O ex-prefeito de Cruzeiro do Sul, Vagner Sales, que é considerado uma das estrelas do MDB no Acre, foi o entrevistado no Bar do Vaz, programa de entrevista do jornalista Roberto Vaz, transmitido pelo ac24horas nesta quinta-feira, 29. O “Leão do Juruá”, como é mais conhecido, falou da conjuntura política do passado e das atualidades focadas nas eleições de 2024 e até mesmo 2026.
Fora de mandatos há 7 anos, Sales relembrou da sua última derrota política, a não reeleição da então deputada federal Jéssica Sales nas eleições de 2022. Tinhamos uma chapa fraca. Com Flaviano, Rocha e a Jessica não conseguimos o quociente eleitoral, tinhamos uma chapa fraca. Foi uma eleição atípica, da compra de voto, principalmente na disputa federal, onde as milícias, o narcotráfico, participaram, gastaram dinheiro público que parece que nossas autoridades não veem”, disse o ex-gestor. “Hoje se ganha uma eleição que tem dinheiro, quando se pode dar. É nomeaçào, é cargo provisório, é uma vergonha. Enquanto nossas autoridades não proibirem isso, vai ficar do mesmo jeito”, criticou.
O dirigente do MDB no Juruá afirmou que apesar da derrota da filha, ele e a mão, a deputada federal Antonia Sales, a ensinaram ser próxima da população e que nunca interferiu no mandato das duas. “Essa política de proximidade do representante com a população tá ficando mais distante, mais raro. Minha filha aprendeu a não fazer a política de longe. Isso me gratifica muito. Eu não posso pautar a minha filha, senão ela vai ficar refém do que eu vou dizer. Às vezes da experiência que eu tenho, ela me liga, mas nunca me interferi no mandato dela e no da Antonia”, disse.
Ele revelou também que não é dominado pelas mulheres da sua vida (Jéssica e Antonia), mas afirma que em casa ele é minoria. “Eu sou minoria lá em casa. A sempre discute bastante. Dentro da minha família tenho 54 anos de mandato. A gente tem essas discussões, às vezes discussões até mais rígidas, mas sempre chegamos no entendimento, quem ganha é a maioria”, pontuou.
Sobre as eleições de 2018, onde seu filho Fagner Sales foi candidato e perdeu para o candidato Zequinha Lima, atual prefeito de Cruzeiro do Sul, Vagner afirmou que ele aprendeu muito. “Eu acho que o Fagner é o mais politico de todos os Sales. O Fagner nao é uma Jéssica que fica rindo pra todo mundo, não tem o jeito da mãe. Ele é o Vagner Sales, ele é grosso, fala duro, e do meu jeito só se conquista a população com trabalho. Entao o Fagner não teve essa oportunidade de fazer o que eu fazia. Acabou a eleições, o Fagner tinha o melhor discurso. O Fagner foi vítima de um processo econômico implantado em Cruzeiro do Sul para nos derrotar. Nos tínhamos o governo, a prefeitura e Assembleia para nos derrotar. Diria que o Fagner está preparado para disputar qualquer eleição”, ressaltou.
Patriarca da Família Sales, Vagner revelou parte das contendas com a família Cameli no passado, mas que se orgulha que mesmo perseguido conseguiu vencer o poderio do PT no Juruá. “O PT me perseguiu muito. O PT nunca aceitou a derrota que eu impus a eles. Só eu e minha esposa em cima do palanque derrotamos todos eles em 2008. Derrotamos Lula, Tiao Viana, Jorge Viana, só nós conseguimos”, relembrou.
“Construí mais de 32 escolas. Isso é um feito que me enche de felicidade. Dobramos o número de matriculados de 6 mil para 12 mil. As obras que foram feitos por Zequinha e Ilderlei foram deixadas de emendas da Jessica. Na minha época, Cruzeiro é um canteiro de obras. Eu sou muito amigo do Gladson, ele é um filho pra mim. A gente prometeu antes de Orleir morrer que nunca mais a gente ia guerrear. Eu não vou brigar mais com o Gladson. Eu posso estar brabo com ele. O Gladson é aquele cara capaz de te pedir perdão e isso não tem preço”, disse.
Sales revelou ainda que apesar de não poder revelar os detalhes da conversa que teve com Orleir, disse apenas que pediu que ele cuidasse de Gladson com muito carinho. “O Gladson era querido, o sobrinho que ele tinha. Desde os 12 anos já trabalhava em campanha. O Pai dele [Eládio Cameli] é um dos homens mais ricos da Amazônia, o Gladson tem tudo que ele queira, o pai já ofereceu tudo para o Gladson sair da política, mas ele não sai”, disse.
Sobre denúncias com interesses polícias, Vagner afirmou que já sofreu muito com isso e que agora chegou a vez de Gladson. “Na verdade, o poder é muito cobiçado e tem pessoas que não tem medida para atingir as pessoas, para tomar o poder. Todas essas brigas politicas por trás tem grandes interesses empresariais, políticos. Eu acho que no governo do Orleir foi exatamente isso. Quando se tem um promotor e vereadores do PT, oposição, isso faz com que as coisas a gente faça mais certa. O Gladson ta sofrendo muito com isso, mas isso é a vida”, disse.
Sobre as eleições de 2024, Vagner revelou que foi ele que convidou Marcus Alexandre e fez com o que o presidente nacional do partido, o deputado federal Baleia Rossi, o convidasse para a sigla. O ex-prefeito disse ainda que Marcus foi para o MDB contrariando Jorge Viana.”Eu fui na Casa do Marcus Alexandre e quando eu cheguei lá a primeira pessoa que eu vi foi nos olhos dela, foi a mãe dele, me deu um abraço e começou a falar de política de Ribeirão Preto, do Baleia Rossi, que tinha militado no MDB. Eu disse então tô em casa, sentei com o Marcus, tivemos uma conversa aprumada e acabei que convidando ele para ir para o MDB. Era ele que tinha que escolher. O Partido do Petecão tava na jogada. Eu que sou macaco velho do Seringal, liguei para o Baleia Rossi ligar para o Marcus. Ele ligou para ele e isso colou. Depois teve outras conversas e o Marcus tomou a decisão. O Jorge Viana não queria que o Marcus não saísse do PT e se fosse, que fosse para o PSB. A Política tá muito dinâmica. Ele cansou de escutar as pessoas falando que não votaria no PT nas ruas”, disse.
“O Marcus Alexandre tem vida própria. O PT vai está com o MDB. Alguns membros vão nos ajudar. Que venha para cá. É o MDB que vai comandar todo o processo. Esse negócio que as pessoas falam, esse negócio de taxar hoje com Marcus Alexandre que somos da esquerda, que fizemos um acordo. Acordo coisa nenhuma. O processo Politico nos levou a isso, a ter um candidato preparado e respeitado. O que é esquerda e direita nesse Estado?. Todos que acusam o Marcus já foram da Frente Popular”, disse.
Sales ainda criticou o prefeito Tião Bocalom. “Prefeitura não é banco para guardar dinheiro no cofre da prefeitura quando a saúde não funciona, quando a cidade tá destruída. O Bocalom tá pior do que o PT, é só endividando a cidade. Cidade toda esburacada, cada dia fica pior. Tá aí a alagação nos meios de comunicação, a população reclamando que não tem barraca para eles ficarem. Se esse governo municipal tratasse os alagados e tivesse investido já como investiu no carnaval, tivesse sido melhor. Faltou planejamento. Todo ano tem alagação”, alfinetou.
Sobre a situação do senador Sérgio Petecão, que abriu mão de apoiar Marcus para apoiar o candidato do governo a prefeitura, Alysson Bestene, Vagner acha que ele trocou o certo pelo duvidoso. “Eu acho que não se pode subestimar o Petecão. O Petecão deixou de ter uma coisa certa para ficar na hipótese da duvidosa. Nós chegamos para o Petecão, vem pra cá. Você vai ser o nosso candidato a senador. A gente ofereceu muito mais do que o Petecão ta tendo com o Alysson. Acho que ele se equivocou. Estou trabalhando para isso mude ao nível de Cruzeiro que possa surtir efeito na capital”, frisou.
Salles ainda pontuou que as eleições deste ano tem o pano de fundo para 2026 e analisou a situação complicada que está a disputa para o governo. “Essa eleição municipal está projetada para 2026, mas nós já temos dois candidatos a governador, nós temos a Mailza e o Alan. Agora o que não tô entendendo o PP que tem candidato a governador e o Alan que é candidato a governador, se juntam. Eles estão deixando a possibilidade de deixar uma outra via para fazer a diferença. O MDB chega fortalecido nessa abertura”, disse.
Sobre o retorno de sua filha Jéssica Sales a política com as eleições, Vagner afirma que Cruzeiro pede por ela. “Cruzeiro do Sul decidiu pela candidatura da Jéssica. Ela deve tá vindo para esses dias. Ela falou para mim ‘quero que você chame a população para fazer um grande encontro para ouvir deles para saber se me querem como prefeita’. Não tenho dúvidas que vai ter umas 10 mil pessoas. Eu acho que ela é muito forte. O Povo ficou com muito sentimento de perder ela como deputada”, destacou.
Ao final da conversa com Vaz, Sales afirmou que no caso da operação Ptolomeu, Gladson chega ao fim do governo sem problemas e que acredita que uma saída dele do Palácio prejudicaria o Acre. “Gladson chega no final de mandato. Eu acho que uma saída agora é muito prejudicial para o Estado. Nós precisamos ter uma definição sobre isso. A equipe precisa disso, até porque o secretariado do Gladson é muito ruim. Eu fiz uma baita equipe em Cruzeiro do Sul, se você vê o meu pessoal que trabalha com o Gladson são bons, que são qualificados, que gostam de trabalhar. Eu acho que o Gladson se salvando disso [denuncias], mas tem que bater na mesa, tem que cobrar e não deixar ninguém falar por ele. Ninguém repassa poder, o governo é ele”, finalizou.
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