Com sua maior porção localizada em uma grande curva do Rio Acre, nas grandes enchentes a cidade de Brasiléia é atacada pelo manancial em duas frentes – uma no estirão que faz limite com Epitaciolândia, onde está a ponte José Augusto de Araújo, também chamada de Ponte Metálica, e a outra na parte onde está o centro comercial, que se liga com Cobija, na Bolívia, pela ponte Wilson Pinheiro.
A localização de cerca de 70% da cidade faz com que o rio simplesmente “abrace” essa área nas enchentes de grandes proporções como foi a atual, maior da história, e a de 2015, que era a maior cota já atingida em Brasiléia e que, apesar de ter sido uma realidade dura para a população, foi considerada como uma “anormalidade” e não se acreditava em uma reedição em tão pouco tempo.
Na visita realizada pelos ministros do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, e Marina Silva, do Meio Ambiente, no começo desta semana, pela primeira vez as autoridades locais falaram publicamente em uma medida drástica, mas que é inegavelmente necessária, apesar de difícil: fazer uma realocação em massa de uma cidade, ou parte dela, dos locais alagáveis.
“A gente precisa colocar a pedra fundamental da cidade em uma parte alta, se não, daqui a 11 meses voltamos ao mesmo cenário. O poder público não tem condições de conviver com isso. Vamos fazer esse apelo ao presidente Lula para que a gente consiga avançar”, disse o governador do estado, Gladson Cameli, durante a agenda.
Para ele, essa medida dependeria de um planejamento envolvendo as três esferas de poder. “Isso deve ser feito dentro do conceito de normas e diálogos com participação do Congresso”, disse o gestor estadual em discurso afinado com o da prefeita, Fernanda Hassem, que em lágrimas disse não ser mais possível construir onde alaga.
“Não dá para construir mais casas onde alaga. Essa oportunidade é única, temos todos os poderes aqui. A prefeita não foge da responsabilidade, o governador também não. E com vocês ministros estão aqui vendo a situação de perto. Vamos trabalhar para mudarmos essa realidade a curto, médio e longo prazo”, afirmou a prefeita.
Na ocasião, a ministra Marina Silva, uma velha conhecedora das enchentes acreanas, disse que o governo federal já vem estudando medidas e planeja decretar emergência climática permanente em 1.038 municípios mapeados como mais vulneráveis aos efeitos dessas mudanças. Estão incluídas nesse cenário, Brasiléia e outras cidades acreanas atingidas por alagações.
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