Eu acho que o tempo tem passado rápido”, resume Fagner, aos 74 anos, quando perguntado porque demorou dez anos para lançar um novo álbum de inéditas. O resultado, “Além desse futuro”, chega hoje às plataformas digitais. O nome não poderia ser mais apropriado. É que em meio o romantismo característico de suas canções, a passagem do tempo tem permeado a os pensamentos dele. Passa pela tristeza da perda de pessoas queridas. Pelo desejo de recriar momentos com o filho, de 50 anos, que só descobriu ser pai dele 18 anos atrás. Pela espera para recuperar a forma física para voltar a brilhar nas peladas de futebol com os amigos. E até para voltar aquele ímpeto de arrumar briga.
Você tem sentido o peso da passagem do tempo?
Sinto a passagem do tempo ao perder amigos. Perder pessoas na minha idade é muito comum. Você passa a sentir no seu íntimo. Mês passado foi meu grande músico Cristiano Pinho. Estava com câncer, sofrendo. É um conforto, de certa forma, saber que ele fez a passagem. Mas a ficha cai e fico sem chão.
E fisicamente, como você está? Segue firme jogando seu futebol?
Não, os problemas físicos me deixaram muito tempo parado, até perdi peso. Estou devendo essa volta, jogar pelada com os amigos no campo do Zico, estão me cobrando. Eu sou craque. Brinco: “De música, não digo nada. Mas de bola, sou bom para caralho” (risos). Vou voltar. Também gosto de jogar vôlei no Baixo Vovô (no Posto 12, no Leblon). Aliás, eu compro jornal com a Dona Marisa, no bairro. Dá para homenageá-la aqui?
Claro. Como tem sido aguentar as viagens para shows?
Faço dois shows por semana. E eu carrego o colchão. Mais do que o cachê, me interessam qual vão botar para eu dormir. Mandei comprar um agora para colocar nos hotéis (o cantor, que mora no Rio, estava em Fortaleza). Eles alegam que a cama é padrão. Mas fico com as costas ferradas.
Você é tão romântico na vida como nas músicas que canta?
Sim, sempre fui. Tem os amores roubados, os perdidos, aqueles que ficaram no meio do caminho… Tudo me motiva a falar de amor. Eu sempre fui baladeiro, meu irmão foi o maior seresteiro do Ceará, e fiz toda minha carreira ligada a música romântica. Foram elas que me colocaram nas rádios do país.
Está namorando?
Sempre sozinho. Sempre pelo mundo. Sempre acompanhando também. Está bem? (risos)
A música “Filho meu” você dedica ao Bruno. Já são quase 20 anos da descoberta da paternidade. Deu para recuperar o tempo perdido?
Por mais que estejamos próximos hoje, é difícil fazer essa avaliação. Somos escravos do tempo, é trabalho, compromissos, queria ver mais os meus netos, tem uma distância. Acho muito difícil tirar esse atraso.
Alguma mágoa entre vocês precisou ser superada pelo período da ausência?
Já teve o momento de cobrança, mas ele entende o que aconteceu. Hoje, a gente vive de renovar o sentimento. O que passou, passou.
Você já teve fama de brigão. Anda mais paz e amor?
Agora, estou procurando briga (risos). Não dá para perder o DNA, ou baixar a guarda demais. É que tem muita hipocrisia no Brasil, por parte de alguns artistas.
Essa fama afetou o seu reconhecimento na música?
Já ouvi isso, mas não me preocupo. O espaço que busquei é correspondido pelo público. Já fiquei na geladeira de alguns programas, mas estou me lixando.
Você falou mal do show do Alok em Copacabana, depois fizeram as pazes. Mudou de opinião sobre os DJs?
Eu vivi uma fase de grandes compositores. Raul Seixas, Luiz Melodia, Belchior. Quando fiz a crítica foi algo mais geral. Alok é um doce, me tratou com o maior carinho. Ele é o maior na parada dele, tiro o chapéu.
Você tem dificuldade em mudar de opinião?
Não. Muitas vezes eu converso e percebo que continuo com a razão (risos).
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