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A tragédia no RS e nossas responsabilidades compartilhadas

Rio Grande do Sul vive a maior enchente da sua história. Foto: Ricardo Stuckert /Internet

O Rio Grande do Sul vive uma grande tragédia. A perda de vidas humanas, o sacrifício de animais e os imensos prejuízos econômicos para as famílias e as empresas expõem uma dimensão de desastres com os quais o Brasil não está costumado. Aqui no Acre, anualmente, passamos pela temporada de alagações. Mais recentemente, passamos a enfrentar também secas severas e calorões extremos que tornam nossas vidas um inferno. Mas, nem de longe são fenômenos comparáveis ao que está acontecendo no extremo sul do país.


A situação dramática da maior parte do território do Rio Grande mobiliza o país inteiro, despertando nossos mais profundos sentimentos de empatia e compaixão. Como resultado, vemos uma poderosa onda de solidariedade, traduzida em doações e manifestações de apoio.


Neste momento, indiscutivelmente, a nação emite a mais bela onda de energias positivas e amor ao povo gaúcho, como há muito não se via neste dividido e radicalizado país.


A mobilização envolve também o necessário debate sobre como chegamos a isso. Afinal, todos querem saber porque o Sul está enfrentando ondas de chuvas tão intensas e devastadoras em tão pouco tempo. Mais ainda: querem saber se tamanho sofrimento e prejuízo poderiam ter sido evitados.


A ciência está nos dizendo que o desastre climático no Rio Grande do Sul tem estreita conexão com a ação humana sobre o meio ambiente. As mudanças em curso estão tornando eventos como enchentes, deslizamentos de terra e secas extremas cada vez mais frequentes e devastadores. Aqui no Acre temos um exemplo contundente. No município de Brasiléia, de 2010 para cá, o rio Acre vem batendo seguidos recordes de enchentes, revelando um padrão preocupante de intensificação das alagações, gerando cada vez mais sofrimento e prejuízos. A situação é tão radical que está obrigando a transferência do centro para as partes altas da cidade.


A verdade é que o desmatamento da Amazônia e a consequente perda de biodiversidade e da capacidade de controle do regime de chuvas pelas florestas têm um impacto direto no equilíbrio climático aqui da região, assim como da América do Sul e, tudo indica, do planeta como um todo.


A destruição das florestas tropicais não apenas reduz a capacidade de absorção de carbono, mas também altera os padrões de chuvas, contribuindo para o aumento das temperaturas e os desequilíbrios que estamos presenciando. Na natureza, tudo está interligado, são
interdependentes.


Diante dessa realidade preocupante, é fundamental repensarmos nossa posição em relação às questões ambientais, cobrando pela adoção de medidas urgentes para mitigar os impactos das mudanças climáticas. Isso inclui ações para combater o desmatamento e a perda de biodiversidade, reduzir as emissões de gases de efeito estufa e adotar práticas sustentáveis nos setores-chave da vida social, seja na dimensão econômica ou nas questões do cotidiano.


A Amazônia é a região de maior emissão de gases de efeito estuda no Brasil, como resultado direto do desmatamento e, principalmente, das queimadas. Somente por meio de um esforço conjunto e consciente poderemos criar as condições para alterar essa realidade. O que envolve articular ações de promoção do bem-estar das famílias que vivem na floresta e no meio rural em geral, aí incluídas as populações indígenas, promover fortes e contínuos investimentos em ciência e tecnologia, viabilizar modelos de produção sustentáveis nas agropecuárias e na exploração florestal e escalar a produção da bioeconomia baseada no agroextrativismo. O fundamental é diminuir a pressão sobre a floresta e permitir o estancamento da conversão de novas áreas florestadas em pastos. Será melhor ainda se tudo isso vier integrado com o desenvolvimento de uma certa capacidade industrial que agregue valor ao produto local, gerando ganhos de produtividade ao conjunto da economia acreana.


Sem isso, seguiremos presos ao velho dilema que contrapõe o progresso aos cuidados com a natureza – o que, por si só, é sinal do atraso profundo em que nos encontramos e de onde precisamos sair urgentemente. A ciência há décadas resolveu a questão. Caminhos para integrar desenvolvimento e cuidados ambientais estão disponíveis mundo afora, inclusive aqui. O tema segue na pauta das discussões do cotidiano por ignorância e má-fé, principalmente dos políticos que preferem tratá-lo no balaio de sabujices da guerra ideológica e eleitoral.


Neste momento de adversidade no Rio Grande do Sul, o verdadeiro espírito de solidariedade, empatia e compaixão dos brasileiros emerge com força renovada. A tragédia que assola o estado gaúcho não apenas desperta uma comoção nacional, mas também revela a essência humanitária que transcende fronteiras geográficas e diferenças culturais. Que sejamos invadidos por esses sentimentos a ponto de revermos a maneira como tratamos nossa morada comum, o belo planeta que Deus nos legou.