Antes mesmo das chuvas no Rio Grande do Sul, o preço do arroz já vinha em forte alta nos últimos meses. Este ano, segundo dados divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE, o cereal ficou 7,21% mais caro. Em março e abril, as cotações chegaram a recuar – no mês passado, a queda foi de 1,93%.
Mas isso depois de sete meses seguidos de alta. Considerando o intervalo de um ano encerrado em abril, o cereal subiu 25,46% – bem acima da inflação no período, que foi de 3,69%.
E, após o alívio em março e abril, as cotações já começam a subir no atacado, como reflexo das chuvas no Rio Grande do Sul. Em redes sociais, há relatos de supermercados limitando a compra do produto em Minas Gerais, Espírito Santo e em alguns estados do Nordeste, diante de uma procura maior dos consumidores.
A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) afirmou que “não há risco iminente de desabastecimento de gêneros alimentícios” no país:
“A entidade está monitorando os produtos oriundos da região afetada, a exemplo do arroz, do leite, da carne suína e de frutas, e, juntamente com o governo, poderá adotar medidas adicionais, se necessário, para garantir que as famílias tenham acesso aos itens essenciais”, diz o comunicado da Abras.
O Rio Grande do Sul responde por 70% da produção de arroz no país. Boa parte da safra já havia sido colhida antes da tragédia climática. Mas o impacto das inundações sobre os armazéns e as dificuldades de escoar a produção do estado para o resto do país deve afetar os preços nos próximos meses.
Por isso, o governo Lula anunciou que iria importar emergencialmente, uma tonelada de arroz. A produção no país é muito ajustada ao seu consumo, em torno de 10 milhões de toneladas por ano. Ou seja, em situações normais, o Brasil quase não compra arroz do exterior.
André Almeida, gerente do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no IBGE, explica que o arroz vem subindo nos últimos meses tanto por conta do El Niño, que afetou a produção de alimentos no país, quanto por questões climáticas em outros países.
— A gente teve no segundo semestre do ano passado uma questão climática que afetou a Índia, uma região produtora de arroz. No ano passado, a Índia bloqueou todas as exportações do produto e isso acabou influenciando também o preço do arroz no mercado internacional. Então, tem a questão da produção interna, mas também tem esses outros fatores — afirma.
Almeida lembra que o Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz no país, e a recente tragédia no estado por conta do alto volume de chuvas pode acabar se refletindo na produção:
— Essas chuvas podem acabar impactando a produção desses produtos, mas como isso vai se refletir nos preços ao consumidor final a gente precisa aguardar para saber — pondera.
Antes das chuvas, a previsão era de uma safra de 7,4 milhões de toneladas de arroz no Rio Grande do Sul este ano. Segundo a consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio, o estado já havia colhido 78% da área plantada, ou seja, restava colher 1,6 milhão de toneladas de arroz.
“As tempestades deixaram as lavouras debaixo d’água, inviabilizando as atividades de campo. Além disso, algumas estradas estão interditadas, o que também dificulta o carregamento do cereal”, afirma a consultoria, em relatório.
Os preços do arroz já começam a subir no atacado. Segundo levantamento diário feito da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz do Cepea/USP, a saca de 50kg do arroz do tipo 1 no Rio Grande do Sul – que é a referência para a cotação nacional – estava em R$ 99,15 na média da semana de 1 a 5 de abril.
Nesta semana, entre os dias 6 e 9 de maio, o preço médio foi de R$ 107,36.
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