Negócios empresariais criados e geridos à moda antiga. A família por dentro de tudo e repassando de pais para filhos a mesma sede de empreendedorismo iniciada por Braz Pires da Luz Filho, em 1973, quando chegou ao Acre. O fim de uma vida inteira dedicada aos negócios deixa saudade aos mais próximos e legado de prosperidade e desenvolvimento ao estado.
Braz Pires foi um dos pilares mais importantes para o progresso do Acre. Precursor do melhoramento genético de gado no estado, foi o primeiro a implementar o uso de inseminação artificial nos animais de sua fazenda, ainda em meados dos anos 80.
Nascido em Macaé (RJ), permaneceu por lá até a adolescência. Pouco depois, foi trabalhar em Marília, interior de São Paulo. Só veio para o Acre por volta de 73, quando foi chamado para receber parte de uma dívida.
“Essa dívida foi paga com uma sociedade por seu irmão, Hermínio. Essa sociedade iria se tornar, no futuro, a loja Barulho do Acre, depois Barulho de Rondônia e por fim se tornar a Utilar, pioneira no segmento de eletrodomésticos”, explica o neto, empresário e produtor rural, Rodrigo Pires.
Após receber a dívida, Braz viu que o Acre se tratava de um lugar próspero e trouxe a esposa e filho para morar no estado. Nessa época, Braz Pires já era vendedor de tecido na cidade de Goiânia (GO).
O neto conta que o primeiro ofício do avô foi como trabalhador numa fazenda de café, onde atuava com o sogro. Quando casou, ganhou uma caminhonete e fazia frete de Bauru a Marília, em São Paulo. Numa dessas viagens, sofreu um acidente, caindo numa ribanceira. “Foi então que minha avó pediu para que o pai dela não incentivasse mais essa vida de caminhoneiro [para eles]”.
A partir de então, Braz trabalhou por um tempo como produtor rural, onde aflorou sua paixão por café plantando na fazenda Santa Gertrudes, em também em Marília, onde os cafés são plantados desde 1953. “Ele viu a expansão do centro-oeste e optou por Goiânia, onde trabalhou com a venda de tecidos. Foi lá onde ele criou os filhos, até vir para a região norte do Brasil”, diz Rodrigo.
As lojas Barulho do Acre e Barulho de Rondônia tiveram abertura feita pelo filho mais velho de Braz, o Carlos Pires. Já a Utilar iniciou as atividades no ano de 1973, uma rede de lojas que chegou a ter unidades no Acre, Rondônia, Mato Grosso, Amazonas, Roraima e Mato Grosso do Sul.
“A primeira Utilar em Rio Branco nasceu ali na cabeça da ponte, na Gameleira, por volta de 1974. No início, todo o apurado era investido na compra de mercadorias. Por muitos anos, meu pai, Gilberto, e meus tios, Carlos, Luiz, Cláudio, Rose, Paulo, o primo Paulo Mesquita, dormiram dentro das lojas, nos depósitos das lojas para conseguirem se viabilizar e organizar os estoques”.
Rodrigo afirma que quando as coisas foram melhorando, cada um dos filhos de Braz Pires mudou-se para outro estado para tentar fazer crescer as lojas fora do Acre. “Foi uma expansão familiar, não profissional. Cada núcleo da família seguiu para um estado para cuidar de uma loja”.
A maior parte das lojas Utilar teve suas atividades encerradas com cerca de 35 anos de trabalho, restando apenas a unidade de Roraima, que foi encerrada depois, chegando a alcançar os 40 anos de atuação do ramo de eletrodomésticos.
A família relata que a competitividade comercial acabou em declínio da Utilar, uma rede doméstica de lojas familiares. “Comprávamos poucas unidades de eletrodomésticos e naquela época teve um boom de redes grandes de eletrodomésticos nacionais, como Casas Bahia, fusão com a Ricardo Eletro, City Lar, e os preços eram muito defasados, a gente já não conseguia acompanhar a mercadoria. Foi um presságio do que viria com a internet”, destaca Rodrigo Pires.
Segundo o empresário, a família foi perdendo a competitividade e achou melhor alugar as lojas para a Gazin, vender parte do estoque e encerrar as operações. “A gente trabalhou para que todos os colaboradores fossem pagos e os tributos resolvidos para que fechasse de uma forma legal, entendendo que aquele ramo não era mais competitivo para nós. Optamos por focar no agronegócio”.
Enquanto isso, Braz Pires decidiu retomar um sonho antigo, que era o de empreender na pecuária, que ele já fazia com o sogro, Carlos Rodrigues. “Ele dizia que as terras no Acre eram muito boas. Era época do governador Wanderley Dantas, o Acre tinha um rebanho maior do que o de Rondônia, então isso foi um fator decisivo, pois meu avô tinha lojas em muitos estados, mas decidiu comprar terras no Acre porque o rebanho era muito bom, tinha uma genética muito boa e se acreditava que seria um grande estado do agronegócio”, detalha o neto.
Os empreendimentos deixados por Braz Pires já são tocados há bastante tempo pelos filhos Carlos, Gilberto, Rose e Paulo, cada um numa distribuição. Gilberto cuida do agro, Carlos dos imóveis, Rose e Paulo de suas propriedades individuais, mas auxiliam no grupo inteiro. “Já faz mais de 20 anos que os filhos assumiram o negócio e tocam de maneira conversada e em consenso”.
Dentro das atribuições de cada núcleo familiar agora, algumas pessoas se destacam nas atividades que exercem. “Estamos na quarta geração [após Braz Pires], já tem muitos profissionais liberais. Na terceira geração, há empresários e produtores rurais que auxiliam seus pais e sócios nas atividades. Hoje nós não temos uma pessoa que vai ficar responsável por tudo, mas o que se entende é que dentro das suas unidades de núcleos familiares, cada um vai optar pelo que gosta de trabalhar e junto com os seus elencar as pessoas que vão estar à frente dessas atribuições”, garante Rodrigo.
O empreendedor nato sempre usava uma frase que dizia: “a gente tem que pensar sempre no norte do Brasil”, referindo-se ao Acre, uma terra que Braz tinha grande esperança do crescimento do agronegócio. “Ele foi um cara que chegou cedo aqui e conseguiu desenvolver. No Acre, o comércio é moderado, porque 50% das pessoas vivem com renda mínima, então temos um comércio de serviços primários, alimentação, medicamentos, para só depois vir os serviços secundários. O estado desenvolveu muito e o Braz tem de contrapartida o melhoramento genético”.
Ele também foi um dos precursores da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) no Acre. “A fazenda BP foi a primeira a implantar o laboratório de inseminação artificial em gados. Há muitos anos a gente vem fazendo melhoramento genético e isso contribuiu muito com o progresso e ajudou o estado a prosperar”.
Atualmente, a família se embrenha em novos empreendimentos, como o Residencial Terras Alphaville em Rio Branco e outras atividades. “Hoje atuamos no setor imobiliário, em parceria com incorporadoras nacionais, para loteamentos, produção de café, soja, milho e gado no Acre e também São Paulo”.
O neto e empresário Rodrigo Pires diz que o maior legado de Braz é o trabalho e amor pela família. “Um homem de hábitos simples, dedicado ao trabalho e núcleo familiar. Teve mais de 700 mil pés de café plantados e irrigados e conhecia todos os detalhes da plantação. Teve mais de 5 mil pessoas empregadas nas lojas Utilar ao longo dos anos”.
Braz Pires morreu no último 29 de junho, aos 97 anos, em Marília (SP). O pecuarista e cafeicultor recebeu título de cidadania acreana em fevereiro de 2006, dado pelo então governador Jorge Viana. Em nota de falecimento, a família ressaltou o homem exemplar, dedicado à família e ao trabalho. Ao lado de sua companheira de vida, dona Gertrudes, gerou nove filhos e construiu uma família que hoje conta com quase 100 pessoas.
VÍDEO DE BRAZ PIRES E SUA FAMÍLIA:
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