No próximo domingo os eleitores de todo o país irão às urnas para a eleição dos prefeitos de nossas cidades. Na grande maioria, ou seja, nas cidades com menos de 200 mil eleitores, o resultado será final, pois a legislação assim impõe. Naquelas com mais de 200 mil, será ou não. Normalmente não, pois dificilmente uma candidatura se projeta de tal modo favorita que alcance 50% mais 1 dos votos úteis. Muitos duelos terão uma segunda fase, conforme as pesquisas.
Em Rio Branco, a possibilidade de vitória em primeiro turno parece remota, ainda que possível. A julgar pelas pesquisas divulgadas até agora, a não ser por ocorrência de fato fortuito nos últimos dias, uma opção massiva dos indecisos para um lado, ou uma muitíssimo eficiente mobilização até o dia 06, a eleição irá ao segundo turno entre Tião Bocalom e Marcus Alexandre. Interessa neste texto analisar como chegamos até aqui com os dois favoritos se mantendo na dianteira.
Tivemos uma campanha que se pode desenhar em cinco pontos: de um lado, o do Marcus Alexandre, a confusão ideológica; o carisma do bom moço; a lembrança de gestões passadas; as promessas e os ataques ao adversário. De outro, do Tião Bocalom, tivemos a “amostração” ideológica, o carisma de uma figura paterna e sincera; a exposição das obras e serviços que estão sendo executados; novos compromissos e os ataques ao adversário.
Tudo isso, aliás, foi fartamente demonstrado, especialmente no último debate, realizado pela TV Gazeta (afiliada à Record). Podemos dizer que, de tantas entrevistas e debates, não será por falta de informação que o eleitor deixará de votar. Estamos encharcados de aparições e análises políticas que tentam levar o voto para os candidatos.
Então, encharcados que estamos e prestes a decidir o voto, qual seria o fator determinante para a eleição de Tião Bocalom ou de Marcus Alexandre? Há bastante tempo venho teimando que na falta de um fenômeno outsider tipo Pablo Marçal em São Paulo, o que decidirá a eleição é a ideologia e não o buraco da rua. Nisto, insisto. E demonstro.
Vamos por eliminação. Quantos eleitores visitaram o site do TRE ou por qualquer outro meio, tomaram conhecimento dos Planos de Governo dos candidatos para de sua leitura formar a convicção de seu voto? Arriscaria dizer que são em número ínfimo, não contam no resultado. Quantos de verdade são capazes de dizer que sua opção de voto dependeu desta ou daquela promessa, ou compromisso? Todos prometeram praticamente as mesmas coisas porque, afinal, os problemas são os mesmos e, com algumas poucas exceções, apontam soluções semelhantes.
Quantos eleitores criaram aversão ao seu candidato ou decidiram contra ele por causa da campanha negativa do adversário no último estágio da campanha? Um já andou se explicando com a justiça? Outro foi condescendente com quem deveria defenestrar? Um fez obras porcas? Outro caiu na pegadinha da entrevistadora? Ora, ora. Se os candidatos acham que isso vai construir um resultado eleitoral, estão vivendo no milênio passado. Quando a barra é muito forçada como estamos vendo, o eleitor que hoje tem outros meios de informação percebe e se vira contra o propagador da falsidade.
O carisma ganha? Teve muita gente apostando nisso – “o nosso é um príncipe amigável, o deles é um sapo tosco” disseram. Menos, né? A princesa, digo, o eleitor, tem o poder da escolha e pode ver o “sapo” como um pai protetor e sincero, enquanto o “príncipe” lhe parece um mentiroso enganador. Como a escolha não é pra casar, muita gente dispensa o príncipe astuto. O desenvolvimento da campanha não foi capaz de assentar o propósito de estereotipar o adversário.
A competência administrativa sobre a qual o Marcus pensava nadar de braçada foi de certo modo ofuscada pela névoa do tempo. Seis anos se passaram e sem obras simbólicas, ele teve que se ater a esparsas lembranças remotas. Enquanto isso, Bocalom, dispondo dos meios de ação atuais, mostrou obras e planos claramente palpáveis.
Tem o passado ético do candidato que, penso, é muito importante quando conhecido. Neste ponto o mais importante é não ter mancha, não haver sido condenado já é grande coisa, mas não ter sido julgado é ainda melhor. O sujeito que chega às eleições tendo que explicar o passado, votos que deu (viram, deputados e senadores?), gente que apoiou, alianças que fez, enriquecimento próprio ou de parentes etc., se coloca em palpos de aranha. Nas eleições de Rio Branco, esse tema foi pouco presente, já que nenhum dos candidatos tem condenação passada em cartório. Descondenado eleito, só o nove dedos mesmo. Quer dizer, o eleitor de Rio Branco não teve que fazer a escolha entre um homem honesto e um notório ladrão.
O que sobra de relevante para a decisão do voto? A ideologia, queiram o não. Em PESQUISA da semana passada, verificou-se que os eleitores brasileiros autodeclarados de direita são o dobro (29%) (daqueles autodeclarados de esquerda (15%), o que nos leva ao raciocínio lógico de que, mantendo-se a relação para o caso de Rio Branco (o que seguramente não corresponderia à realidade bem mais à direita), Marcus Alexandre já entrou no jogo com o dobro da antipatia ideológica do eleitorado em relação ao Bocalom. Daí, aliás, o seu esforço em ser empurrado para o centro com a ajuda da mídia e de seus apoiadores.
Sim, a maioria é dos sem ideologia firmada – 40%, afinal, a polarização não é tão grande quanto anunciam por aí e é sobre ela que avançam os candidatos, porém, as possibilidades de que aqueles à direita se posicionem melhor para a conquista é bem grande, pois há o dobro de agentes ideológicos em ação. Por causa disso é que a candidatura do Marcus procurou anular o confronto ideológico da campanha, forçando o debate do buraco no asfalto. Mesmo assim, a ideologia permaneceu subjacente a todos os atos de campanha, tanto que na tentativa bizarra de ligar Bolsonaro ao Marcus, o meme virou contra o candidato e foi limado.
Se nem Lula, nem Marina, nem Jorge Viana, nem qualquer dos figurões do PT deu as caras para ajudar seu candidato, para apoiar o Bocalom, esteve em Rio Branco o Bolsonaro ainda na pré-campanha e a Michele Bolsonaro na última sexta-feira. Para esta terça-feira está programada a vinda do deputado federal Nikolas Ferreira, um fenômeno do conservadorismo brasileiro. Apenas isso decide uma eleição, Bolsonaro transfere todo o seu eleitorado? Claro que não, bobinho, mas demarca os campos ideológicos que servem de base sobre a qual se desenvolve a campanha. Leia-se: Marcus distanciou-se da esquerda, Bocalom abraçou-se com a direita. Isto é, ideologicamente, Bocalom venceu sem precisar debater, a esquerda sumiu.
De todo modo, essas são apenas impressões particulares de um observador que não tem participação direta em campanhas há tempos. Espero que no domingo o eleitorado de Rio Branco acorde animado e cresça politicamente praticando a democracia. Que falem as urnas e vença o melhor!
Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS e, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no DIÁRIO DO ACRE, no ACRENEWS e em outros sites. Quem desejar adquirir seu livro de contos mais recente “Pronto, Contei!”, pode fazê-lo através do e-mail valbcampelo@gmail.com.
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