Na Assembleia Legislativa, o deputado João Correia (liderança do, à época, PMDB) esbravejava denunciando o óbvio: o governador fazia campanha antecipada. Oficialmente, a retórica do Palácio Rio Branco se esforçava no argumento de que o governador “fazia uma avaliação da execução das políticas públicas nos municípios, perguntando diretamente para as pessoas”.
Eles aproveitavam essas viagens das Plenárias Populares para minar os opositores, todos reunidos pelo empresário Narciso Mendes e Flaviano Melo no Movimento Democrático Acreano, o MDA. (Anos mais tarde, Mendes definiria como “que bichinho bem organizado foi aquele MDA!”) E foi mesmo. Fato é que o Acre, naqueles anos divididos, cabia todo nas duas siglas: FPA e MDA. Era o tempo em que João Correia entrava no plenário da Aleac com esparadrapos na boca, denunciando o que ele chamava de “falta de liberdade de imprensa e de expressão”, para deleite dos repórteres-cinematográficos que o filmavam com o sorriso doce da vingança.
A imprensa era parte estratégica do rito. Um avião era exclusivo para o transporte das equipes. As primeiras aeronaves partiram. No grupo da imprensa, ia o coordenador de todo o programa das Plenárias Populares, o agrônomo e militante Carlos Alberto Araújo, saído das trincheiras da extensão agrícola para promover a “revolução”, agora na fronteira institucional.
Na prática, era um Chefe de Gabinete Civil, costurando relações políticas de toda ordem. Boa praça, apreciador de versos e bons tintos, Carlos Alberto era chamado carinhosamente pelos jornalistas de “Cacá, o Príncipe”, uma alusão ao velho professor italiano, divisor das fronteiras da Ciência Política.
O avião começou a sobrevoar aquela vila com status de município. A charmosa igrejinha, a quadra poliesportiva recém construída e motivo de orgulho recente da comunidade, o imponente Rio Juruá. Tudo visto do alto tinha uma cor diferente. Quando o barulho da aeronave chamou a atenção dos presentes à quadra, local onde aconteceria a Plenária Popular, Neuzari Pinheiro não teve dúvidas. “Menino, corre lá com o Manelzinho e diz pra ele tocar fogo que o homi chegou!”.
A aeronave teve que dar cinco voltas na região da pista de pouso, tamanha a quantidade de fumaça que circundou o local. Quando o avião conseguiu, finalmente, aterrisar, o primeiro a descer do aparelho foi “Cacá, o Príncipe”. Já saiu sorrindo. O prefeito Neuzari veio ao encontro todo alegre, receber a visita tão ilustre.
Um repórter registrou tudo.
Um deles, assistindo à cena da busca pelo afogado, estava com um radinho de pilha ao ouvido sintonizado na Rádio Nacional. Era informado que o capitão do Exército Brasileiro Carlos Lamarca desertara para lutar “contra as forças do Governo”. Um menino que assistia a tudo assustado não perdia nenhum detalhe.
Jornalista, apresentador do programa de rádio na web Jirau, do programa Gazeta em Manchete, na TV Gazeta, e redator do site ac24horas.
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