Não é razoável e nem justo iniciar um texto tratando de futebol acreano sem fazer referências importantes. E, desde já, é necessário que se trace um marco importante ao leitor: não se pode ser saudosista. Sobretudo em futebol, a saudade é uma armadilha traiçoeira. Mas é preciso ser honesto com quem já fez história por aqui.
Pois bem, para falar de futebol no Acre, sobretudo nos últimos 50, 60 anos, é preciso também voltar a falar sobre o papel do poder público. Já naquela época, os gabinetes ditavam jogadas estratégicas. E, nesse campo, o craque tinha nome e sobrenome: Elias Mansour, o cartola palaciano que ainda não encontrou rival à altura.
Com ele, as asas juventinas se fortaleceram como nunca. Pela assinatura de Mansour, figuras como Dadão, o orgulho acreano sempre lembrado, ponta de lança de primeira ordem; Tadeu Varela, o manauara que fez sucesso no Estrelão e chegou a disputar a Libertadores pelo boliviano Wilstermann; Emilson Brasil, com a elegância e a postura típicas de um lorde, e o zagueiro marrento Neórico, também Juventino, são exemplos de como o poder público, por aqui, tem papel estratégico na identificação, estímulo e manutenção de talentos dentro de campo.
No Acre, falar em futebol profissional é, em certa medida, pactuar jogadas com o poder público. Por uma questão tão simples quanto óbvia: futebol, mais do que nunca, exige dinheiro. E, aqui no Acre, isso está concentrado nos cofres oficiais.
Há 15 anos, o Governo do Acre até pensou em criar o “Acre Futebol Clube”. Embalados pelo aquecimento das obras públicas e o que isso gerou de riqueza à época entre empresas que atuavam aqui, os aprendizes de cartolas de plantão no Gabinete Civil chamaram a iniciativa privada para compartilhar essa responsabilidade. Os empresários se assustaram com os números apresentados por uma consultoria especializada. Recuaram. Futebol, sobretudo em tempos recentes, não é conversa para amadores.
Esses referenciais são importantes de serem expostos para que se perceba a fragilidade do que representa a Supertaça Acreana de Futebol, lançada sexta-feira (7) pelo Governo do Acre. O Governo acerta quando envolve mais de 400 times de todo estado no processo de peneira até chegar às fases finais aqui na Capital. Essa movimentação é boa. Não é ruim. É papel do Estado mesmo. Isso é o que se precisa fazer.
No entanto, essa competição não pode ser um elemento apartado da realidade do futebol de base. Estando no Arena da Floresta, uma pessoa nem precisa esticar muito o pescoço para perceber o descaso com que o Governo do Acre trata o esporte comunitário: quadras acabadas, abandonadas. Dinheiro público jogado ao vento. A política pública se auto puniu com cartão vermelho faz tempo daquele lugar. E assim como estão aquelas quadras estão tantas outras Acre adentro.
O Governo se omite em apresentar o esporte como instrumento formador e emancipador da juventude. Dessa forma, a Supertaça acaba sendo mais um desses eventos de frases feitas, lugares comuns. Sugere mais um apelo estratégico eleitoral para duas ou três personagens do que efetivamente preparar uma geração de atletas para as disputas da vida. Esta, aliás, seria a grande jogada do Governo. Mas faltam-lhe estrategistas, ao que parece.
Assim como na Política, no futebol também não há vácuo. Como não há ninguém orientando nos bairros no volume e com a estrutura adequada, alguém o faz. Recentemente, este site ac24horas foi até a comunidade do bairro Cidade do Povo e mostrou porque as facções imperam ali. Os espaços comunitários e esportivos completamente abandonados, saqueados, destruídos. Não se trata de opinião. É fato. Mostrado neste site ac24horas pelo repórter cinematográfico Kennedy Santos. Infelizmente, não se pode dizer que o bairro Cidade do Povo é uma “jogada isolada”. Bem ao contrário: não seria exagero entender aquela comunidade como um símbolo.
É bom frisar: a Supertaça Acreana de Futebol não é um erro em si. O problema é que ainda há muito o que se fazer; há muitas ações de base; de estrutura; de valorização do profissional da Educação Física; valorização da Educação antes de se pensar em jogadas populistas. Se não foi um gol contra do Governo, não seria apelativo dizer que foi um anti-jogo.
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