O narrador esportivo Everaldo Marques, que recebeu críticas por dizer que a skatista Rayssa Leal é “ridícula”, explicou a criação de seu bordão. Em entrevista, o profissional contou que costumava assistir a narrações estadunidenses, nas quais a expressão “that’s ridiculous” é comum –e usada para situações positivas. Há alguns anos, ele tentou transpor isso para o português e gostou do resultado.
“Os bordões existem e não me furto em usá-los, mas digo que eles são a cereja do bolo. Se o bolo for ruim, não é a cereja que vai salvar. Minha preocupação maior é com o bolo. Se o bolo estiver bom e eu puder colocar uma cerejinha nele, beleza. Não me considero dependente dos bordões. Meu trabalho vai muito além deles”, afirmou ele, em entrevista à revista Quem.
Para quem costuma acompanhar outras narrações esportivas, o bordão de Marques não foi uma surpresa. O profissional da Globo já narrou eventos como a Copa do Mundo, a Fórmula 1 e a NFL, sem se furtar de usar o “ridículo”. Foram 70 esportes narrados, e, para além de deixar sua marca, o jornalista tem um desafio em mãos: explicar a modalidade para quem é leigo.
“Determinada modalidade talvez pareça óbvia para um fanático, mas, na TV aberta, o foco é a participação brasileira e o brasileiro adora torcer. Ele não entende muito do esporte, mas vai ver um brasileiro e vai falar: ‘Vou lá ver’. E aí ele precisa entender o que está acontecendo”, argumentou ele.
Para fazer isso da melhor forma, Marques fica atento ao máximo de esportes possível –especialmente no período que antecedeu os Jogos Olímpicos de Paris-2024. “Procuro acompanhar a maior parte possível das modalidades, mas, obviamente, não dá para acompanhar tudo com profundidade o tempo todo senão não faço outra coisa da vida”, disse, rindo.
“Tenho um compilado com todas as modalidades porque não sei o que vou fazer nas Olimpíadas. Pode ser que me passem uma previsão agora, e na hora das Olimpíadas a coisa mude”, continuou ele.
Mas como manter tudo isso na mente? “Um pouco é a memória, mas também tem muito trabalho de pesquisa e preparação. Estudo muito antes das transmissões e anoto muita coisa para não correr o risco de a minha memória me trair e de me deixar na mão. Levo muita coisa anotada para a transmissão”, revelou.
Ele confessa que, às vezes, não usa toda a informação que compilou. Mas o importante é não ter a sensação de que não estudou o suficiente, ou de que deixou alguma porta aberta antes de fazer uma cobertura. É algo que ele aprendeu durante seus mais de 20 anos de carreira.
Rotina puxada
No começo, ele chegava a trabalhar de 12 a 15 horas por dia. Só agora ele consegue se dividir melhor e conviver mais com a família –a mulher, a veterinária oncologista Iane Marques, com quem tem um filho, Guilherme, de 12 anos. O profissional está cobrindo os Jogos Olímpicos de Paris diretamente do superestúdio olímpico da emissora no Rio de Janeiro e, por isso, consegue ficar com a família em sua única folga na semana.
Apesar da experiência, o jornalista admitiu que ainda fica tenso. “Uma vez, em 2020, eu estava fazendo a minha primeira Fórmula 1 na Globo e tenho aquela ‘síndrome da perna nervosinha’. E não percebo. Minha mulher fala: ‘Para de tremer essa perna’. Fico muito concentrado”, contou, rindo.
É o fardo de se estar realizando um sonho de infância. “Quando a gente é criança, a gente quer ser bombeiro, astronauta, centroavante do time de coração. Eu nunca quis fazer o gol, sempre quis narrar o gol. Acho que eu gosto mais de transmissão do que de esporte. Sou um cara que cresceu gostando muito de acompanhar as transmissões esportivas”, arrematou.
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