Com a água batendo no teto de milhares de habitações, comércios e órgãos públicos, expulsando moradores e causando perdas imensas de toda ordem, o Estado e os políticos rapidamente entraram em cena. Menos mal. No início da semana passada, cá estiveram dois ministros do Lula – Marina Silva (sempre mal-humorada) e Valdez Goes (sempre solícito) para ver a situação e viabilizar recursos de ajuda emergencial. Cercados de assessores e políticos, anunciaram a destinação (OH!!!) de 20 milhões de reais que imagino sejam para aquisição de alimentos, material de limpeza etc., posto que perante as necessidades reais são irrisórios.
Efetivamente (dinheiro novo), o que até agora se tem como medidas do governo federal foram essas articuladas pela bancada federal acreana inteira, liderada na oportunidade pelo Senador Allan Rick, que agendou reuniões e apresentou as demandas emergenciais. A bancada sabe que a solução mesma para a questão reside em projetos estruturantes complexos e de longo prazo. Alguns bate-paus do lulismo chegaram a reclamar que o Senador, por ser de oposição, não havia dado ao governo federal o devido crédito pela presteza, principalmente do Ministro Valdez Góes. É mentira, os vídeos comprovam a postura ética e leal do Senador Allan Rick, diferente, aliás, daquela de certo período em que o Lula era escondido para dar visibilidade ao chefe local, o que explica em parte suas contínuas derrotas no Acre.
Eu é que não aplaudo. O governo não fez mais do que o mínimo do mínimo que é atender a emergência vital de milhares de brasileiros em situação dramática quanto às suas necessidades básicas. Embora muitos políticos, inclusive sem mandato, tenham se postado na fila de apadrinhamento dos caraminguás e o “papai” Lula tenha sido incensado pelos seus militantes por sua “sensibilidade”, o certo é que na mesma data, ele, o Lula, fez festa e anunciou a destinação de 16,5 BILHÕES para os artistas rouaneristas. Mais de 800 vezes o que foi disponibilizado para o drama acreano serão gastos por Anitas e Pablos Vitares em projetos “culturais” que individualmente chegam a ultrapassar os 50 milhões de reais. Uma única turnê de um artista amigo pode levar 3 vezes mais grana do que aquela prometida pelo governo para o Acre. É claro que no final de cada espetáculo, o L estará garantido.
Certo como a subida das águas é a sua descida e os efeitos danosos na vida das pessoas, na saúde, no patrimônio, na infraestrutura urbana e rural, nas atividades econômicas, no funcionamento das repartições públicas, enfim, em tudo que nos diz respeito. Em situações com esta que vivemos, é comum que somente depois de alguns anos se recomponham completamente as condições de funcionamento normal da sociedade, mesmo assim, certos dramas se eternizam.
Mas, quando nem se passam os anos e ocorrem novas grandes enchentes, como é o caso atual? Percebamos, o que era fenômeno decenal transformou-se em ocorrência quase certa ano a ano, ou seja, a habitabilidade das zonas ribeirinhas no período das chuvas foi definitivamente inviabilizada pela realidade climática. Pesa nisto o fato de ser um evento de curta duração, ou seja, para 20 dias de inundação, 345 de normalidade. Cabe perguntar: Estariam os moradores dispostos a se retirarem definitivamente dessas áreas, ou preferem o risco e as consequências?
Está posto, então, um desafio complexo e importante para o Estado brasileiro. Creio, sem ser especialista em desenvolvimento urbano, que não se trata mais de uma questão a ser enfrentada somente ao nível estadual ou municipal, pois, contemplando uma solução definitiva, o volume de recursos necessários certamente está muito além de nossa capacidade.
Sem que ocupe espaço na mídia, dedicada ao drama urbano, é necessário considerar também os graves prejuízos na agricultura. Grande parte da produção local de hortifrutigranjeiros se dá em áreas de cotas muito baixas, próximas a rios e igarapés e foram fortemente impactadas. Os enormes prejuízos atestam a efetividade do setor (há muita área plantada) e, ao mesmo tempo, apresentam uma série de problemas a serem enfrentados: abandono de áreas; compensação de perdas dos produtores; reinvestimento; manejo de culturas etc., sem contar o acesso (dezenas de ramais e pontes destruídas).
Também no setor conhecido como agronegócio, as consequências foram muito significativas. A incidência pluviométrica sobre as plantações ocorreu em níveis inadequados e em momento inoportuno, prejudicando a colheita e, portanto, a própria atividade em extensas áreas. Chuvas em excesso no final do ciclo produtivo praticamente inviabilizam a cultura da soja, por exemplo, significando golpe fortíssimo para os agricultores que aos poucos vinham transformando o setor primário, visando a produção de grãos em grande escala. Os prejuízos, ainda não contabilizados, certamente serão de grande vulto.
Em vista de tudo isso, parece inegável que a situação do Acre frente às alterações climáticas, assim como o desenvolvimento de suas forças produtivas, exige um olhar urgente e objetivo do Governo Federal. Será frustrante que os ministros se contentem em acudir a emergência e voltem as costas para a realidade acreana. Pode-se dizer que “caiu a ficha”, não dá mais para ficar torcendo contra a próxima enchente que, dada a instabilidade climática, pode ser cada vez frequente e avassaladora. Não há mais chance para medidas paliativas, é necessário um grande projeto contemplando todas as cidades expostas à força dos nossos rios. Esperemos que em 2025 não estejamos repetindo o passado.
PS: Daqui em diante esta coluna (a mais visualizada no Acre em 2023) será publicada todas às segundas-feiras. Esperamos continuar justificando a honrosa atenção dos leitores.
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