Estudo da Fundação Getúlio Vargas relaciona a influência que fenômenos climáticos extremos têm na reeleição de prefeitos. A pesquisa foi defendida para o doutoramento de Ítalo Lopes que fez a combinação de indicadores sócio-econômicos a um indicador de impacto de desastres.
Na abertura do trabalho, ele aponta o objetivo do estudo. “Analisar como sistemas políticos democráticos garantem a evolução permanente de resiliência urbana para a gestão de desastres naturais”, explicou. O Brasil foi escolhido, segundo o pesquisador, por ser um país do Sul global com elevada desigualdade socioeconômica e por sofrer diversos tipos de desastres naturais.
Há um tripé na relação entre esses desastres naturais e política traçado na pesquisa. Os vértices do tripé são: 1º) adaptação aos desastres e capacidade de reação (“evolução da resiliência urbana”); 2º) fortalecimento institucional que resulta em menor impacto dos desastres naturais; 3º) influência dos desastres na probabilidade de reeleição de prefeitos. O ano estudado é 2016.
A síntese do trabalho é de que, sim, há relação direta entre os desastres naturais e a reeleição de prefeitos. Há fatores que influenciam negativamente ou positivamente. Caso o desastre ocorra fora do ano da eleição, a influência é negativa. Ou seja: o prefeito tende a não se reeleger. Caso o desastre natural ocorra no ano da eleição, a probabilidade de reeleição aumenta.
A maior parte das cidades brasileiras não possui capacidade de reação aos desastres naturais sistematizada, protocolada. O Acre, por exemplo, engatinha nesse caminho. Não seria exagero dizer que, no Brasil, poucas são as cidades blindadas ao “populismo climático”.
Essa “blindagem” seria o que o pesquisador chama de “fortalecimento institucional dos municípios” que resulte em menor impacto dos desastres.
Traduzindo: quando os órgãos púbicos trabalham de forma integrada e cada um sabe o que deve ser feito, seguindo protocolos diante dos diferentes tipos de desastres, isso dispensa os prefeitos (ou candidatos) de mergulharem as esperanças de votos em bairros alagados em épocas de inverno ou distribuindo sacolões e despejando água dos carros pipas nas caixas d’água do cidadão em tempos de estiagem.
Rio Branco possui protocolos de resiliência ainda rudimentares. E a execução daquilo que é exigido por uma “cidade resiliente” ainda é muito lenta. Na última alagação, por exemplo, foram centenas de famílias que apontaram falhas do poder público no acolhimento aos desabrigados em vários momentos do desastre natural: da identificação da casa atingida até o retorno da família, foram vários os erros. Não é uma exclusividade acreana. Nem tampouco riobranquense. O país é assim.
Prova concreta de que Rio Branco não é uma “cidade resiliente” é o “populismo climático” que se apresenta de várias formas e cores a cada desastre natural. E nenhum momento é mais simbólico do que a alagação, seja do Rio Acre ou nos repiquetes do Igarapé São Francisco.
Os atuais candidatos à Prefeitura de Rio Branco, por exemplo, não exitam em se deixar flagrar de canelas ou cinturas molhadas, alguns simulando tristeza e introspecção diante do caos urbano a que se oferecem como solução.
Nesse aspecto, Marcus Alexandre e Tião Bocalom têm vantagens porque os flashes foram feitos por profissionais de uma assessoria especializada para isto: mostrar que naquele ano fatídico, com eleição marcada em outubro, aquele homem ali, carregando fogão, colchão e menino danado nos braços “está fazendo o que é possível para ajudar”. É esse raciocínio do eleitor que alimenta o “populismo climático”. É a falta de uma “educação para a resiliência” que alimenta o ciclo negativo.
Janilson Leite e Emerson Jarude têm o mesmo ímpeto dos outros dois colegas. Já molharam as canelas em busca de votos. Nenhum deles decide entrar na água desacompanhado de fotógrafos, cinegrafistas ou digitais influencers. Nesse caso, nenhuma ajuda é despropositada.
O estudo da Fundação Getúlio Vargas acaba apontando para um tom de esperança quando entende que “existe uma dinâmica de base local que responsabiliza gestores públicos e impulsiona o desenvolvimento institucional e a evolução da resliliência urbana nos municípios brasileiros”.
Os quatro candidatos à Prefeitura de Rio Branco em momentos de “flagrante” ajudando população alagada nos bairros da Capital durante cheia do Rio Acre ou do Igarapé São Francisco | Imagens: Acervo ac24horas; Redes Socias
De fato é o que tem ocorrido aqui em Rio Branco. Observando o contexto dos últimos 20 anos (para usar como referência o dramático ano de 2005, uma das estiagens mais severas já registradas aqui), a Defesa Civil do Estado e a da Capital iniciaram um movimento de profissionalização sem referência no Acre. Além disso, instrumentos de monitoramento das condições climáticas foram se sofisticando e fazendo parte da rotina dos agentes públicos. A integração com instituições federais como a Ufac e Embrapa foram valiosas nesse processo.
Não são poucos os artigos, estudos, ensaios que relacionam crise climática e Democracia. Os sociólogos, climatologistas, demógrafos têm quase um consenso em torno do tema. Essa relação será cada vez mais intensa. Já é realidade em várias partes do mundo. Em alguns lugares forçando fluxos migratórios por escassez hídrica.
A criação de ferramentas de diálogo para a democracia, nesse ambiente de crise climática, fortalece a ideia de cidades resilientes. E, a partir dessas discussões, emerge o conceito de “Justiça Climática”. As principais vítimas da “injustiça climática” são as populações pretas, indígenas, população LGBTQIA+.
É uma consequência quase matemática: são as populações mais vulneráveis, em condições normais de exclusão. Não seria diferente no momento em que as crise climática atinge a todos.