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Sem atos cívicos em Xapuri, início da Revolução Acreana completa 122 anos

Por
Raimari Cardoso

Em 1903, por meio do Tratado de Petrópolis, articulado pelo diplomata Barão do Rio Branco, o Acre foi anexado definitivamente ao Brasil e o Estado Independente, proclamado por três vezes, acabou definitivamente dissolvido. Mas o capítulo da história que antecedeu esse desfecho começou no dia 6 de agosto de 1902, em Xapuri, que tempos depois passou a ser chamada de “Berço da Revolução Acreana”.


Apesar da sua importância histórica, de maneira especial por ter envolvido brasileiros natos, na maioria nordestinos, dos quais muitos perderam a vida nos combates contra o exército regular boliviano, os eventos ocorridos naquele distante 6 de agosto, quando Plácido de Castro comandou a tomada da Intendência Boliviana em Xapuri, não contribuíram para que a data fosse guardada com muito fervor, tendo, atualmente, nenhum ato cívico de cunho oficial em sua alusão.


Os próprios bolivianos, mesmo perdendo o que alguns historiadores chamam de guerra e não de revolução, comemoram com direito a desfile militar e comércio fechado a vitória em um mero combate, a Batalha do Igarapé Bahia, ocorrida em 11 de outubro de 1902, quando as tropas seringueiras bateram em retirada após um índio boliviano atirar uma flecha incendiária e explodir um depósito de munições dos brasileiros. Diz-se que se não fosse essa flecha, Cobija seria hoje uma cidade acreana.


Em Xapuri, o chamado “berço” da luta armada, há muitos e muitos anos, com certeza décadas, não é realizada uma programação alusiva à data. A memória relacionada ao episódio histórico também não tem sido preservada de maneira adequada e não se tem mais notícias de vários itens que faziam parte do acervo do Museu Casa Branca, como os lendários rifles papo-amarelo e espadas, que foram usados pelos soldados seringueiros durante a Revolução.


Até o mesmo o Museu Casa Branca, considerado como o local que abrigava a Intendência Boliviana (há controvérsias), e onde o intendente Juan Dios Barrientos teria sido rendido no célebre episódio do “não é festa, é revolução”, está há mais de 10 anos em situação de abandono após uma eterna obra de restauração que tem esbarrado em problemas a processos licitatórios.


Outro local tido como histórico, com base em relatos orais, a Fonte do Bosque, onde soldados e cavalos da tropa de Plácido de Castro teriam bebido água antes de render a então Mariscal Sucre em pleno feriado nacional boliviano, também se encontra em situação precária após ser abandonada, enterrada e novamente aberta, mas sem nunca receber um tratamento que a tornasse um potencial ponto turístico.


Até mesmo o memorial em homenagem ao caudilho gaúcho que comandou a Revolução Acreana, que foi construído em terreno doado pela prefeitura à família de Plácido de Castro, foi demolido há alguns anos sem que justificativas fossem dadas à população. No lugar, foi construída uma quadra de areia para a prática de esportes. O monumento estava na praça São Gabriel, batizada em homenagem à terra natal do herói.


Em Rio Branco, os moradores do bairro Seis de Agosto promovem celebração na data. Porém, segundo o historiador Marcos Vinícius Neves, não existe relação entre o nome escolhido para batizar aquela região da cidade e a ocorrência de combates da Revolução Acreana naquele local. Segundo ele, só houve duas lutas em Rio Branco, que na época era apenas um povoado chamado Volta da Empreza, mas nenhuma onde hoje é o bairro.


Plácido de Castro: “Retira daqui os meus ossos”

O comandante da Revolução Acreana morreu em 9 de agosto de 1908, após ser emboscado por mais de uma dezena de algozes. No livro “O Estado Independente do Acre e José Plácido de Castro: Excertos Históricos”, o irmão do herói, Genesco, conta que no dia 11, ardendo em febre, pouco antes de morrer, ele lhe implorou: “Logo que puderes, retira daqui os meus ossos, esta terra não merece meus ossos, leva-os para nossa terra natal”.


O corpo do caudilho foi sepultado no Cemitério da Santa Casa de Misericórdia, em Porto Alegre. Em seu túmulo, a família fez questão de deixar gravado, um a um, os nomes e sobrenomes dos 14 carrascos. Em 1973, centenário de seu nascimento, foi inaugurado, na Praça Nações Unidas, em Rio Branco, um busto em sua homenagem.


Em 1987, o Comando de Fronteira do Acre – 4º Batalhão de Infantaria de Selva, com sede em Rio Branco, recebeu a denominação histórica de Batalhão Plácido de Castro. Hoje, na praça principal de Rio Branco, existe uma estátua em bronze do herói gaúcho.


Em 17 de novembro de 2004, Plácido de Castro — o Libertador do Acre — foi entronizado no Panteão da Pátria e da Liberdade e o seu nome foi inscrito no Livro dos Heróis da Pátria. O Panteão da Pátria, construído entre 1985 e 1986, idealizado como um espaço para homenagear os heróis nacionais, está localizado no subsolo da Praça dos Três Poderes em Brasília.


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Raimari Cardoso

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