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A calculadora viciada e arte de ser poliglota

A decisão de Gladson Cameli de apresentar candidatura própria à Prefeitura de Rio Branco é um tijolo a mais na Torre de Babel em que se transformou o Progressistas na Capital. Com um detalhe: o que está em jogo não são definições para o próximo outubro. As somas e multiplicações de todas as calculadoras políticas das lideranças regionais só trazem “2026” como resultado.


Em nenhum momento, o que está sendo dito aqui é que foi uma decisão errada. Ela só veio tardiamente e refém dos fatos. O grande fantasma que permeia essa decisão guarda relação com os seguintes raciocínios: “como é que o partido do governador do Estado não terá candidatura própria na Capital?”; ou então: “não apresentar candidatura própria é demonstração de fragilidade do Progressistas e, por consequência, de Gladson Cameli”.


No cotidiano político, são percepções corretas, próprias de quem lida com a manutenção do jogo de poder. O problema é que, da forma como foi conduzido o processo no Progressistas, Alysson Bestene entra fragilizado demais na disputa.


Não há protagonismo do rapaz em nenhum momento. A impressão que fica no eleitorado que acompanha o noticiário político é de que a broca do dentista é mais ousada, vai mais fundo e fala mais alto do que os brios do moçoilo que conseguiu se emocionar diante de Jair Bolsonaro. Um caso raro (e em boa medida hilariante) na política nacional.


Talvez esteja neste fato uma maldade de quem tem o poder de decidir efetivamente no Progressistas. Pela demora e pela forma como foram conduzidas as decisões na sigla, Gladson Cameli efetivamente está preocupado com Alysson Bestene?


Pesquisas feitas por diversos institutos, do Acre ou fora dele, apontam que parte significativa do eleitorado sabe que Gladson responde a inquérito judicial por suspeita de corrupção no primeiro mandato à frente do Governo do Acre. Mesmo assim, está em segundo lugar nas intenções de voto para Senado em 2026. É esse desempenho e essa postura permissiva do eleitorado que chama atenção de Cameli. Pouca coisa a mais o interessa. Já foi dito aqui e novamente se frisa: o universo de Gladson se resume a ele envolto no centro de uma esfera espelhada. Para quem sempre tem a própria imagem como foco, um Alysson Bestene no meio do caminho é um detalhe.


Outra leitura possível é que a entrada efetiva de Alysson Bestene na disputa traz prejuízos mais expressivos para a campanha de Bocalom, calculada pelo padrinho político Marcio Bittar, outro cujos olhos só brilham pelo número “2026” e pelo que Bolsonaro deixou de herança no quarto onde pernoitou.


Saber se a polarização apresentada nas últimas pesquisas se consolidará nas próximas sondagens é algo que pode ser estratégico a Cameli. Porque o que estará sendo avaliado não é o poder de convencimento de Alysson. O que estará em jogo é a força da máquina do Estado, comandada por Gladson, como um aperitivo do que virá em 2026.


Com outro detalhe: não se pode creditar esse conturbado cenário no Progressistas exclusivamente ao perfil de Socorro Neri. Ela pode ser acostumada a comer em prato frio para tomar as decisões. No processo de expulsão de Bocalom, ela decidiu com a bile porque assim lhe foi permitido. Cumprindo os ritos partidários e construindo retóricas, ela foi dando ao Progressistas a conformação atual. No final do trecho, todos se entendem. Alguém precisa ser poliglota nessa história toda. E o povo? Para os poliglotas dos partidos, o povo “noves fora” é mudo.


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