Uma estratégia está em curso. Parte dos 380 mil hectares de pastagens degradadas do Acre tem sido convertida em áreas produtivas com diferentes cultivos. Isso possibilita renda de forma escalonada para muitas famílias. E o cacau acreano é o destaque da vez.
Há, em execução, o programa “Cacau Socioambiental: Incentivo ao Extrativismo do Cacau Selvagem e ao Cacau de Cultivo no Estado do Acre”, elaborado pela Secretaria de Estado de Agricultura. O nome do programa não é muito popular, mas é didático para expor o cenário.
Pela descrição do nome, é preciso perceber duas grandes “famílias”. A primeira: o cacau “selvagem”, nativo, próprio da floresta. Está lá. Com as características físico-químicas que os milhões de anos daquele espaço geográfico construíram. É preciso apenas saber colher, respeitando o tempo da floresta. A segunda família: o cacau “de cultivo”. Plantado, com cálculo, lógica, métrica e ambições humanas. Tanto um quanto o outro estão muito valorizados no mercado.
“Nós estamos vivendo um momento muito atrativo para o cacau”, contextualiza o secretário de Estado de Agricultura, José Luiz Tchê. “E a ideia é aproveitar não apenas esse cenário favorável agora, mas tornar o ambiente sustentável economicamente e ambientalmente para o pequeno produtor no longo prazo”.
Bahia, Espírito Santo e Pará são os três estados referências para cotação de preços do cacau no país. Na sexta-feira (24), a arroba do cacau na Bahia estava sendo comercializada a R$ 662. O preço da saca no Espírito Santo estava R$ 2.648,00. No Pará, o quilo do produto estava custando R$ 46. Na Bahia e no Espírito Santo, a variação foi positiva (comparada ao dia anterior) de 1,85%. No Pará, a variação foi negativa de 2,13%.
Há dois méritos do governo. O primeiro é respeitar o Zoneamento Ecológico Econômico e os estudos da Embrapa, uma das parceiras do programa de fortalecimento da cadeia produtiva do cacau, junto com a Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac).
O segundo é tentar entender que a ideia de sustentabilidade exige compreender o tempo do lugar em que se está, do povo que vive nesse lugar e do mercado. Geografia, Cultura e Mercado: esse tripé integra os fundamentos da consolidação de um produto.
“Combinado com o grande momento que o cacau começou a ter, a crescente, desde o ano passado, no mercado brasileiro e internacional, nós estamos preocupados em fazer as coisas ‘pé no chão’. Temos que construir as bases, os alicerces. Caso, contrário, uma boa iniciativa, uma grande oportunidade pode dar com os burros n’água se a gente não tiver um pé na realidade”, pondera o engenheiro agrônomo com mestrado em Gestão e Conservação de Recursos Naturais, Marcos Rocha da Silva.
Um dos coordenadores do programa de fortalecimento da cadeia produtiva do cacau no Departamento de Produção Familiar da Secretaria de Estado de Agricultura, Marcos da Silva tem consciência de como os números do Acre ainda são muito modestos.
Na gestão de Gladson Cameli, a Seagri colocou o fortalecimento da cadeia produtiva do cacau na agenda institucional ano passado. O programa atende inicialmente 1000 famílias. Ao todo, isso abrange uma área de apenas 1000 hectares. Metade dessa área está no Vale do Rio Juruá. Os outros 500 hectares estão espalhados pelas outras regionais, com destaque para Manoel Urbano.
As fontes de financiamento são basicamente duas: o próprio Governo do Acre e o Programa REM no Acre (custeado pelo governo alemão). No Vale do Juruá, duas comunidades são trabalhadas pela Seagri: a do Projeto de Assentamento Recanto e do Projeto de Assentamento Lago do Tapiri.