O ex-comandante geral do Exército boliviano Juan José Zúñiga foi preso na noite desta quarta-feira, 26, em La Paz, suspeito de tentar um golpe de Estado no país, segundo a imprensa local. O militar foi deposto do cargo na última terça-feira, 25, depois de afirmar que prenderia o ex-presidente Evo Morales, caso ele fosse eleito novamente em 2025.
A prisão aconteceu horas após militares liderados por Zúñiga invadirem a sede do governo para exigir “a mudança de gabinete”. A ação, no entanto, terminou após o presidente da Bolívia, Luis Arce, nomear três novos chefes para as Forças Armadas da Bolívia. Depois disso, os tanques se retiraram da Praça Murillo, e a polícia assumiu o controle do local.
Ex-comandante geral do Exército boliviano, Juan José Zúñiga ocupou o cargo de 2022 até a última terça. Ele foi depois de afirmar que prenderia o ex-presidente Evo Morales, caso ele fosse eleito novamente em 2025.
A acusação de tentativa de golpe, aliás, não é a única contra o ex-comandante. Em 2014, ele se envolveu em um escândalo de corrupção e foi acusado de desviar 2,7 milhões de bolivianos (R$ 2,1 milhões, na cotação atual).
Entenda o que aconteceu na Bolívia
O presidente da Bolívia, Luis Arce, denunciou nesta quarta-feira um golpe do Exército. Em publicação compartilhada no X, antigo Twitter, ele revelou que ocorriam “mobilizações irregulares” de militares, com tanques e tropas, estacionados em frente à sede do governo em La Paz, na Praça Murillo.
“Denunciamos as mobilizações irregulares de algumas unidades do Exército Boliviano. A democracia deve ser respeitada”, escreveu o presidente em seu perfil na rede social.
Segundo informações da imprensa local, tanques e militares estavam estacionados em frente à sede do governo. Eles eram liderados pelo ex-comandante geral do Exército boliviano Juan José Zúñiga. Ele teria ido até a sede do governo para exigir “a mudança de gabinete”.
Horas após a denúncia de tentativa de golpe, militares conseguiram invadir a sede do governo. Imagens que circulam nas redes sociais mostram o momento em que Arce encontra o líder dos golpistas, Zúñiga.
Pouco depois, Luis Arce se manifestou oficialmente e convocou o “povo para defender a democracia”: “Hoje o país [Bolívia] enfrenta uma tentativa de golpe de Estado […] Estamos aqui na sede do governo nacional, com todos os ministros e ministras, firmes. Firmes para enfrentar toda a tentativa golpista, toda tentativa de golpe contra a nossa democracia. Necessitamos que o povo boliviano se organize e se mobilize contra o golpe de Estado, a favor da democracia”, disse Luis Arce em vídeo compartilhado pelas emissoras de TV locais e nas redes sociais.
Minutos depois do primeiro pronunciamento, o presidente saudou membros das Forças Armadas que “respeitam a Constituição” e deu posse a novos comandantes das forças militares do país.
“Ao povo boliviano que está nos acompanhando, hoje foi uma jornada atípica na vida de um país que quer democracia. Hoje estamos vivendo uma tentativa de golpe de Estado. Militares estão manchando o uniforme, atentando contra nossa Constituição, mas também contamos com militares que respeitam as normas vigentes. Saudamos aqueles militares que vestem o uniforme com orgulho e fazem valer forças armadas e sua função em um governo democraticamente eleito”, falou o mandatário.
Antes do discurso, ele nomeou José Wilson Sánchez Velasquez como novo comandante do Exército; Gerardo Zabala Alvarez, para a Força Aérea, e Renán Guardia Ramírez, como chefe da Marinha.
Por fim, de acordo com a mídia local, os tanques se retiraram da Praça Murillo, e a polícia assumiu o controle do local. Segundo relatos publicados nas redes sociais, a população entrou em conflito com os militares durante a retirada.
Posicionamento do governo brasileiro
Inicialmente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conversou com a imprensa na tarde desta quarta-feira e repudiou a possibilidade de golpe na Bolívia.
“Eu quero informações. Pedi para o ministro Mauro [Vieira, das Relações Internacionais] ligar para a Bolívia, ligar para o presidente [da Bolívia, Luis Arce], ligar para a embaixada brasileira. para termos certeza, termos uma posição. Como sou um amante da democracia, quero que a democracia prevaleça na América Latina. Golpe nunca deu certo”, disse o presidente do Brasil.
Após o primeiro pronunciamento de Lula, o governo federal, por meio de nota, condenou “a tentativa de golpe de Estado em curso na Bolívia” e manifestou apoio ao presidente Luis Arce.
“O governo brasileiro condena nos mais firmes termos a tentativa de golpe de Estado em curso na Bolívia, que envolve mobilização irregular de tropas do Exército, em clara ameaça ao Estado democrático de Direito no país. O governo brasileiro manifesta seu apoio e solidariedade ao presidente Luis Arce e ao governo e povo bolivianos. Nesse contexto, estará em interlocução permanente com as autoridades legítimas bolivianas e com os governos dos demais países da América do Sul no sentido de rechaçar essa grave violação da ordem constitucional na Bolívia e reafirmar seu compromisso com a plena vigência da democracia na região. Esses fatos são incompatíveis com os compromissos da Bolívia perante o Mercosul, sob a égide do Protocolo de Ushuaia”, escreveu o governo brasileiro.
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