Por Leônidas Badaró e Edinho Levi
A prefeitura de Rio Branco deu início aos trabalhos de revitalização em algumas partes da Praça da Revolução. A obra de mais de R$ 2,2 milhões, que será executada com recursos próprios, promete ser inovadora, com fontes chafarizes interligadas a um sistema interativo com música.
“Sem dúvida a população voltará a frequentar efetivamente a nossa tradicional praça”, disse Cid Ferreira, secretário municipal de infraestrutura.
A revitalização tem prazo de execução de 90 dias e duas empresas foram contratadas para execução dos serviços de modernização e revitalização da praça.
Arquiteto critica alterações na Praça da Revolução e diz que modificações ferem memória do Acre
A situação de obra em que se encontra a praça tem incomodado alguns especialistas da capital acreana. O arquiteto e urbanista Eduardo Vieira criticou, em um artigo, o que considera um desrespeito e falta de cuidado com a Praça da Revolução, localizada no centro da capital acreana, local que, para ele, é uma obra de arte.
Vieira lembra que a Praça da Revolução foi projetada pelo escritório Burle Marx, do Rio de Janeiro, paisagista brasileiro reconhecido em todo o mundo, e que leva a assinatura do seu sócio e parceiro de vida e trabalho, o paisagista Haruyoshi Ono, destacando para o desenho perfeito do piso executado em pedras portuguesas.
O arquiteto critica a implantação de vegetações e a colocação de tendas com suas cunhas de ferro para a realização de eventos que são fixadas diretamente, danificando o piso, que como peças de dominó, vão soltando as pedras que foram tão cuidadosamente fixadas.
Eduardo Vieira levanta preocupação com o anúncio da prefeitura de Rio Branco de mais uma obra no local e diz que deveria acontecer um trabalho sério de restauração na Praça da Revolução. “Temos informações de que haverão alterações drásticas do projeto original, e de que serão implantados quiosques e outros elementos dispensáveis naquele espaço público. O que eu gostaria de ver neste momento seria o início de um criterioso trabalho de restauração, que deveria resultar no tombamento da praça”, escreve.
Leia abaixo o artigo de Eduardo Vieira:
Por Eduardo Vieira
A Praça da Casa Forte, projetada pelo paisagista Roberto Burle Marx em Recife, no ano de 1934, até hoje é preservada e valorizada pela população e pelos administradores da Capital Pernambucana, e tornou-se motivo de orgulho para todos e relevante material de pesquisa para os novos paisagistas.
Por que em Rio Branco não acontece o mesmo?
A Praça da Revolução, projetada pelo escritório Burle Marx, do Rio de Janeiro, e que leva a assinatura do seu sócio e parceiro de vida e trabalho, o paisagista Haruyoshi Ono, vem sendo maltratada há muito tempo.
Parece que não existe consciência da relevância deste espaço, que foi concebido após muita pesquisa sobre a história do Acre, sua cultura, e a flora amazônica.
Chamo especial atenção para o desenho perfeito do piso executado em pedras portuguesas, que trouxe à nossa cidade calceteiros cariocas, especialistas neste tipo de pavimento, para que fosse executado com o maior rigor técnico, seguindo à risca a geometria dos desenhos projetados pelo paisagista.
Assim como em Recife, e em tantas outras capitais, uma obra desta relevância deveria ter o cuidado apurado de preservação do seu desenho original, e divulgado como uma grande atração paisagística e cultural da cidade.
O que se vem observando há muito tempo é o descuido e o desrespeito com esta obra de arte.
Foram implantadas vegetações sem a observância do especificado em projeto, e, ainda pior, a cada evento na praça são colocadas tendas com suas cunhas de ferro fixadas diretamente no piso, danificado a preciosa trama, sem se darem conta de que não temos material nem mão-de-obra especializada para sua recuperação, resultando em buracos que, como peças de dominó, vão soltando as pedras que foram tão cuidadosamente fixadas.
Para maior surpresa, neste momento, diversos espaços da praça estão cercados com o anúncio de mais uma obra da prefeitura. Em primeiro lugar, gostaria de saber da competência de quem ousa interferir na obra dos mestres do paisagismo brasileiro. E depois, o que realmente será feito.
Temos informações de que haverá alterações drásticas do projeto original, e de que serão implantados quiosques e outros elementos dispensáveis naquele espaço público.
O que eu gostaria de ver neste momento seria o início de um criterioso trabalho de restauração, que deveria resultar no tombamento da praça, e que cada rio-branquense tivesse o orgulho de ter no coração da cidade um monumento arquitetônico desta magnitude, criado pelo escritório Burle Marx, com a assinatura do paisagista Haruyoschi Ono.
*Eduardo Vieira é arquiteto e urbanista*
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