O médico Fabrício Lemos entrevistou no programa Médico 24 Horas desta segunda-feira (20) a médica e presidente do Conselho Regional de Medicina do Acre Leuda Maria da Silva Dávalos. Filha de pais analfabetos e nascida em um seringal, Leuda compartilhou sua história de vida e falou sobre os desafios enfrentados pela classe médica no Acre e apontou para uma necessidade da criação de um plano de carreira para fixação de profissionais médicos no Acre.
Natural do seringal Porto Carlos, em Brasiléia, Leuda Maria conta que foi alfabetizada na zona rural pela própria mãe, que aprendeu a ler e escrever sozinha. O pai, mesmo sendo analfabeto, por acreditar num futuro melhor pela educação, deixou a pequena Leuda com familiares em Brasiléia para uma formação de segundo grau. “Meus pais me guiaram a isso, e baseada nos princípios que me deram, no exemplo, procurei caminhos melhores e fui em busca de mais. Fui fazer faculdade de medicina por uma bolsa destinada aos melhores alunos de escola pública de origem humilde, em San Francisco Xavier, em Sucra, na Bolívia, porque no Acre não tinha, era muito difícil”, detalhou Leuda.
Já formada retornou a Brasiléia, mas disse que foi profissionalmente pouco valorizada na cidade acreana. “Os filhos de casa não têm certas oportunidades, tentei ficar mas não tive oportunidade, então vim para Rio Branco”, afirmou. Na capital, Leuda fez especialidades e ampliou o círculo de amizades na profissão, o que a fez crescer: “aqui comecei a ter exemplos de outras pessoas, admirar outros profissionais e isso me trouxe crescimento”.
Como presidente do Conselho Regional de Medicina o Acre, Leuda Maria conta que tem como prioridade administrativa o incentivo ao estudo continuado dos profissionais em medicina no estado, com cursos e capacitações variadas. “Temos recebido uma verba que é distribuída em todo o Brasil para incentivar a formação continuada, mantendo-os atualizados com os avanços tecnológicos e técnicos da medicina, para que eles continuem estudando e se aperfeiçoando. Fizemos turmas tanto aqui em Rio Branco como nos municípios, com um número grande de inscritos, mas temos uma comissão de organização que trabalha em cima das opiniões dos nossos médicos acerca de quais serão os próximos cursos”, disse.
De acordo com Leuda Maria, no entanto, tem causado preocupação ao Conselho a não fixação de profissionais médicos no estado, por falta de políticas e incentivos voltados a esta problemática. “Não estamos conseguindo fixar os filhos da casa [acreanos que se formam no estado], é um grande problema. Não temos uma política voltada pra isso. Formamos excelentes especialistas da residência médica, eles tentam ficar por vínculos que formam aqui, mas acabam indo embora porque não temos um projeto de como fazer para que eles fiquem aqui, migram para os grandes centros onde são valorizados, participam de congressos, se aperfeiçoam”, pontuam.
O que explica a falta de profissionais médicos no estado, segundo Leuda Maria, são dois pontos principais; a baixa remuneração e a falta de condições de trabalho, sendo esta segunda causa a mais provável na maioria dos casos. “Eu acho que o médico precisa ser visto como profissional importante, com respeito. Você não vê médico reclamando de salário, e não que ele esteja satisfeito, mas ele reclama da condição de trabalho. Em certos lugares há uma certa condição, o SUS melhorou muito, não é fácil, mas acho que é um conjunto de fatores que não temos para fixar esses profissionais”, explicou a presidente do CRM/AC.
Para ver mais deste e de outros assuntos, assista o Médico 24 Horas com Leuda Maria completo: