Falar de acesso à água tratada em Rio Branco é preciso perceber o processo dividido em quatro etapas: captação, tratamento, reservamento e distribuição. Nessas quatro fases, tudo no Saerb precisa mudar radicalmente. Os instrumentos, a infraestrutura está completamente sucateada. São mecanismos com quase 30 anos de uso e os aparelhos construídos mais recentemente não “dialogam” com a estrutura antiga de forma eficaz.
Captação_ “Imagine o leitor que tem uma bomba d’água em casa, que ele usa duas vezes por dia, mais ou menos. Uma bomba dessa com quatro, cinco anos começa a apresentar problemas, não é? Agora imagine bombas com mais de 23 anos, ligadas 24 horas por dia! É mais ou menos esse o cenário na captação”, relata o diretor-presidente do Saerb, Enoque Pereira. “Nós estamos adquirindo dois motores-bomba das melhores marcas do mundo em operação no mercado”.
Tratamento_ Rio Branco, uma cidade com 364.756 habitantes, que concentra 40,22% da população de todo Estado, tem duas estações de tratamento de água. A ETA 1 possui uma capacidade de produção de 600 litros por segundo. A ETA 2 de aproximadamente 1000 litros por segundo. Para se conseguir chegar à alcançar a meta de universalização dos serviços de acesso à água tratada a 99% da população ou aos serviços de coleta e tratamento de esgoto a 90% dos moradores da Capital até 2033, será preciso radicalizar a capacidade de investimento do Saerb.
“Por isso, será estratégico, será fundamental a aprovação do empréstimo de cento e vinte milhões de reais que pleiteamos ano passado, mas a Câmara de Vereadores reprovou”, lamenta o diretor Pereira. “Com a retomada dos trabalhos no Legislativo, precisamos retomar esse ponto da agenda. É fundamental para termos condições de investir na política de saneamento”.
As articulações políticas estão sendo realizadas pela assessoria do prefeito. O empréstimo deve ser recolocado na agenda do parlamento. Ao menos, essa é a vontade da direção do Saerb.
Mas não foi confirmada pelo presidente da Câmara de Vereadores, Raimundo Neném (PSB). O Jonathan Santiago [secretário de Gestão Administrativa e principal interlocutor do Gabinete do Prefeito na Câmara de Vereadores] falou que eles não pretendem mais mandar esse projeto de cento e vinte milhões de saneamento básico, afirmou o presidente Neném. “Foi o que ele me passou na semana passada. Estamos aguardando”.
Procurado, o secretário Jonathan Santiago, da Secretaria de Gestão Administrativa de Rio Branco, não confirmou a negativa de reenvio. Lacônico, disse apenas que o projeto “está em análise”
Fontes ligadas à própria Prefeitura de Rio Branco garantem que o prefeito Bocalom não desistiu do empréstimo. “Jamais”, assegurou um assessor. “É estratégico”. Sem esse recurso, a Prefeitura de Rio Branco não terá condições de aumentar a capacidade de investimento.
Nesse aspecto, o prefeito não tem apoio político como gostaria já que parte significativa de parlamentares federais e apoiadores da rotina da gestão são simpáticos à tese da privatização.
“Se a privatização do sistema fosse uma alternativa eficaz, teria dado certo em Manaus, por exemplo, onde o sistema foi privatizado há vinte e três anos”, compara Enoque Pereira, do Saerb. “Não resolveu o problema e ficou ainda mais caro”.
Reservação_ A palavra é feia. Mas é usada rotineiramente na gramática dos técnicos em saneamento. Popularmente, é possível chamar de “armazenamento de água”. Essa é a etapa “menina dos olhos” de qualquer gestão. Atualmente, o Saerb consegue emplacar um tempo de reservação de 6h20min. É um desempenho ruim: justifica muitas críticas que o prefeito recebe nos bairros. É um dos gargalos que explica a falta d’água na casa do morador.
A Prefeitura de Rio Branco tem que, praticamente, multiplicar por três esse tempo de armazenamento. São necessários construir mais sete reservatórios para se chegar a 18 horas. No mínimo. Caso queira aumentar o tempo de reservação para 24 horas, é preciso ampliar ainda mais o número de reservatórios.
Esse seria o melhor cenário: comuns em cidades até menores que Rio Branco, mas que o cidadão ao ligar a torneira tem água à disposição, sem precisar de ter sequer caixa d’água em casa para armazenamento.
O desperdício é um deles. O Saerb divide esse fator (desperdício) em dois grupos: “desperdício aparente” e “desperdício faturado”. O aparente é aquele que também gera muitas críticas à gestão: é o que rende vídeos nos programas de televisão e indignações de toda ordem nas redes sociais.
“Esse desperdício nós precisamos também da ajuda da população. Precisamos ser informados. Onde há vazamento e nós somos informados fazemos todo o esforço possível para estar no local, no máximo no dia seguinte”, explica Enoque Pereira. “Agora se o morador fala que um determinado vazamento existe há dois meses, três meses e não nos avisa é ruim para todos. É preciso avisar”.
O “desperdício faturado” inclui falhas históricas da Prefeitura de Rio Branco. “Esse desperdício é quando não está contabilizando o que o usuário utiliza efetivamente”, lamenta o diretor.
Esse tipo de desperdício acabou criando uma cultura na população de Rio Branco tão consolidada que criar um novo padrão de consumo de água vai gerar uma consequência na seara política. No dia que se estabelecer uma política de distribuição de hidrômetros instalados; de se cobrar do usuário o tanto de água que ele efetivamente usou, o susto na fatura será grande. E o gestor precisa estar preparado para o impacto. É preciso criar uma nova cultura; é preciso educar o usuário.
A gestão de Bocalom recebeu o Saerb tendo 29 mil hidrômetros instalados. O próprio Saerb subestima em 80 mil “economias” (usuários) atualmente na cidade.
O diagnóstico do Saneamento Básico na Capital está mapeado. O que falta é recurso para investimento.