Ao me dar conta, soube que o Floriano Sebastião faleceu aos 81 anos, conforme noticiado pelo AC24horas. Esta notícia criou um vazio profundo no coração de Rio Branco, pois ele era o nosso atleta do século, marcou uma geração inteira.
Sebastião Floriano iniciou sua jornada no atletismo por volta de 1967, quando estava no Exército. Sua trajetória se deu durante a época das lavandeiras do Rio Acre e dos córregos, como o São Francisco, Fundo e Maternidade. Dias de verão, marcados por uma luz solar intensa e um céu tão azul que chegava a doer nos olhos – antes que esses mananciais fossem transformados em esgotos.
Ele já era atleta no tempo em que a cidade ainda tinha o charme do pão e do leite entregues à porta das casas; quando as famílias se reuniam à noite, aconchegadas em cadeiras de palha nas frentes de suas residências.
Rio Branco se apresentava pequena e bucólica. Era a época em que os cinemas Poeirinha, Rio Branco e Acre exibiam repetidamente filmes como “Lampião, o Rei do Cangaço”, “Hércules”, “No Tempo das Diligências” e “Dio come te amo”. Da Gloriosa Difusora Acreana, da jovem guarda, dos bailes singelos, da revolução cultural.
A Cinelândia, na avenida Getúlio Vargas, a Miragina e o Bar do Arara, situado no Bosque, serviam como locais de encontro. Era uma época em que o Acre não tinha a infeliz distinção de ser o estado com maior número de estupros, a disseminação de notícias falsas não era um problema e as facções criminosas ainda não haviam surgido. Nesse contexto, Sebastião Floriano podia correr livremente pelas ruas. À época, a vida rural e urbana eram entrelaçadas. Ele foi mais que um atleta, foi nossa própria identidade.
Durante esse período, as pessoas costumavam pedir licença, cumprimentar com um bom dia, boa tarde ou boa noite, enquanto nosso querido Sebastião se mantinha em constante movimento. No entanto, o fim é inevitável, pois corremos simultaneamente contra a morte e em sua direção, um verdadeiro paradoxo. Floriano Sebastião correu por todas as ruas da cidade exibindo talento, coragem e determinação.
Hoje outros craques repetem as suas corridas
Ainda nas ruas há marcas de suas pegadas como um gol
Mas pela vida impedido parou
E para sempre a corrida acabou
Suas pernas cansadas correram pro nada
E o time do tempo ganhou
Cadê você, cadê você, você passou
O que era doce, o que não era se acabou
Cadê você, cadê você, você passou
No vídeo tape do sonho, a história gravou
Descanse em paz, Sebastião Floriano!
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