema é quando a análise é precária, ruim. Aí o melhor é ficar calado, porque, ao invés de ensinamentos, fica a impressão que sobram ressentimentos.


E os erros do MDB, não existiram? É provável que sim, afinal, o partido perdeu eleições dadas como certas também em Cruzeiro do Sul, com Jessica Sales, e Brasileia, com Leila Galvão. Por outro lado, os acertos do adversário têm que entrar na equação. Bocalom fez uma campanha irretocável, seja na estratégia, ou na condução. Talvez aí, precisamente, esteja o determinante do resultado. Porque, afinal, o desfecho pode mesmo ser visto mais como vitória de Bocalom do que como derrota de Marcus Alexandre. Voltaremos a essa questão mais adiante.


Uma avaliação eleitoral requer também um pouco de distanciamento e um certo controle das emoções e dos interesses de curto prazo. Apesar disso, vamos aqui nos embrenhar por essa floresta complexa e hostil, pontuando algumas “variáveis” que podem ter tido forte influência no resultado. Vejamos.


  • A primeira e mais importante, sem dúvidas, foi o uso intensivo, para não dizer escandaloso, da máquina pública. E isso vale tanto para Rio Branco quanto para os outros dois municípios mencionados. Os candidatos da situação e aliados do Palácio Rio Branco contaram com as estruturas de governo e prefeituras para resolver problemas de última hora em todas as frentes. Durante as campanhas, por exemplo, ramais ruins e ruas esburacadas desapareceram. A eficiência não vista em períodos normais apareceu com absurda diligência durante o prazo necessário para impressionar e afagar os eleitores. Outra forma de uso da máquina deu-se na mobilização de cargos comissionados e trabalhadores terceirizados para a conquista de votos e para os eventos de campanha. Essa tática, exaustivamente usada pela Frente Popular ao longo das duas décadas de hegemonia política, garante robustos eventos e um exército inigualável de cabos eleitorais durante todo o processo eleitoral. Isso literalmente esmagou as campanhas adversárias.
  • Como consequência direta do uso da máquina, a candidatura de Tião Bocalom, assim como as de Zequinha Lima e Carlinhos do Pelado, contou com recursos financeiros muitas vezes superiores aos do adversário direto. Não um pouco mais. Milhares de vezes a mais, desbalanceando o jogo democrático e criando uma situação de completa assimetria. Enquanto os candidatos do MDB em Rio Branco, Cruzeiro do Sul e Brasileia não dispunham de dinheiro nem para abastecer os carros da campanha, os da situação, diga-se, do PP, se davam ao luxo de garantir gasolina farta para qualquer um que tivesse disposição para participar de suas imensas carreatas. O que falar então do famoso “recurso do dia”, que, nessas horas, abastece os candidatos a vereador e garante a já clássica compra de votos na reta final da campanha.
  • No caso de Rio Branco, vale ainda acrescentar a diferença de tempo de TV, o tamanho das chapas de vereadores e a cobertura da mídia, compreensivelmente mais simpática ao candidato detentor das chaves dos cofres públicos. O tempo de TV de Tião Bocalom era praticamente o dobro do de Marcus Alexandre. Isso garante ao candidato construir “narrativas” sobre si próprio e atacar o adversário sem correr riscos, dada a diferença de acesso à intimidade dos eleitores, viabilizada pela televisão. Contar com uma vasta rede de candidatos proporcionais é um diferencial competitivo determinante numa eleição. Ǫuanto mais candidatos, mais porosa e poderosa é a campanha. Mais ainda se o candidato cabeça-de-chapa dispõe de recursos financeiros para “irrigar” esses candidatos.
  • Uma variável que, por vezes, passa despercebida nas análises é a qualidade do argumento político. E aqui, talvez, tenha residido o principal erro do MDB. Mais do que acertos de Bocalom, foram os erros da campanha de Marcus Alexandre que alimentaram a subida do adversário. Em nenhum dos grandes enfrentamentos da campanha o MDB ganhou a disputa. Fosse a crítica ao “Asfalta Rio Branco”, o debate sobre honestidade versus corrupção, a participação do senador Petecão, enfim, em todas as refregas diretas o candidato da situação venceu a “narrativa”. Aqui vale um registro específico: Marcus errou no dito “posicionamento estratégico”. O que isso significa? Ǫue ele adotou uma postura ao longo da campanha que não se mostrou adequada ao ritual eleitoral dos tempos atuais. O Marcus Alexandre cândido, imaculado, bom moço e inofensivo não cabe na disputa por votos atualmente. O jogo está mais para políticos determinados, destemidos e “mordedores” do que para meninos de vó que anunciam “deixar vovó”. Esse erro foi fatal, deixando a Bocalom o papel de pautar a eleição e controlar o jogo, por vezes se comportando como se fosse ele, e não Marcus, o candidato de oposição.

Por fim, a meu ver, um dado ajuda a expor o erro de análise dos que imputam aos aliados de esquerda a razão da derrota: as pesquisas, na reta final, mostraram Marcus e Bocalom com a mesma rejeição junto ao eleitorado. O que indica que essa não foi uma eleição decidida na negação. O eleitor não votou no “menos pior”, mas naquele que melhor se apresentou aos seus sentidos. Ou seja, não foi por seu passado ou pelas companhias que Marcus perdeu. Ele sequer saiu menor desta eleição. O eleitor, convencido pela força da campanha de Bocalom, diga-se, da máquina (pública) eleitoral, achou por bem dar-lhe mais quatro anos para concluir seu “trabalho”. Simples assim.


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