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“Eu vi um menino correndo, eu vi o tempo, brincando ao redor do caminho daquele menino…”

Ao passar pelo Parque de Exposições avistei um gupo de garotos transformando o espaço que há alguns meses foi um heliponto, em “campo de futebol” e lembrei da música Força Estranha, composição de Caetano Veloso.


Enquanto chutam a bola, aquelas crianças que ainda não compreendem a amplitude do desastre que estamos vivendo, aproveitam o “tempo livre” e o espaço seguro para brincar enquanto esperam Deus dar bom tempo para que suas famílias possa voltar para seus lares.


A verdade é que vendo de perto a realidade de centenas de famílias acreanas, abrigadas naquele local, em casa de parentes e amigos e até dentro de suas casas inundadas, para proteger seus pertences, não posso deixar de observar que a força do nosso povo é, sem dúvidas, estranhamente admirável.


“Do nada” as águas de final de fevereiro surpreenderam, mais uma vez, nosso estado, provocando alagamentos em 17 cidades. As imagens compartilhadas nas redes sociais mostram um ambiente desolador e, mais uma vez, proporcionam um movimento de sinergia no trabalho realizado por parte do poder público, empresários, igrejas, deputados vereadores e candidatos.


Todos unidos para proporcionar pelo menos dignidade para os afetados pela enchente, mesmo que seja extremamente difícil suprir o mínimo dessas necessidades, e não é por falta de vontade ou trabalho, mas porque enquanto resolve-se o problema de mil famílias, os rios de todo o estado seguem enchendo e inundando as casas de mais duas mil.


E enquanto tem um exército de pessoas ajudando durante a enchente, os corações de quem teve sua vida devastada pelas águas já está ansioso pensando no pós-enchente, momento em que as perdas são contabilizadas, que o alívio de voltar pra casa encontra a tristeza de perceber que mais uma vez nós, seres humanos classificados como animais racionais, fomos penalizados por não cuidarmos da natureza. É no pós enchente que vem a aflição de ter a certeza de que daqui mais um ano, tudo poderá acontecer de novo.


E é nesse ponto que precisamos mudar!
Precisamos mudar a mentalidade da sociedade sobre a responsabilidade que temos com a conservação dos nossos rios e florestas.


Precisamos mudar o posicionamento e nos unirmos para ajudar após cada tragédia e começarmos a nos unir para evitá-las.


São necessários investimentos em estudos científicos, investimentos em infraestrutura, investimentos em restauração do que o homem degradou no meio ambiente. Tudo isso para proporcionar resolução definitiva, nem que seja em longo prazo, mas que nos dê esperanças de que daqui, cinco, dez ou quinze anos os alagamentos já não assolarão mais o forte povo acreano.


Daigleíne Cavalcante é jornalista e servidora pública.


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