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Duarte: sobre (in)coerências e a pedagogia do símbolo

Foto: Douglas Gomes/Assessoria

É preciso reconhecer: o Republicanos surpreendeu. Pegou dirigentes partidários, lideranças, imprensa, todos com os olhos fechados. No tempo de um “flash”, Roberto Duarte, presidente do diretório estadual, apresenta o 11º partido à coligação que abraça o neo-emedebista Marcus Alexandre. Agora, na Capital, o Glorioso tem um pequeno exército de mais de 200 candidatos a vereador(a) e um tempo de tevê nada desprezível para entrar em campo. Antes de qualquer pressa, é preciso retomar a razão e perceber o que a surpresa republicana ensina.


Primeiro é preciso lembrar um detalhe, aparentemente, protocolar. O leitor pode ser honesto em admitir que não saberá responder a pergunta: “Quem é o presidente do diretório do Republicanos de Rio Branco?” Dificilmente, alguém se lembrará de Jarbas Anute. Todos lembram da figura de Roberto Duarte. E isso não é fortuito.


Normalmente, nas eleições municipais, a autoridade máxima do pleito local é a Sua Majestade, presidente do diretório municipal. No jargão dos assessores, o (a) “presidente da municipal”. Essa coroa Anute não tem. E não tem não é por erro no cumprimento do rito ou falta de vaidade, esse bocado de pecado que cada um tem o seu quinhão. Trata-se de um cálculo que também merece entender o “noves fora”.


O senso comum, a meiota de boteco, a análise abaixo da linha mediana quer apontar o dedo julgador para Duarte e lhe esfregar na cara o punhado de incoerência: um dos políticos mais comprometidos na defesa dos valores da “direita” agora está de mãos dadas com Marcus Alexandre, sendo uma vez que todos os que estão ao lado de Bocalom já comeram bom pirão em mesa farta da extinta Frente Popular do Acre. Ou, no mínimo, já defenderam ideais socialistas que hoje, convenientemente, abominam.


Duarte conduziu os trabalhos no Republicanos de modo a apresentar a opção de uma eleição interna direta. Não seria exagero entender essa postura como uma consequência das muitas ausências de Bocalom. Sim! O leitor irá se lembrar que, no início do mandato, o prefeito de Rio Branco se negou a fazer política na Câmara de Vereadores. Dispensou a figura do líder porque dizia querer “17 fiscais do prefeito”.


Mudou de ideia, após um processo de impeachment abortado na derradeira hora. Durante bom tempo do mandato, Bocalom passava a ideia de que ele havia chegado ao poder pelos encantos de suas madeixas esvoaçantes. Não precisava da Política: bastava aplicar a técnica executada na administração de Acrelândia. Parecia ter esquecido das forças políticas que lhe levaram à vitória. Duarte relata, por exemplo, até mesmo recursos de emendas parlamentares que tiveram que ser encaminhadas para Cruzeiro do Sul porque não encontraram interesse na Capital. O prefeito nega, claro. O fato é que a fatura relacionada a essa postura de Bocalom chegou.


O gesto de Duarte coloca em xeque também um detalhe que não pode ser desprezado: eleição para prefeito e para vereador é uma eleição paroquial. O olhar do eleitor está voltado para questões muito práticas da rotina de vida. Essa vida danada de acordar cedo, ter água para se banhar; ter escola ou creche para deixar o filho; ter rua decente e calçadas para andar; ter ônibus limpo e com horário correto para chegar ao trabalho; ter um posto de saúde para levar a mãe velha e doente.


Eleição para prefeito dispensa teses que citem filósofos e cientistas políticos. Eleição para prefeito dispensa até mesmo o atualíssimo debate sobre “direita” e “esquerda” (descuidado é o leitor que avaliar este um debate superado: nunca esteve tão vivo em todo mundo). No entanto, os problemas mais imediatos do cotidiano do cidadão pegam varadouro mais curto. Nesse aspecto, as cidades de Cruzeiro do Sul, Feijó, Tarauacá dão aula a qualquer aprendiz de Maquiavel. Por ali, o PL paquera com o PCdoB, que namora com o Progressistas, que jura amor ao PT. Em Feijó, o Republicanos anda junto com o PCdoB e em Tarauacá o Progressistas é só amor com comunistas e petistas. A eleição para prefeito aceita quase tudo.


Quem cobra de Duarte “coerência” ou frequenta chá das cinco e resolveu ler as manchetes na última hora ou age de má fé, calculadamente. É uma cobrança que não se sustenta porque não observa as peculiaridades de uma eleição para o pleito municipal no Acre (não se trata das capitais São Paulo, Rio de Janeiro ou Belo Horizonte). A eleição é no Acre. Em boa medida, a postura de Duarte ensina porque revela a hipocrisia (talvez o cinismo) de usar a polarização “direita” versus “esquerda” apenas quando conveniente.


Na condição de presidente do diretório da Executiva Estadual, Duarte tem álibis óbvios: respeito à democracia interna do partido ou que estará apoiando o MDB, sua antiga casa. Ou ainda que o Republicanos caminha junto com o MDB na esplanada dos ministérios, em Brasília. Há argumentos de toda ordem.


Duarte, no entanto, terá que conviver, a partir de hoje, com o gosto amargo do radicalismo à direita. É o preço de tentar ser pedagógico diante de quem não quer aprender. Faz-se necessário destacar um detalhe: o peso do gesto de Duarte não está nos números. A diferença a favor de Marcus Alexandre não está nos 18 candidatos a vereador do Republicanos que se somam ao time do MDB. Não é uma questão de números. A questão é simbólica. E ninguém deveria duvidar da força dos símbolos. Eles ensinam a quem tem disposição para escutar.


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