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A história de Rosa, a catraieira que usou a força dos braços para criar dois filhos

Foto: Jardy Lopes
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Rosa Moraes, 48 anos, é a típica mãe que briga pelos filhos, que, ao longo, da vida, diariamente, saiu de casa para buscar o melhor para as crianças em casa. Essa poderia ser uma história comum como tantas outras mães batalhadoras e resilientes. O que diferencia Rosa das demais, é como ela leva o sustento para casa há longos 20 anos.


Rosa é a única mulher catraieira de Rio Branco. Uma atividade que já foi extremante importante para a mobilidade da capital acreana e que ainda resiste ao tempo.

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Foto: Jardy Lopes

O encontro da reportagem do ac24horas com a mulher forte e destemida aconteceu no seu “escritório” de trabalho, na catraia que fica no porto do bairro Aeroporto Velho. Com um sorriso no rosto e com o vigor de quem está acostumada a enfrentar, literalmente, nos braços as adversidades da vida, se espantou quando soube do motivo da nossa visita. “E minha história merece mesmo ser contada?”, indagou.
E como merece ser contada. Rosa, que tem dois filhos, um de 28 e outro de 24, sendo que um deles tem deficiência física, diz que se separou do pai dos meninos quando o mais novo tinha apenas 4 anos.


Nesta época, a catraia era muito usada e rendia um bom dinheiro. Um de seus irmãos trabalhava como catraieiro. Sem medo de desafio, conta que quando percebeu que podia faltar a comida para os filhos, não teve dúvida, falou com o irmão e disse que queria ser catraieira também.


“Eu nunca tive medo de trabalho e acho que a gente pode é fazer qualquer coisa. Eu disse que queria aprender a remar, consegui aprender e achei bom demais o serviço. Não tem esse negócio de serviço de homem e de mulher não, eu sempre disse que dava conta e em pouco tempo já estava atravessando esse rio com a catraia cheia e nunca tive nenhum acidente. Meus filhos cresceram comendo e vestindo daqui”, conta, orgulhosa.


Foto: Jardy Lopes

Não espere de Rosa lamentações sobre o trabalho. Mesmo sendo cansativa a travessia, ela faz questão de não reclamar, diz que não cansa e que tudo é uma questão de jeito e não de força. “Realmente não é fácil, se não souber conduzir a canoa vai parar lá em baixo, bem longe do porto. Todo mundo pensa que é força, mas não é. Tudo é uma questão de jeito, no começo eu tinha medo de não dar conta porque pensava que era muito pesado, mas descobri que o segredo é jeito, não tenho medo de homem no remo”, diz.


Atividade tradicional hoje é pouco rentável.

Foi como catraieira que Rosa sustentou os filhos nos últimos 20 anos. No entanto, a atividade que já foi tradicional, tem perdido a importância ao longo do tempo. Com a facilidade de mobilidade e a construção de pontes, a catraia é cada vez menos usada. Ela conta que o faturamento caiu muito. “Vinte anos atrás era bom demais, dava muito dinheiro. Eu lembro que nem remava o dia todo. Ia deixar menino na escola, fazia almoço e ainda conseguia levar um trocado bom pra casa, era um tempo bom demais”, revela.


Rosa afirma que hoje, em um dia de maior faturamento, ela consegue ganhar R$ 60. A travessia custa R$ 2 por pessoa. Como a canoa não é sua, metade do faturamento é repassada ao proprietário. “Hoje não é fácil como antigamente, se ganha muito pouco. Mas eu não reclamo não, não adianta, com o pouco que ganho, vou vivendo”, explica.


Comunidade confia no “taco”, ou melhor, nos remos de dona Rosa

Apesar da quantidade de pessoas que usam o serviço ter diminuído muito ao longo dos anos, existem moradores que todos os dias utilizam a catraia para atravessar o rio. Conhecida da comunidade, nem pense em duvidar da capacidade de dona Rosa.


Antônio Raimundo Souza, todos os dias é conduzido pela catraieira e conta está em ótimas mães. “Tem esse negócio não, a gente confia demais na Rosa, já estamos acostumados e quando é ela, a gente atravessa sem medo, inclusive com as crianças”, afirma.


Foto: Jardy Lopes

Apesar de dizer que não cansa com a travessia, Rosa explica que, durante o ano, o momento mais complicado é na época de chuvas, onde o Rio Acre está com muita água. Os balseiros tornam a travessia perigosa e é preciso atenção. “Quando o rio tá cheio é perigoso porque é muito pau que desce e as pessoas precisam ficar bem sentadas e a gente precisa ter muito cuidado na travessia. Já vi muitas vezes árvores inteiras descendo o rio e se não souber desviar, pode acontecer um acidente sério”, diz.


“Melhor presente para uma mãe é poder sustentar os filhos”

Rosa afirma que neste Dia das Mães não há presente melhor do que poder saber que conseguiu sustentar os filhos de forma honesta.
“Eu nunca reclamei, pra mim o mais importante sempre foi colocar comida na boca dos meus filhos. Não é fácil, um dos meus filhos é deficiente, mas sempre trabalhei de forma honesta para garantir que eles não passassem necessidade. Isso sim é que um presente bom de Dia das Mães”, conta.



Outras mulheres já trabalharam no local como catraieira, mas com a diminuição do fluxo, foram deixando a atividade. Rosa é a última mulher a “comandar” os remos de uma catraia pelas águas do Rio Acre na capital acreana.


O ac24horas conferiu o talento de dona Rosa nos remos e fez uma travessia de catraia pelo Rio Acre. Confira no vídeo abaixo.

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