O general Mauro Cesar Lourena Cid, pai do tenente-coronel Mauro Cid, usou a estrutura do escritório da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) em Miami para apoiar articulações golpistas e participar do acampamento no quartel-general do Exército contra a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, no fim do ano de 2022.
Na ocasião, o general Cid comandava o escritório da agência em Miami, por indicação do então presidente Jair Bolsonaro – conhecidos de longa data, eles foram contemporâneos na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) na década de 1970. Registros em vídeo obtidos com exclusividade pelo UOL mostram que o general Cid levou um funcionário da Apex para o acampamento no QG do Exército, em Brasília, no dia 3 de dezembro de 2022.
Nos dois vídeos obtidos pelo UOL, filmados por uma terceira pessoa, o general Cid e Michael Rinelli aparecem circulando no acampamento. O general gesticula e fala ao funcionário, mas não é possível ouvir o teor da conversa.
Os registros de viagem da agência indicam que o general Cid e esse funcionário, Michael Rinelli, diretor de investimentos da Apex Miami, viajaram de Miami para Brasília no período entre 26 de novembro e 11 de dezembro de 2022, a um custo aproximado de R$ 9.300 para os cofres da agência -no sistema de informações públicas não constam os gastos com as passagens aéreas, que são faturadas por meio de contrato com uma empresa terceirizada.
A justificativa oficial para a viagem deles de Miami a Brasília foi um evento de confraternização da agência realizado em dezembro de 2022, com a presença dos funcionários dos diversos escritórios da Apex.
No dia 3 de dezembro, o general convocou dois funcionários da Apex de Miami, que eram seus subordinados, para conhecer a área militar de Brasília, sem adiantar que iriam ao acampamento golpista. Quando chegaram lá, o general passou a circular pelo local e mostrar as instalações aos funcionários da agência.
A Apex não é um órgão estatal, mas funciona como uma pessoa jurídica de direito privado abastecida com recursos do sistema S. Por isso, é auditada pelo TCU (Tribunal de Contas da União) e tem que prestar contas à corte de contas. Em 2022, o orçamento da agência foi de R$ 1,3 bilhão.
Esse período da viagem do general Cid a Brasília coincide, de acordo com as investigações da Polícia Federal, com as discussões de uma minuta golpista pelo então presidente Jair Bolsonaro com a cúpula das Forças Armadas.
O celular do tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante-de-ordens de Jair Bolsonaro, tinha um arquivo de minuta golpista em 5 de novembro de 2022, e as pressões se intensificaram a partir daí. Uma reunião foi realizada no Palácio do Alvorada, em 7 de dezembro, para Bolsonaro apresentar uma minuta golpista aos chefes das Forças Armadas.
O general Mauro Lourena Cid é investigado no caso da venda, nos Estados Unidos, das joias recebidas por Jair Bolsonaro durante o período em que era presidente da República.
De acordo com o inquérito da PF, ele foi um dos responsáveis por negociar a venda dos itens em lojas em Miami e outras cidades nos Estados Unidos. O general Cid, entretanto, até o momento não foi citado nas investigações sobre a articulação de um plano de golpe pelo ex-presidente.
Seu filho, o tenente-coronel Mauro Cid, voltou a ser preso na semana passada após o vazamento de áudios nos quais dizia ter sofrido pressão em seu acordo de delação premiada assinado com a Polícia Federal e homologado pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. A PF suspeita que ele tenha omitido informações dos investigadores.
Ex-funcionário citou articulações golpistas
Além desses vídeos, um ex-funcionário demitido neste mês do escritório da Apex em Miami enviou uma carta à cúpula do órgão relatando que o general Cid usou a estrutura da Apex, como seus computadores e aparelhos eletrônicos, para realizar articulações golpistas com militares.
De acordo com essa carta, após ter sido demitido do cargo com a posse do presidente Lula, o general teria pedido ajuda aos funcionários da agência para apagar esses registros e continuou frequentando o escritório. O documento foi enviado em 7 de março por Cristiano Laux, que foi analista de inteligência de mercado no escritório de Miami durante a gestão do general.
Foi de conhecimento de gestores e alguns colaboradores que, no decorrer de 2022, o general Mauro Lourena Cid utilizou o escritório de Miami da Apex como base de articulação junto às lideranças militares nos movimentos antidemocráticos para evitar a posse do presidente Lula e destituição dos outros Poderes. O mesmo afirma em conversas nos corredores e cozinha da Apex que não haveria posse e se mostrava confiante em permanecer no cargo em Miami por um período mais longo, e mostrava seu celular, de propriedade da Apex, para colaboradores, onde continha mensagens e gravações com seus grupos da alta cúpula militar através do aplicativo WhatsApp
Cristiano Laux, ex-funcionário da Apex, em carta à cúpula do órgão
No documento, ele conta que o diretor Michael Rinelli afirmou ter sido procurado pelo general, no início de 2023, com um pedido de ajuda para apagar os dados de seus aparelhos eletrônicos para depois devolvê-los à Apex. De acordo com Laux, os documentos poderiam envolver o general Cid em tratativas golpistas.
Por isso, Mauro Lourena Cid teria comparecido ao escritório da Apex em março de 2023 para a “destruição de dados e arquivos no celular”, com a participação dos gestores que estavam no comando na ocasião.
Foram várias as ocasiões que testemunhei a presença do general no escritório após sua demissão nos meses de janeiro e fevereiro de 2023. Recordo que ele dizia que iria trazer o ‘presidente Bolsonaro’ para conhecer o escritório e equipe no período em que este esteve refugiado em Orlando
Cristiano Laux, ex-funcionário da Apex, em carta à cúpula do órgão
Ele afirmou ainda que, em uma dessas visitas, o general Mauro Lourena estava acompanhado do seu filho, o tenente-coronel Mauro Cid, e que os dois se reuniram a portas fechadas na antiga sala do general na Apex de Miami. “Inclusive lembro haver notado que tinham uma mala e o tenente-coronel carregava objetos”, disse na carta.
Outro lado
Procurada, a defesa do general Cid afirmou desconhecer o assunto e que não iria se manifestar.
Rinelli não retornou aos contatos.
Em nota, a Apex afirmou que o presidente da agência, Jorge Viana, participou de um evento nos Estados Unidos e tomou conhecimento de suspeitas de irregularidades na gestão do general Cid. Viana determinou a abertura de apuração interna sobre o caso.
“A caminho da reunião, em Washington, o presidente da Apex Brasil, Jorge Viana, visitou o escritório da Agência em Miami. Lá, tomou conhecimento de possíveis desvios de conduta na gestão do general Lourena Cid. Em seu retorno a Brasília, reuniu a diretoria executiva, que decidiu determinar rigorosa apuração interna sobre as informações. A Apex Brasil aguarda o resultado desse procedimento para tomar as providências que se fizerem necessárias. Da mesma forma, espera também as conclusões das investigações em curso conduzidas pela Polícia Federal. A Apex Brasil tem importante função no desenvolvimento e ampliação da participação nacional no fluxo global de comércio exterior e atração de investimentos para o brasil. E assim seguirá trabalhando”, diz a agência.
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