O ginecologista e obstetra Jolcimar Jean Alecio é um dos profissionais mais conhecidos da população dos municípios da regional do Alto Acre, onde ele atua há muitos anos. E foi em Brasiléia que ele teve uma das maiores surpresas na profissão: foi ele quem diagnosticou a gravidez de gêmeas siamesas da jovem Alice Fernandes Brito Silva, de 18 anos, que ganhou repercussão no Acre nos últimos dias.
O diagnóstico foi feito por meio de exame de ultrassonografia logo após a gestante procurar o seu consultório. Ela já havia realizado outros exames, com outros profissionais, que não detectaram a condição. De acordo com Jean Alecio, já haviam passado as semanas ideais para a realização de ultrassom morfológico, que deve ser feito em semanas específicas. Então, foi realizado o ultrassom obstétrico convencional.
“Fiquei surpreso, pois como o exame é de interpretação, de início já percebi que algo não estava bem, e ao aprofundar a investigação, após alguns minutos, me dei conta que se tratava de fetos gêmeos, monicoriônicos e monoamnioticos (mesma placenta e bolsa única para ambos fetos)”, afirmou.
Após a constatação, o médico tomou a medida de explicar imediatamente ao casal a alteração identificada e dar o encaminhamento para que a paciente fizesse novos exames em Rio Branco.
“Sempre sou muito sincero com os pacientes. De imediato, chamei o casal e familiares que estavam presentes e expliquei sobre a alteração encontrada, e encaminhei para a maternidade Barbara Heliodora, para melhor avaliação dos fetos, também por serviço de cardiologia fetal”, informou.
O médico explica que casos como esse acontecem em gêmeos idênticos que são oriundos da divisão de um único óvulo fecundado, que se divide em dois embriões logo no início da gestação.
“Por isso sempre são idênticos e do mesmo sexo. Nesses casos não acontece a divisão completa do óvulo, e os embriões compartilham órgãos e estruturas. No caso diagnosticado, os fetos estão unidos pelo tórax, compartilhando coração e pulmões.
Ainda segundo Jean Alecio, existem duas ultrassonografias morfológicas que devem ser realizadas durante a gestação. Uma no primeiro trimestre (entre 10 e 14 semanas) e outra no segundo trimestre (entre 20 e 24 semanas).
“São importantes por proporcionar uma melhor qualidade nas imagens e por haver tabelas com medidas de estruturas fetais específicas para a respectiva idade. No caso citado, já havia passado das 25 semanas, não sendo mais possível realizar a ultrassonografia morfológica. Porém, mesmo assim foi possível encontrar as alterações para tal diagnóstico”, acrescentou.
Perguntado a respeito das possibilidades de separação das gêmeas após o nascimento, ele disse que em razão de haver o compartilhamento de órgãos vitais, o procedimento é considerado impossível, mas destacou a importância de uma avaliação por equipe multidisciplinar em centro mais avançado.
“Esses casos são considerados muito complexos devido a que os fetos compartilham órgãos vitais como coração e pulmão, sendo impossível a separação fetal. Porém, sempre requer avaliação de equipe multidisciplinar, em centros especializados, para definir sobre conduta e prognóstico”, pontuou.
Gêmeos siameses são raros – prevalência de um a cada 60 mil nascimentos. Em todo o Brasil, foram pouco mais de 500 registros nos últimos 11 anos. Existem vários tipos de gêmeos siameses, classificados de acordo com a parte do corpo pela qual estão unidos. Os mais comuns são os gêmeos torácicos (67% das ocorrências), que é o caso que foi diagnosticado em Brasiléia.
Consciente do grau de complexidade do seu caso, Alice Fernandes afirmou ao ac24horas estar confiante e cheia de fé na sobrevida das bebês, principalmente depois de ter conseguido, por meio da Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre), uma vaga no Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB).
“Estou me sentindo mais confiante, mais alegre, porque conseguimos e sabemos que lá teremos mais recursos, vai ser melhor para as minhas crianças, que vão ter mais chances. Estou bem feliz por ter conseguido essa vaga e estou crendo que vai dar tudo certo daqui para frente”, disse.
Após ser hospitalizada na maternidade Bárbara Heliodora e depois ficar sob acompanhamento na casa de uma prima, em Rio Branco, Alice viveu um período de aflição sem saber se conseguiria sair do estado. A boa notícia veio na última quinta-feira, 18. Ela viajará na próxima semana para a capital federal, acompanhada de sua mãe. Ela tem consulta obstétrica marcada para a próxima sexta-feira, dia 26 de abril.
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