O dia 2 de abril foi estabelecido em 2007 pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, com o objetivo de difundir informações para a população sobre o transtorno e assim reduzir a discriminação e o preconceito que cercam as pessoas afetadas.
Levantamento divulgado no ano passado pelo CDC – Centro de Controle e Prevenção de Doenças, do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos – órgão de referência mundial para aferição de autismo, inclusive no Brasil – mostra que 1 em cada 36 crianças de 8 anos foram identificadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no ano de 2020.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que o Brasil tenha entre 2 e 4 milhões de pessoas com TEA. O número de casos diagnosticados no Brasil entre crianças de até 8 anos é considerado alarmante e justifica ações urgentes de políticas públicas voltadas para criação de centros de atendimentos, já que a maioria desses diagnósticos ocorrem em famílias de baixa renda.
Existem vários sintomas que podem significar um sinal de alerta para as famílias, como: dificuldade de manter contato visual e de socialização, atraso de fala, não conseguir apontar e nem seguir objetos com o olhar. Outros sinais são: andar na pontinha dos pés e estereotipias que são movimentos repetitivos. Toda e qualquer tipo de mudança no comportamento principalmente nos dois primeiros anos de vida deve ser investigado.
Casos tardios de autismo
Em sua página na internet, o defensor público federal André Naves, especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política, diz que o crescimento expressivo na quantidade de indivíduos diagnosticados com autismo no mundo, que hoje já representa cerca de 2% da população do planeta, traz à tona uma discussão importante: os casos de autismo estão aumentando ou os números atuais são reflexo de uma evolução no diagnóstico do transtorno, tanto em crianças quanto em adultos?
De acordo com Naves, pesquisas científicas demonstram que o autismo tem uma forte base genética, que pode chegar a mais de 90% de herdabilidade, e que nos últimos 20 anos, houve grande evolução no diagnóstico devido aos avanços das técnicas de sequenciamento. Mas ele pondera que no Brasil ainda há precariedade na adoção de políticas públicas que permitam o acompanhamento e o tratamento de todos os brasileiros nessas condições.
“É preciso investir em políticas públicas de Estado, que permaneçam mesmo com as mudanças de governo. Desde setembro passado, a atenção aos autistas consta na Política Nacional de Saúde das Pessoas com Deficiência (PNSPD). Mas apesar de avanços na legislação, é preciso que as leis e as iniciativas governamentais “saiam do papel” e atinjam, de fato, uma dimensão real de proteção e de inclusão”, afirma.
Por falta de um diagnóstico preciso, muitas pessoas só descobriram recentemente, na fase adulta, que têm TEA. Antes disso, percorreram diversos médicos em busca de tratamento para suas dificuldades. Algumas vezes, o diagnóstico só ocorreu quando o paciente decidiu buscar ajuda porque pretendia casar ou ter filhos.
Outras vezes, a descoberta veio por meio de um filho com TEA, quando o pai ou a mãe percebeu que tinha características e comportamentos parecidos, ainda que leves. Esse, inclusive, foi o caso da advogada Bárbara Moura Teles, atuante na área de direitos dos Autistas, mãe de uma criança com TEA e ela mesma, autista.
“Eu só descobri que era autista após ter recebido o diagnóstico de autismo de meu filho. É importante destacar que o TEA é definido pela ciência como uma condição neurológica genética. Isso significa que boa parte ou quase todos os autistas herdaram isso em seus genes, da carga genética de seus pais”, pontua Bárbara.
Henrique Vitorino, autor do livro “Manual do Infinito – Relatos de um autista adulto”, é outro que teve o diagnóstico tardio de autismo. “Sou um homem cisgênero, branco, de 32 anos. Fui diagnosticado autista somente aos 29 anos. O diagnóstico pode vir tarde, no entanto, o autismo nos acompanha desde sempre. Eu, particularmente, tenho muita dificuldade com imprevisto, mudança. Então, mesmo antes do meu diagnóstico formal, eu já percebia e falava dessas dificuldades”, afirma.
A boa notícia é que atualmente os casos de autismo estão sendo diagnosticados precocemente e com mais facilidade. Com o advento da internet, dos sites e redes sociais, o acesso à informação é bem maior e muitas pessoas que sempre se sentiram “deslocadas”, “sem ambiente”, “diferentes”, começaram a escutar e a ler sobre autismo e se identificaram. Hoje em dia, também, os profissionais têm um olhar mais aguçado para diagnosticar o TEA.
No Dia Mundial de Conscientização do Autismo, a importância do diagnóstico adequado, do acompanhamento especializado e da inclusão social das pessoas com TEA precisa ser reforçada. O diagnóstico não é simples. Não existe um biomarcador que aponte que alguém tem ou não tem autismo. Assim, é fundamental que neurologistas, pediatras e psiquiatras estejam cada vez mais preparados e atualizados para dar o diagnóstico com maior precisão e o mais cedo possível, a fim de garantir melhor qualidade de vida a essa parcela da população.
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