Que Bolsonaro será preso, até o porcelanato dos banheiros do STF já sabe. A questão agora é o time, ou seja, o tempo necessário para o sistema de justiça proceder com seus rituais. A prisão do “mito” da extrema-direita emitirá um importante sinal para o país: mesmo sendo este o “país dos espertos”, até mesmo aqui esperteza tem limites.
Bolsonaro é o líder de um grande contingente de brasileiros que se sentem excluídos do “sistema” e humilhados pela classe média intelectualizada. Ao lado desses, amealha seguidores identificados com a pauta ultraliberal do “estado mínimo” e da “meritocracia”, segmento social formado por uma juventude de classe média que, nos anos 2010, cresceu recebendo doses cavalares de antipetismo. É, ainda, referência populista de certo extrato do mundo evangélico que reduz a mensagem cristã à perseguição aos gays e aos defensores do aborto.
No movimento político que o levou à presidência do país, Bolsonaro foi calibrando a voz e esgrimindo pautas, esquivando divergências e empurrando contradições para a frente, num jogo de espertezas e malandragens bem-sucedidas, no que foi decisivamente beneficiado pela emergência do universo paralelo da internet e das redes sociais.
Outra característica típica de sua ”esperteza” é a de sempre encontrar culpados, de jogar a responsabilidade para outros. Foi assim na pandemia, na propina das vacinas, na fraude com o cartão de vacinação, no caso das joias sauditas, no ouro do FNDE, enfim, sempre tem um culpado de plantão.
Desta vez parece que não vai rolar. A PF o flagrou comandando pessoalmente o motim do golpe. As digitais dele próprio estão nas provas. Ao que tudo indica, o processo que apura os responsáveis pelo terrorismo praticado contra as instituições do Estado brasileiro em oito de janeiro de 2023, finalmente encontrou o seu líder.
Mas, se você tem dúvidas que o objetivo daquele levante era impor um golpe institucional que retirasse Lula da presidência e devolvesse a direção do país a Bolsonaro, diretamente ou via uma “nova eleição”, pergunte às centenas de acreanos que acamparam em frente ao quartel do 61° BIS, o que esperavam conseguir com tamanho sacrifício pessoal. Certeza que não estavam ali para apreciar o tempo nas infernais noites de nosso inverno amazônico.
Um desses, um “menos esperto” e sem papas na língua, certamente diria que estavam aí na esperança de convencer o exército que “patriotas” os apoiariam numa intentona golpista que devolvesse a presidência ao “mito” e prendesse Alexandre de Moraes. É fato.
Parece que desta vez o líder da extrema-direita brasileira não conseguirá esquivar-se da responsabilidade. De nada adiantará apontar para Mauro Cid, o ajudantes-de-ordens, ou para Heleno, o general. Seu julgamento pelo sistema de justiça é inevitável. Afinal, no Brasil, como deve ser nas democracias, é crime organizar levantes e golpes contra as instituições e a normalidade democrática.
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