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A terceira margem do rio e a missão da travessia

FOTO DE WHIDY MELO

Proposta pelo deputado estadual Pedro Longo (PDT), a audiência pública que tratou de obras estratégicas para mitigar impactos de eventos climáticos extremos foi um dos fatos políticos mais relevantes da semana. Certamente não rendeu tantos buxixos quanto os novos requebros dos tucanos, mas foi importante porque colocou a Aleac na discussão do que se convencionou chamar de “grandes temas” ou “a grande política”. É aquele momento em que o parlamento se agigantam e debate assuntos que têm impacto, levando-se em conta o que se faz hoje com repercussão no que virá nos próximos 20, 30 anos na vida de todos os acreanos.


E o que os gestores públicos, políticos e líderes comunitários ouviram dos especialistas não autoriza nenhum tipo de otimismo. Sobretudo quanto à segurança hídrica. Ou alguma intervenção é feita de forma emergencial ou a escassez hídrica vai fazer parte da rotina do acreano, sobretudo da Capital. E quando se fala em “intervenção” no Rio Acre a primeira ideia que se cria na cabeça de muitos é a famosa (e velha) construção de barragem.


O primeiro prefeito que trouxe essa ideia para a agenda pública com risco real de iniciar algum movimento para efetivá-la foi Mauri Sérgio. Sofreu as consequências do ativismo ambiental e dos partidos de oposição, na longínqua época em que os partidos da esquerda regional, unidos a algumas ONG’s, sabiam infernizar a vida dos administradores públicos.


Depois de Mauri Sérgio, o tema voltou à agenda pública com alguma insistência (inclusive com um prometido e nunca realizado “estudo” de impacto ambiental) na terceira gestão petista à frente do Governo do Estado.


As aulas mais elementares de Geografia do Ensino Fundamental relembram que o relevo na região do Vale do Acre desacreditam a proposta de criação de uma barragem. Para usar uma explicação também muito basilar, a “ladeira” entre Assis Brasil e Porto Acre é muito tênue. Falando de forma popular, é uma “ladeira muito pequena”. Isso significa que a construção de uma barragem com capacidade para armazenar água em volume satisfatório para abastecer uma cidade como Rio Branco teria impacto em uma área muito grande. É uma medida que, possivelmente, aceleraria a morte do Rio Acre.


Normalmente, barragens são construídas em relevos com “ladeiras” mais íngremes. Para voltar ao vocabulário mais próximo da rotina, em “ladeiras grandes”. São regiões em que o manejo do quanto sai e do quanto fica de água na barragem possibilita até movimentação de turbinas para geração de energia elétrica. É uma outra realidade geográfica. É um relevo que permite um determinado tipo de ousadia. Por aqui, as iniciativas deveriam ser de outra monta.


Debates como o que foi promovido pela Aleac são o caminho mais seguro para errar menos. Essa, portanto, é uma iniciativa que precisa ser ampliada. É preciso tornar a discussão comum a todos, acessível a todos. Segundo ponto: pesquisa. São necessários investimentos em estudos sérios, consequentes, com pesquisadores com autoridade na área de Recursos Hídricos e Geologia que tenham como referência primeira a existência do rio e a mata ciliar em toda bacia do Rio Acre.


Eis o terceiro ponto: é necessário um pacto pela vida. Nos barrancos daqui do Vale do Rio Acre, é preciso um grande movimento que envolva a sociedade civil, Governo do Acre, governos dos oito municípios por onde o rio passa, Governo Federal, BNDES, federações da Agricultura, dos Trabalhadores Rurais, dos Trabalhadores Extrativistas, universidades, todos focados em reconstruir as matas ciliares que foram dizimadas ao longo de toda Bacia Hidrográfica do Rio Acre durante décadas.


Paralelo a isto, as cidades precisam fazer o dever de casa na área do saneamento básico e da destinação dos resíduos sólidos. É tudo junto a misturado.


Não há, no que foi dito, nenhuma pitada de romantismo ou delírio. É factível. No entanto, é preciso mobilização social, projetos, muita pesquisa, educação e governos fortes. O caos a que se chegou foi permitido pela Política. A dizimação da mata ciliar foi resultado da omissão da Política. Mas será pela Política que também se superará o problema. Não há outra saída. A juventude do Rio Acre, que ainda hoje procura o caminho “mais mole” para seguir adiante, exige maturidade de todos. A terceira margem do rio é uma missão humana. Deve-se assumir essa responsabilidade sem medo. A travessia é humana.


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