A desembargadora aposentada do Tribunal de Justiça do Acre (TJAC), Dra. Eva Evangelista, concedeu nesta sexta-feira (13) uma entrevista ao jornalista Roberto Vaz, no programa do Bar do Vaz, do ac24horas. Primeira mulher a ocupar o cargo de desembargadora no Acre, Eva Evangelista tem uma carreira marcada por sua atuação em defesa dos direitos humanos e da mulher, sendo uma referência no Judiciário acreano pela aplicação da lei.
Com 49 anos de dedicação à magistratura acreana, falou sobre o momento em que participou da sessão solene. Segundo Eva, a cerimônia foi uma mistura de emoções vividas. “Roberto, eu me senti bem, eu prometi a mim mesma que não iria chorar. Até porque eu compreendo que a vida tem ciclos, e esses ciclos, aquele meu ciclo estava terminado, o ciclo da jurisdição, o ciclo de julgamento de consciências”, afirmou.
Ela também falou sobre as experiências compartilhadas com colegas aposentados, que frequentemente descrevem o sentimento de confusão ao perceberem que já não fazem parte da rotina diária do tribunal. “Alguns colegas que aposentaram me diziam que eles se viam trocando o terno para ir para à sessão, e depois percebiam que não estavam mais em atividade. Nós somos pessoas. Eu fico muito feliz em ser chamada Eva”, destacou.
Evangelista mencionou o desejo de participar de momentos simples e cotidianos, como almoços e cafés da manhã, algo que não foi possível durante os anos de intensa dedicação ao trabalho. “Eu quero estar mais próxima deles, saber almoçar com eles, jantar, enfim. Tomar café da manhã, gosto muito do café da manhã, de preparar a mesa do café”, relatou.
Durante a entrevista, Eva Evangelista refletiu sobre algumas decisões que tomou ao longo de seus 49 anos de carreira jurídica e como a maturidade adquirida ao longo do tempo teria influenciado suas escolhas.
“Se eu tivesse a maturidade de hoje, não só uma, mas muitas decisões, eu não teria utilizado somente a aplicação da lei do direito”, confessou. Ela destacou que, durante a década de 1970, muitas questões relacionadas à terra e direitos eram conflitantes. Em uma de suas decisões, deferiu uma reintegração de posse em um sítio, que resultou em um desfecho trágico. “Eles mataram a pessoa. Isso me preocupou muito”, relatou.
Eva revelou que, apesar de não se considerar responsável pela morte ocorrida, o peso da decisão a afetou profundamente. “O padre Heitor disse ao bispo que eu não poderia comungar, que eu seria responsável pela morte daquele homem. Eu não me sentia responsável, mas se fosse hoje, nós teríamos uma condição de fazer uma conciliação antes”, explicou.
Ao ser questionada sobre a importância na magistratura, Eva Evangelista compartilhou suas reflexões sobre o reconhecimento e a importância de sua trajetória no Tribunal de Justiça do Acre (TJAC). “Eu não tinha essa dimensão, sinceramente. Sempre estive tão envolvida com meu trabalho que não percebia o tamanho da importância que tinha”, afirmou a desembargadora.
Durante a cerimônia de aposentadoria, Eva Evangelista foi vista sorridente e aplaudida, um momento que ela descreveu como extremamente significativo. “Eu pedi a Deus que me permitisse sair feliz e, de fato, foi o que aconteceu. A palavra de Deus diz que o fim pode ser melhor do que o começo, e eu senti isso claramente”, relatou. Ela recordou seus primeiros anos no Judiciário, começando como juíza substituta em junho de 1975, e o carinho que recebeu de colegas e mentores ao longo de sua carreira. “Fui muito cercada pelo carinho dos meus professores e colegas. Nunca senti preconceito, apenas apoio e reconhecimento”, disse.
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