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Sua majestade o folião, as organizações e o poder público

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Da redação ac24horas

É preciso reconhecer. É um gesto de civilidade, até: o Carnaval 2024 foi um sucesso por aqui. No Acre inteiro. Para quem gosta de relacionar a festa com a questão da violência, pode se esbaldar com os seguintes números: cinco noites de folia e 45 ocorrências policiais. Ressalte-se: em todo Acre. Um feito desses, talvez só nos tempos de Juvenal Antunes enquanto o poeta fazia elogios à preguiça. Para quem gosta da retórica “empreendedora”, tem cálculo para todos os gostos, embora com metodologias nada confiáveis.


De um jeito ou outro, vendas de saltenhas, refrigerantes, cervejas, cachaças, sanduíches e tantas outras sortes de exagero, como todo carnaval exige, foram aquecidas, seja ao embalo do Neguinho da Beija Flor, seja às diabruras do “traficante do Amor”, Wanderley Andrade. Mas há fatores que extrapolam, em muito, o ambiente de organização que explicam essa tranquilidade.


Primeiro é preciso ressaltar o espírito do folião. É dele a maior parcela de responsabilidade pelo sucesso da festa por aqui. Se o brincante vier com o espírito bélico, não há organização nipônica que segure a agressividade. Então, só para reforçar: o que quer que tenha sido definido no nível organizacional, o folião quis brincar Carnaval, do jeito que o seu bolso e o seu entusiasmo permitiram.


Segundo aspecto, em se tratando da Capital: é preciso ressaltar o trabalho em parceria da Polícia Militar do Acre com o programa Rio Branco Mais Segura. A informação de que as câmeras registraram e identificaram muitos criminosos no centro da cidade ao longo do ano desestimulou muitos malandros a virem ao Centro estragar a festa alheia. Durante os meses que antecederam a festa, nos programas policiais, ficaram nítidos a eficácia e o acerto do investimento. É preciso, no entanto, ampliá-lo.


As prefeituras no interior também fizeram o seu bocado e o folião, mais uma vez, soube responder. As causas dessa postura de quem gosta de carnaval ter sido tão “tranquila” por aqui mereceria alguma análise mais meticulosa: pouco dinheiro? Desemprego? Desestímulo? Talvez.


Houve brigas? Claro que houve. Até mesmo no final do bem sucedido domingo do Carnaval no Tucumã, houve problemas: uma briga generalizada. Lamentável. E no São Francisco a PM também teve que operar para conter alguns meninos mais entusiasmados. Mas exigir que em cinco dias de festa, movida a álcool, pouca roupa e muita energia não tenha um único quiprocó seria demais.


Ninguém pode desprezar também a relação entre a festa de Carnaval e a política. É bem verdade que assessores muito entusiasmados acabam inflacionando os louros ao chefe maior. Não falha nunca. Esses assessores, aliás, são um perigo para um gestor mais cauteloso em separar o “oba oba” de uma festa com o desempenho da gestão que guarda relação com coisas muito mais graves a serem resolvidas.


Os mais entusiasmados, inclusive, elaboram uma espécie de disputa para ver quem teve maior público, quem fez mais gracejos, quem elaborou melhor estratégia disto ou daquilo, quem falou mais bonito. São formas de interpretar a realidade; são formas de ver a cena; são formas que acabam expondo o que são as prioridades para este ou aquele administrador.
Retomando o raciocínio que abre este editorial: é preciso reconhecer o sucesso da festa por aqui. Sobretudo depois de pandemia e silêncios impostos por uma doença mortal aos nossos fevereiros sagrados. Necessário também se ressaltar, mais uma vez, a importância do poder público na cena econômica local. No Acre, até a folia é quase uma decisão exclusiva dos cofres oficiais. Não fosse isso… seria difícil manter as coisas com tanto brilho. Não é uma receita tipicamente acreana. Até em carnavais famosos, se não houver participação do poder público, a coisa não samba a contento.


A receita é continuar pelejando pela cultura da paz e trabalhar para que o próximo carnaval seja tão alegre e festivo quanto foi o deste ano. Ver idosos e crianças atando as duas pontas da vida, embalados pela folia e em espaços públicos é sempre bonito e necessário.


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